Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

A relevância das mulheres na Nasa

A histórica missão que juntou a agência e a iniciativa privada ilumina uma excelente novidade: a crescente participação feminina em viagens ao cosmo

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 14h21 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Não houve, naturalmente, a comoção da pomposa e ensaiada frase de Neil Armstrong, ao anunciar que dera “um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade”, ao pisar em solo lunar naquele eterno 20 de julho de 1969. Mas no domingo 31 de maio de 2020, às 11h16, horário de Brasília, quando os astronautas americanos Douglas Hurley e Robert Behnken deixaram a cápsula Crew Dragon e entraram na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), a 400 quilômetros da Terra, houve ondas de entusiasmo. Foi a primeira e histórica parceria entre a Nasa e a iniciativa privada, por meio da SpaceX, do bilionário sul-­africano Elon Musk, atalho para a inauguração de uma nova era de exploração espacial. Nas redes sociais brotaram brincadeiras em torno do sorriso dos dois cosmonautas, que estariam dando adeus à pandemia de Covid-19, ao surto de racismo e de protestos nos Estados Unidos, adeus a tanta coisa de ruim que anda acontecendo aqui embaixo. “O acoplamento está completo”, o aviso de Hurley, transmitido pela internet, soou como senha de alívio.

    Sim, as coisas não andam nada bem no planeta (redondo, sim!) que se vê das escotilhas da ISS, mas há extraordinárias mudanças que precisam ser celebradas — e, sobretudo, uma revolução dentro da própria Nasa, afeita a mostrar como o mundo mudou, para melhor, desde que Armstrong caminhou em câmera lenta. A novidade: o programa espacial, que sempre foi maciçamente masculino, agora também é das mulheres.

    DOUG-HURLEY-BOB-BEHNKEN-SPACEX.jpeg
    SORRISO - A dupla de astronautas prestes a acoplar: “Adeus, Covid-19” (SpaceX/.)

    Douglas e Robert, os dois tripulantes da Crew Dragon, entraram em órbita porque estavam na fila, era a vez deles. Mas a missão poderia ter sido realizada pela engenheira mecânica Karen Nyberg e pela oceanógrafa Megan McArthur, ambas astronautas da Nasa — embora Karen tenha se aposentado neste ano. Karen é casada com Douglas e Megan, com Robert. O quarteto se conheceu nos corredores da agência americana, terreno cada vez mais igualitário, menos machista. A estatística ajuda a entender a virada: de 1959 a 1969, 100% das pessoas formadas pelo curso para astronautas da Nasa eram homens. Em 2017, o índice caiu para 55%. Vai longe, portanto, o tempo em que uma personagem popular como Jeannie, do seriado Jeannie É um Gênio, de 1965, se insinuava para o patrão astronauta, o major Nelson, chamando-o insistentemente de “meu amo”. Ficou para trás a figura clássica, hoje deslocada, da mulher de astronauta, a quem bastava estar ao lado do marido em eventos sociais, em paradas militares, em visita à Casa Branca. Não teria espaço o comentário de Buzz Aldrin, um dos três heróis da Apolo 11, a respeito de sua companheira, Joan, morta em 2015: “O futuro lembrará de Joan Archer Aldrin como uma mãe e mulher de fala mansa, que criou três filhos bem-comportados”.

    ASSINE VEJA

    Os riscos da escalada de tensão política para a democracia
    Os riscos da escalada de tensão política para a democracia Leia nesta edição: como a crise fragiliza as instituições, os exemplos dos países que começam a sair do isolamento e a batalha judicial da família Weintraub ()
    Clique e Assine
    Continua após a publicidade

    São mães, têm filhos — mas fala mansa, não. No ano passado, a americana Christina Koch bateu o recorde feminino de permanência na ISS, e só retornou depois de 328 dias (a título de comparação, a turma de Musk deve ficar no máximo 120 dias em órbita). O governo americano aposta parte de suas fichas no programa Artemis, que promete pôr a primeira mulher na Lua até 2024. Do ponto de vista da igualdade de gêneros não é, ressalve-se, a vitória final e definitiva, longe disso. Somados todos os cosmonautas que foram ao espaço, apenas 11,5% são mulheres. Na Nasa, somente um terço dos funcionários é do sexo feminino. Há, portanto, uma estrada a percorrer — e são muitas as pedras no meio do caminho, algumas insólitas, quase inacreditáveis.

    BUZZ-ALDRIN—FAMILIA-1967.jpg
    TRADIÇÃO - Buzz Aldrin com a mulher e os filhos: “fala mansa” (NASA/.)

    Os engenheiros da Nasa descobriram, apenas muito recentemente, que todos os estudos de uniformes espaciais tinham sido feitos com base em altura, musculatura e metabolismo de homens, em mais de setenta anos de pesquisas. As mulheres nunca foram incluídas, e corre-se, agora, atrás do tempo perdido. Dentro dos trajes espaciais, os astronautas usam roupa de refrigeração e ventilação líquida. São metros e mais metros de tubos que bombeiam água, de modo a resfriar o organismo. Problema: homens suam mais do que as mulheres e em partes diferentes do corpo. E a Nasa descobriu, talvez tardiamente, mas sempre em tempo, que seria preciso inaugurar uma nova linha de investigação que contemplasse, além da preparação em terra, os efeitos da falta de gravidade na dinâmica feminina — a régua foi sempre masculina. Convém, portanto, prestar atenção em Karen e Megan, e não apenas em Douglas e Robert, os terráqueos que se afastaram um tempinho da pandemia.

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.