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A icônica máscara de Tutancâmon era destinada a uma mulher?

Detalhes deixados na tumba do faraó levaram a especulação de que o sepultamento não fora originalmente preparado para ele

Por Claire Isabella Gilmour, para The Conversation*
Atualizado em 3 dez 2024, 18h14 - Publicado em 3 dez 2024, 17h19

Desde a descoberta da tumba de Tutancâmon no Vale dos Reis, no Egito, há mais de 100 anos, o conteúdo foi examinado inúmeras vezes. Mas, novos detalhes continuam a surpreender os arqueólogos.

Recentemente, uma equipe da Universidade de York (Inglaterra) investigou as orelhas furadas da máscara mortuária de Tutancâmon. Esta é uma característica que, segundo os pesquisadores, era geralmente reservada para realeza feminina ou jovem.

Tutancâmon nasceu por volta de 1341 a.C. – uma época incomum na história do Egito Antigo. Seu pai, o chamado faraó herege Aquenáton, e sua madrasta, a famosa rainha Nefertiti, governavam na nova cidade no Egito central, Akhetaton (atual Amarna). Lá, eles elevaram o novo deus do estado, o deus do sol Aton, acima de todos os outros.

As mudanças resultantes no protocolo religioso significaram que o poder foi retirado dos sacerdotes de alto escalão do deus supremo Amon, junto com o controle político que eles estavam acostumados a ter. Após a morte de Aquenáton, os eventos são um tanto obscuros, embora muitos estudiosos acreditem que Nefertiti pode ter continuado a governar por direito.

O governo de Tutancâmon foi breve, como sua vida. Ele tornou-se faraó aos nove anos de idade e morreu quando tinha cerca de 18 ou 19 anos. Durante esse período, levou a corte de volta às capitais tradicionais de Tebas e Mênfis e restabeleceu Amon e os sacerdotes. Essas mudanças significam que as discussões e conclusões sobre o período de Amarna (1353-1322 a.C.) – que foi o período durante o qual Tutancâmon e seu pai governaram – não são simples.

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Equipamento da tumba real

O local de descanso de Tutancâmon, no Vale dos Reis, é relativamente pequeno. Isso levou à especulação de que era originalmente destinado a uma nobre, rainha ou princesa.

A crença antiga de que Tutancâmon morreu repentinamente e teve que ser enterrado às pressas responde pela maioria das ideias sobre sua tumba e os respectivos equipamentos. Isso também foi usado para explicar por que tanto material de outros membros da realeza e nobres foi reutilizado.

Porém, Aidan Dodson, professor de Egiptologia e autor de vários livros sobre o período de Amarna, apresenta um argumento ligeiramente diferente. Neferneferuré, uma das filhas de Aquenáton, nunca recebeu um enterro real. Portanto, é provável que os objetos dela tenham sido reaproveitados para Tutancâmon no início de seu reinado. Significaria, então, que o equipamento funerário do sepultamento dele já estava essencialmente concluído quando ocorreu sua morte precoce, em vez de ter sido montado às pressas.

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O túmulo real de Tutancâmon, provavelmente, ainda estava incompleto. Por isso, ele teria recebido o jazigo já existente e que havia sido destinado a uma nobre ou realeza menor.

A reutilização de equipamentos de tumbas era comum neste período, incluindo caixões e jazigos, então o fato em si não é estranho. Em 2015, o egiptólogo Nicholas Reeves argumentou que esses objetos provavelmente incluíam a máscara mortuária de ouro do rei. Ele se baseia no fato de que a máscara é feita de duas partes.

Agora, a equipe da Universidade de York está sugerindo que o rosto original da máscara foi removido e substituído, mas as orelhas “femininas” foram deixadas intactas.

Quais são as implicações?

Os estudiosos da Universidade de York não são os primeiros a propor que as orelhas furadas na máscara de Tutancâmon são significativas.

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O local original do sepultamento de Nefertiti ainda não foi descoberto, embora uma múmia que pode ser a rainha talvez tenha sido localizada. Em 2015, Reeves cogitou que ela estaria enterrada atrás de uma parede da tumba de Tutancâmon. Mas, investigações de sensoriamento remoto derrubaram essas alegações.

Quanto à questão da máscara ter sido reaproveitada, uma análise feita pelo especialista em restauro e conservação de metais Christian Eckmann, em 2015, demonstrou que o fato de ela ser composta de duas partes não permite conclusões específicas porque essa era, na verdade, a maneira normal como tais máscaras eram feitas. Eckmann não encontrou nenhum vestígio de que o rosto tivesse sido substituído.

As múmias de Tutancâmon e de outros reis ainda exibem orelhas furadas, então a representação dos piercings em retratos como a máscara de ouro não deve ser nenhuma surpresa.

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Portanto, acredito que não há base real para as propostas da equipe de York, no que diz respeito aos piercings ou qualquer significado para a história da máscara. No entanto, a discussão das características da máscara prova que, mais de 100 anos após a redescoberta de Tutancâmon, a vida após a morte do jovem rei continua a inspirar a imaginação e a erudição do público.

Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.

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