Todos os animais conhecidos até hoje derivam de um ancestral comum. Tudo começou quando, há cerca de 800 milhões de anos, seres unicelulares começaram a se juntar para formar os primeiros organismos. Em algum momento esse grupo se separou em dois: um deles deu origem a todos os animais que conhecemos hoje, enquanto o outro evoluiu de maneira independente. Por muito tempo se questionou quem eram os descendentes desses “irmãos desgarrados”, mas um artigo publicado nesta quarta-feira, 17, na Nature, finalmente trouxe uma resposta.
Até agora, as candidatas mais prováveis eram as esponjas marinhas. Elas são muito diferentes dos outros animais, principalmente por não terem células que são comuns em todos os bichos, como neurônios e células musculares. Uma análise genética, no entanto, sugere que os derivados dessa linhagem perdida, na verdade, são um grupo de águas-vivas chamadas de Ctenophoras.
Estudos anteriores já haviam tentado responder a essa pergunta com análises genéticas, mas nenhum deles foi muito convincente. Dessa vez, um grupo de pesquisa da Universidade de Viena, na Áustria, utilizou uma técnica diferente.
Ao invés de olhar para genes específicos, os cientistas analisaram a organização deles nos cromossomos, estruturas celulares formadas por DNA. Isso é uma boa ideia porque na maioria dos animais a organização dos genes é bem parecida, independentemente do lugar que ocupa na árvore filogenética – nome dado para esse campo de estudo. Assim, o animal que tivesse a organização mais estranha, seria o herdeiro mais provável dessa linhagem perdida, correto?
O que os pesquisadores descobriram foi que, a despeito do que a maioria dos cientistas acreditavam, a organização nesse grupo de águas vivas era a mais diferente. Em todos os animais, inclusive nas esponjas, os genes se dividiam em 14 grupos. Nas Ctenophoras, contudo, eles estavam distribuídos em apenas sete, o que sugere que todos os outros animais e as águas-vivas são descendentes de ancestrais diferentes.
A descoberta bagunça um pouco o atual estado do conhecimento evolutivo, já que serão necessárias, por exemplo, novas explicações para o porquê de as esponjas não terem nervos e músculos. A novidade, entretanto, é animadora, porque ela traz mais uma ferramenta para tornar as análises filogenéticas ainda mais precisas. “Realmente carecíamos de ferramentas como essa até agora”, afirma, à Science, o geneticista Anthony Redmond.