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Brasileira ganha prêmio internacional por pesquisa sobre zika e Chagas

Rafaela Ferreira, professora da UFMG, foi reconhecida como uma das mulheres cientistas que mais se destacaram no mundo em 2017

Por Agência Brasil Atualizado em 22 mar 2018, 15h26 - Publicado em 22 mar 2018, 15h14

A pesquisadora mineira Rafaela Ferreira, professora adjunta do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ganhou na quarta-feira, em Paris, um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), que reconhece o trabalho de mulheres cientistas que mais se destacaram no mundo em 2017.

Única representante da América Latina entre as 15 vencedoras do International Rising Talents (talentos internacionais em ascensão, numa tradução livre), Rafaela recebeu uma premiação de 15 mil euros para dar continuidade a uma pesquisa que busca desenvolver medicamentos para o tratamento do vírus da Zika e da doença de Chagas.

A cientista ganhou, no ano passado, a versão brasileira dessa premiação, o Para Mulheres na Ciência. Com esse reconhecimento, ela espera obter mais apoio e visibilidade para o desenvolvimento da pesquisa.

“De um ponto de vista mais prático, o problema que a gente tem é o alto investimento necessário para desenvolver um medicamento, e que vai ficando cada vez caro maior conforme o avanço do seu estágio do desenvolvimento”, explica. Conhecidas como doenças negligenciadas, o Chagas e a zika historicamente não atraem o interesse da indústria farmacêutica.

“O Chagas, por exemplo, foi descrito há mais de 100 anos [pelo cientista brasileiro Carlos Chagas] e até hoje a indústria simplesmente não investe muito nisso porque é uma doença que afeta países mais pobres. É muito importante ter um esforço de instituições públicas para que a gente possa avançar no desenvolvimento desses fármacos”, observa a pesquisadora.

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Gravidade

Embora o Brasil tenha recebido, em 2006, o selo da Organização Mundial da Saúde que certifica o país como livre da transmissão do Chagas pela picada do mosquito barbeiro (Triatoma infestans), a doença continua circulando pelo país. A principal forma de transmissão é a oral, que ocorre na ingestão de alimentos como cana-de-açúcar e açaí triturados com o mosquito.

Mesmo com o controle da ocorrência de novos casos em território nacional, a magnitude da doença de Chagas no Brasil permanece relevante, segundo o Ministério da Saúde.

Estudos recentes estimam que a infecção atinge de 1% a 2,4% da população, o equivalente a 1,9 a 4,6 milhões de pessoas. A taxa de mortalidade (entre 2014 e 2015) foi de 2,19 a cada 100 mil habitantes, de acordo com dados do Datasus, do Ministério da Saúde. Já a zika foi registrada pela primeira vez no Brasil em 2015. No ano seguinte, houve um surto da doença – que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti (o mesmo da dengue e da chikungunya) – com mais de 214 mil casos registrados, o que deu uma taxa de 104,8 registros a cada 100 mil habitantes.

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Bem menos letal que a dengue, cerca de 80% dos casos de zika são benignos e as pessoas infectadas nem sequer descobrem a doença. O problema da zika está relacionado à má-formação de fetos, causado pelo vírus em mulheres grávidas infectadas. A síndrome resultou em mais de 3.037 casos de microcefalia em bebês registrados entre janeiro de 2015 e dezembro de 2017, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, de janeiro deste ano.

Descobertas

Na pesquisa liderada pela cientista Rafaela Ferreira, o objetivo é descobrir moléculas que sejam capazes de alterar a estrutura de funcionamento do protozoário causador da doença de Chagas e do vírus que provoca a zika, inibindo, assim, a ação desses agentes no corpo humano.

De acordo com a pesquisadora, já foram analisadas mais de 400 mil moléculas em complexos programas computacionais e algumas delas foram identificadas como “promissoras”. “Nosso trabalho aqui é o desenvolvimento de fármacos no seu estágio inicial, que é a descoberta de moléculas promissoras. Depois disso, elas ainda precisam ser avaliadas em modelos animais, passar por vários testes de segurança e, finalmente, os ensaios clínicos, nos quais essas moléculas são avaliadas em humanos para analisar eficácia e segurança do medicamento”, afirma a cientista. No caso da zika, os inibidores sintéticos estão sendo preparados para testes futuros em células cerebrais (neurônios) dos bebês com microcefalia, para que possam degradar a ação do vírus e interromper os efeitos da doença.

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