A tecnologia de edição genética CRISPR já está sendo usada para desenvolver curas para doenças degenerativas, criar testes de diagnósticos e produzir variedades agrícolas mais resistentes às mudanças climáticas. E, num futuro não tão distante, poderá ser usada também para editar os genes de bebês.
Para a geneticista Jennifer Doudna, pioneira no desenvolvimento da tecnologia, os avanços no uso da ferramenta e a ampliação de sua aceitação em todo tipo de testes já permite vislumbrar um pouco do que será desenvolvido no futuro. “É totalmente possível. Quando pensamos no progresso feito nos últimos 25 anos, é extraordinário. E não imagino que as coisas vão desacelerar. Então, é uma possibilidade bem real nos próximos 25 anos”, disse ela, em entrevista à Bloomberg. A cientista afirma ainda que não defende a edição genética aplicada a bebês, mas apenas vê como algo que já se desenha nas próximas décadas.
“Normalmente, uma tecnologia demora décadas para realmente impactar o cenário de pesquisas e aplicações práticas. Mas com a edição genética isso aconteceu em 10 anos”, disse Doudna. Segundo ela, nem mesmo as disputas de patente envolvendo a ferramenta estão atrasando os estudos, e não há limites para seu potencial. “Trata-se de uma questão de dificuldade. No caso de tratamento de câncer, será preciso atingir as células afetadas por tumores com bastante precisão”, disse.
Doudna e sua colega, a geneticista Emmanuelle Charpentier, publicaram os primeiros estudos sobre a técnica de edição genética CRISPR há 10 anos. A pesquisa rendeu às duas o Prêmio Nobel de Química 2020, e a americana e a francesa tornaram-se, assim, a sexta e a sétima mulheres a vencer o Nobel de Química desde 1901. A trajetória de Doudna foi ainda tema do livro A Decodificadora, escrito por Walter Isaacson.