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Asteroide e elevação dos Andes transformaram a América do Sul

Em conferência, o pesquisador Carlos Jaramillo mostrou como o continente adquiriu sua fisionomia atual

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 Maio 2024, 22h40 - Publicado em 27 Maio 2024, 16h34

 A floresta úmida neotropical é um bioma de dossel fechado, dominado por espécies vegetais angiospermas dispostas em diferentes altitudes. Vale lembrar que as angiospermas têm suas sementes protegidas pelos frutos. Com raiz, caule, folhas, flores, frutos e sementes, elas compõem o maior e mais moderno grupo de plantas, englobando cerca de 90% de todas as espécies vegetais. A transição de regiões que, durante o Cretáceo, entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, não apresentavam angiospermas para regiões totalmente dominadas por esse tipo de vegetação é o traço mais notável da evolução ecossistêmica do continente sul-americano.

“O período Cretáceo caracterizou-se por florestas sem copa fechada, compostas principalmente por gimnospermas [plantas com sementes nuas, ou seja, não envolvidas por frutos] e fetos [plantas vasculares que apresentam verdadeiras raízes, caules e folhas e que se reproduzem por esporos, como a samambaia], em contraste acentuado com as florestas tropicais multiniveladas e ricas em angiospermas que emergiram após a megaperturbação que marcou o fim do Cretáceo [e da era Mesozoica] e o início do Paleogeno [e da era Cenozoica]”, explica Carlos Jaramillo, cientista-chefe de paleobiologia do Smithsonian Tropical Research Institute (STRI), na 4ª Conferência FAPESP 2024. 

Essa megaperturbação, como se sabe, foi causada pelo impacto de um grande asteroide, há mais ou menos 65,5 milhões de anos. O fato provocou uma extinção em massa, que eliminou boa parte dos seres vivos, inclusive os grandes répteis (dinossauros e outros) que haviam dominado o período anterior, e reconfigurou a biodiversidade do planeta. “Esse evento singular alterou toda a trajetória evolutiva da Terra”, afirmou o pesquisador.

Durante o Cretáceo, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era muito maior do que hoje, contribuindo para temperaturas médias globais significativamente mais altas. Estas condições favoreceram a dominância de gimnospermas e grandes fetos. A subsequente diminuição do CO2 promoveu a expansão das angiospermas, que dominam hoje os biomas tropicais.

Outra mudança importante, ocorrida progressivamente ao longo da era Cenozoica, foi a maior diferenciação dos ecossistemas, com a redução de 30% da floresta úmida tropical. “Isso acompanhou a queda dos níveis de CO2 na atmosfera e o consequente resfriamento do planeta”, explicou Jaramillo. Após o Eoceno, vários novos biomas, como florestas tropicais secas, savanas e florestas montanhosas, começaram a aparecer e se expandir, reformulando a paisagem sul-americana.

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Convergindo com as mudanças no clima global, um processo geológico de enormes proporções contribuiu para essa reconfiguração: o levantamento dos Andes, ocorrido ao longo do Cenozoico. Esse processo não só remodelou em grande escala o cenário físico, mas também teve implicações diretas na distribuição das precipitações e no surgimento de novos biomas. A elevação alterou os padrões de circulação atmosférica e criou barreiras que resultaram em uma grande diversidade de microclimas. Uma das formações resultantes foi a dos Páramos colombianos – bioma de altitude, composto de gramíneas e árvores anãs, frequentemente nublado, que é o grande fornecedor de água para a população.

Jaramillo mostrou que, em um mesmo patamar de temperatura, diferentes regimes de precipitação podem provocar mudanças ecossistêmicas que vão da floresta úmida tropical à floresta seca, à savana e ao deserto.

A convergência desses eventos geológicos e climáticos não somente moldou a estrutura física e a composição florística dos biomas sul-americanos, mas também influenciou processos ecológicos, como a dispersão de sementes, a competição entre espécies e as interações predador-presa. A conexão entre a geologia e o clima continua a ser um fator dinâmico na evolução dos biomas, destacando a complexidade e a interconectividade dos sistemas naturais.

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*Com Agência Fapesp

 

 

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