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Altos níveis de poluição encontrados no ponto mais fundo da Terra

Cientistas encontraram alta concentração de poluentes nas duas das fendas mais profundas do oceano

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 19h49 - Publicado em 13 fev 2017, 21h56

Nem o lugar mais remoto do planeta conseguiu escapar da poluição. Pesquisadores britânicos encontraram níveis muito altos de poluentes orgânicos persistentes (POPs), que incluem certos pesticidas e gases eliminados por incineradores industriais, em duas das fendas oceânicas mais profundas da Terra. Os POPs estavam presentes em pequenos crustáceos que habitam as fossas das Marianas e de Kermadec, no Oceano Pacífico, ambas com mais de 10.000 metros de profundidade. O estudo, publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature, comprova que a ação humana atingiu os pontos mais remotos e menos explorados dos oceanos, mesmo estes sendo afastados de zonas industriais.

Exemplares de três espécies de crustáceos anfípodes, primos dos camarões, foram capturados pelo submarino robô “Deep-sea Landers”. Eles estavam entre 7.227 e 10.000 metros de profundidade na Fenda Kermadec, a norte da Nova Zelândia, e entre 7.841 e 10.250 metros nas Fendas das Marianas, a leste das ilhas homônimas. Os animais foram posteriormente analisados em laboratório e constatou-se que todos apresentavam alta concentração de POPs. Na fenda Mariana, eles eram 50 vezes mais contaminados que os encontrados no rio Liaohe, um dos mais poluídos da China.

Hirondellea gigas
Hirondellea gigas, espécie de crustáceo da Fenda Mariana analisada na pesquisa (Dr. Alan Jamieson/Newcastle University/Divulgação)

Seus organismos estavam contaminados com Éteres Difenílicos Polibromados (PBDE, na sigla em inglês) – usados como retardadores de chama – e Bifenilos policlorados, (PCB, na sigla em inglês) – conhecido como Ascarel e utilizado como isolante em equipamentos elétricos. Os PCBs foram condenados pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2001, e proibidos no Brasil, em 1981 por serem altamente tóxicos. Sua concentração nos crustáceos da Fossa Mariana era equivalente a dos que vivem na da Baía de Suruga, no Japão, que apresenta altos níveis de poluição.

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Não foi uma surpresa achar os POPs nesses locais, já que as fendas são depósitos naturais e os poluentes se acumulam ao longo da cadeia alimentar. Então, quando os animais em decomposição atingem o fundo do mar, sua concentração aumenta, sendo, muitas vezes, maior que nas águas da superfície, explica Alan Jamieson, biólogo marinho e professor da Newcastle Univesity, na Grã-Bretanha, e líder do estudo,  em comunicado. A surpresa dos pesquisadores foi a sua alta concentração na fauna da região.

“O fato de termos encontrado níveis extraordinários desses poluentes em um dos mais remotos e inacessíveis habitats da Terra realmente traz à tona o longo e devastador impacto que a humanidade está tendo no planeta. Ainda não sabemos o que isso significa para o ecossistema e entender essa questão será o nosso maior desafio”, disse Jamieson.

Cadeia alimentar

Os cientistas suspeitam que essas substâncias chegam às partes mais fundas do oceano carregadas, não só pela carniça, mas por partículas de plástico que caem nas fendas. Como os artrópodes analisados devoram todo o resíduo orgânico que encontram, eles acabam consumindo os POPs. Além disso, os poluentes são insolúveis e se acumulam na gordura corporal, repassando de animal para animal conforme a cadeia trófica, estando mais presentes nas espécies do topo da cadeia alimentar.

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O estudo é uma prova que o impacto humano atinge zonas distantes do planeta, afirma Katherine Dafforn, bióloga marinha da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que não participou do estudo. “Jamieson e seus colegas apresentaram provas claras de que o oceano profundo, ao invés de ser remoto, está altamente conectado com a superfície marinha e está exposto a concentrações significativas de poluentes fabricados pelo homem”, destaca a especialista em artigo.

Em 2013, cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, encontraram alta concentração de POPs na população esquimó de inuítes, na parte canadense do Ártico. Testes sanguíneos mostraram taxas mais elevadas dos poluentes em 36 povos nativos que a média para a população do país. Os esquimós estão no topo da cadeia alimentar baseada em frutos do mar. Eles se alimentam principalmente de focas, ovos de aves aquáticas e peixes que, por sua vez, se alimentam de crustáceos marinhos.

 

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