Baleias com menopausa? Fenômeno aumentou o tempo de vida dos animais
Mudança reprodutiva está presente em um minoria de mamíferos
A menopausa é quase sempre pensada como um fenômeno tipicamente humano. Mudanças de humor, menstruação irregular, distúrbios do sono, ondas de calor, os sinais são inúmeros. Acontece que essa não é uma particularidade humana – é um fenômeno incomum no mundo animal, é verdade, mas alguns outros mamíferos, como espécies de baleia, também o apresentam e um grupo de pesquisa decidiu investigar o porquê.
De acordo com o artigo publicado nesta quarta-feira, 13, na Nature, a menopausa só está presente em alguns tipos de baleias dentadas, como as orcas e as belugas. Nelas, o fenômeno surgiu evolutivamente aumentando o tempo de vida, mas sem que o período reprodutivo fosse estendido, sugerindo um benefício para a sobrevivência da espécie.
Quais as vantagens?
“O que nós fizemos neste estudo foi tentar entender como e por que a menopausa evoluiu nesses animais”, disse Samuel Elis, autor do artigo e pesquisador da Universidade de Exeter, em entrevista a um grupo de jornalistas de vários países. “As baleias com menopausa vivem muito mais tempo com suas proles e competem reprodutivamente com suas descendentes fêmeas.”
Os resultados revelaram que essas baleias vivem cerca de 45 anos a mais do outros cetáceos de tamanhos semelhantes, o que sugere que a menopausa ofereceu uma grande vantagem evolutiva. E isso pode ser compreendido ao olhar para outras espécies, onde a competição reprodutiva com fêmeas mais novas tem como consequência o menor tempo de vida das mais velhas.
Viver por mais tempo também confere uma segunda vantagem. “Esses animais vivem o suficiente para conseguir serem avós, assim elas ajudam suas proles a cuidarem das netas, favorecendo a sobrevivência da espécies”, afirma Darren Croft, também autor do estudo.
Por que machos não têm menopausa?
Embora animais machos também apresentam mudanças fisiológicas ao longo do envelhecimento, via de regra, eles permanecem reprodutivos. De acordo com os pesquisadores, isso acontece porque eles têm pressões evolutivas diferentes das enfrentadas pelas fêmeas.
“A diferença é que as fêmeas geralmente crescem próximas dos genitores, enquanto os machos se afastam do grupo familiar e se aproximam dos grupos em que encontram suas parceiras”, explica Elis. Além disso, muitos machos não permanecem com uma única fêmea, e, portanto, não têm contato com suas proles.
Isso faz com que não haja nem uma disputa reprodutiva, nem uma oportunidade de auxiliar na criação de netos, o que neutraliza os benefícios evolutivos da uma menopausa.