Os artigos científicos são a ferramenta por meio da qual a produção das universidades e institutos de pesquisa são compartilhados com a comunidade internacional. Um levantamento divulgado nesta semana aponta que, em 2023, o número de publicações brasileiras diminuiu pela segunda vez consecutiva. Apesar disso, universidades nacionais continuam entre as mais produtivas do mundo e se destacam pela atuação feminina.
O levantamento anual feito pela Agência Bori em parceria com a editora Elsevier aponta que, em 2023, o Brasil apresentou uma queda de 7,2% no número de artigos científicos publicados. O decréscimo foi observado em 35 dos 53 países avaliados.
O mesmo efeito também havia sido observado em 2022, primeira vez em que o Brasil teve uma queda de produção desde que o levantamento começou a ser realizado, em 1996. O recuo, antes avaliado em 7,4% e agora revisado para 8,5%, colocou o país na última posição da lista, com redução superior à de países que entraram em guerra, como Ucrânia e Rússia.
MAIS QUEDA NA PRODUÇÃO DE CIÊNCIA NACIONAL
A produção científica do Brasil caiu, mais uma vez, em 2023 — queda observada em um total de 35 países. Agora, a quantidade de artigos científicos publicados no país foi 7,2% menor em comparação a 2022. É o que mostra o novo relatório… pic.twitter.com/wbBDB2k7h9
— Bori (@borinasredes) July 30, 2024
Em entrevista a VEJA naquela ocasião, o cientista de dados da Agência Bori, Estêvão Gamba, afirmou que a pandemia era a principal causa para a não produção de artigos científicos. O Brasil, no entanto, tinha o corte de recursos para as áreas de ciência e tecnologia promovidos pelo governo Bolsonaro como agravantes.
Dada a natureza da produção científica, resultado de um trabalho de anos, Gamba previu que os anos seguintes também seriam de queda. Agora, uma esperança. “Nossa expectativa é de que mediante o melhor nível de investimentos feito estes últimos anos, a produção nacional retome o crescimento em breve”, afirma Dante Cid, vice-presidente de Relações Institucionais para a América Latina da Elsevier, em comunicado.
É importante notar, no entanto, que a queda não necessariamente significa uma redução na qualidade e que um recuo numérico em benefício da publicação em revistas de maior impacto, na verdade, pode ter um significado positivo.
Qual a melhor universidade brasileira?
Apesar da queda, outro levantamento traz boas notícias. No ranking anual do Centro de Estudos em Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, na Holanda, três instituições brasileiras figuraram entre as 200 mais produtivas do mundo: Universidade de São Paulo (USP; 16º), Universidade Estadual Paulista (Unesp; 142º) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp; 174º).
Esse levantamento não leva em conta apenas o número de publicações, mas também avalia o impacto – medido pelo número de vezes que um artigo científico é utilizado como referência para outros estudos. Considerando este ranking, as três universidades ficam no topo da lista entre as instituições na América no Sul, uma constante desde o início das avaliações, em 2006.
O ranking ainda revelou um outro dado positivo. A USP aparece na terceira colocação no mapeamento que avalia diversidade de gêneros nos artigos científicos, com as mulheres representando 42,9% do total de autores que assinam esses trabalhos. As universidades de Harvard e Toronto são as únicas com índices melhores que o da instituição brasileira nesse quesito.