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Agências espaciais buscam solução para objetos na direção da Terra

Não existe forma de deter todos eles, mas esperamos que uma saída não venha tarde demais

Por Sergio Figueiredo Atualizado em 4 jun 2024, 13h45 - Publicado em 28 Maio 2021, 06h00

Não foi um dia qualquer. Em 26 de abril, 300 astrônomos foram convocados a participar de uma videoconferência para ratificar uma alarmante informação recebida sete dias antes do observatório da Universidade do Havaí. Um asteroide, de composição e tamanho incertos, estaria vindo em direção à Terra, com previsão de chegada em seis meses. Quatro dias depois, os cientistas não só confirmaram os dados como fixaram dia, hora e local do impacto: a fronteira entre Alemanha, Áustria e República Checa, às 14h02m25s (horário de Brasília) de 20 de outubro de 2021. Com 105 metros de extensão e uma velocidade de 54 700 quilômetros por hora, o objeto atingiria a Europa Central com a potência de vinte ogivas nucleares, matando milhões de pessoas caso não fossem evacuadas a tempo.

Felizmente, nada do que foi narrado até aqui é real. O que se passou entre 26 e 30 de abril foi um exercício realizado na 7ª Conferência de Defesa Planetária, em Viena, com a participação de agências espaciais do mundo todo. Porém, o que parece ser uma cena de ficção científica é, na verdade, um cenário factível, levado a sério pela ONU, que, em 2016, instituiu 30 de junho como o “Dia do Asteroide”, em referência ao impacto que devastou a região de Tunguska, na Sibéria, em 1908. No decorrer de todo o mês, o site asteroidday.org fará transmissões diárias com especialistas para discutir o risco de um corpo celeste atingir o planeta, conscientizando o público de que milhares de objetos vagam pelo espaço sem monitoramento.

Em 2013, por exemplo, um meteorito explodiu sobre Chelyabinsk, na Rússia, ferindo pessoas com os estilhaços de janelas — danos que seriam infinitamente maiores se o objeto não tivesse apenas 20 metros de comprimento. Em julho de 2019, um asteroide do tamanho de um campo de futebol passou a 65 000 quilômetros da Terra, o que, em termos astronômicos, equivale a um carro a 65 centímetros do pedestre. Se mudasse de rota, poderia destruir uma cidade do tamanho de São Paulo.

Diante disso, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) trabalha com parceiros internacionais para melhorar a detecção de corpos celestes. Em abril, foi inaugurado no Chile um observatório dedicado a essa atividade, que vem se juntar a um similar na Espanha. O grande avanço, no entanto, está no projeto batizado de FlyEye (Olho de Mosca), telescópio autônomo de várias lentes, como a visão multifacetada de um inseto. O primeiro FlyEye entrará em operação na Sicília, Itália, até dezembro de 2023, revelou a VEJA Barbara Weimer, chefe de comunicação da ESA.

arte asteroide

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Enquanto o monitoramento avança, a Nasa centra fogo na segunda parte da equação: o que fazer depois que o asteroide for detectado? Cientistas divergem quanto à estratégia, mas a agência aposta em uma sonda capaz de reduzir a velocidade da rocha, mudando assim sua direção. Na prática, os americanos pretendem lançar ao espaço a sonda Dart (acrônimo em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo), que tem como objetivo atingir uma lua-asteroide de 160 metros, denominada Dimorphos, que no momento não representa perigo e orbita um asteroide cinco vezes maior chamado Didymos.

A Dart pesa 600 quilos (menos do que um carro popular), mas, se reduzir em uma fração a velocidade orbital do Dimorphos, será um indício de que objetos maiores podem ser freados por sondas mais robustas. A missão está programada para partir entre seis e nove meses, alcançando seu alvo em setembro de 2022, quando o sistema de dois asteroides estará a 11 milhões de quilômetros da Terra. A colisão será monitorada por telescópio e pelo LiciaCube, satélite italiano que viajará com a Dart até seu destino. O asteroide maior será o ponto de referência de que os astrônomos precisam para comprovar a perda de inércia da lua-asteroide.

Mas vale mesmo a pena investir tanto em projetos dessa natureza, tendo em vista que o perigo de extinção planetária é irrisório? A indagação foi dirigida a Thomas Zurbuchen, diretor de ciência da Nasa, que respondeu com a objetividade que seu cargo demanda: “Vai acontecer, só não sabemos quando”. Para marcar seu ponto, Zurbuchen nem precisou exemplificar como o novo coronavírus pegou a humanidade desprevenida. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Publicado em VEJA de 02 de junho de 2021, edição nº 2740

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