Brasileiro se interessa por ciência e tecnologia, mas acesso ainda é baixo
Pesquisa encomendada pelo MCTI revela ainda que maioria dos cidadãos acreditam na gravidade das mudanças climáticas
Apesar da narrativa de que o negacionismo científico tem ganhado força, a maior parte dos brasileiros continua interessado e confiante na ciência e na tecnologia. Isso é o que revela a pesquisa divulgada em maio, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
Encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) às vésperas da Conferência Nacional sobre o tema, o levantamento revela que 60% dos brasileiros disse ter interesse no assunto em 2023, apresentando pequenas variações desde 2010. Além disso, também são altas as crenças de que governantes devem seguir as orientações dos cientistas (75%), de que C&T pode resolver a maioria dos problemas da sociedade (69%) e tornar a vida mais confortável (84%).
Apesar desse interesse e confiança, a pesquisa também revelou um afastamento do brasileiro com a ciência, com mais de 80% não tendo visitado museus, bibliotecas e feiras de ciência. Além disso, ficou clara a pouca noção sobre alguns temas populares, com 72% acreditando que antibióticos podem ser efetivos contra vírus, 67% crendo que curas para o câncer são escondidas para fins comerciais e 35% dizendo que vacinas podem causar autismo.
“Nós notamos que, ao longo de duas décadas, o interesse de mais de 70% das pessoas por ciência foi uma constante”, afirma, em entrevista a VEJA, a coordenadora do Observatório de Ciência, Tecnologia e Inovação do CGEE e responsável pelo levantamento, Adriana Badaró. “Mas essa desconexão significa que existe um campo muito fértil, em todas as faixas etárias, para aumentar o acesso à ciência e entregar à população dados de qualidade. É uma responsabilidade coletiva.”
Meio ambiente
O levantamento ainda perguntou aos entrevistados sobre mudanças climáticas. 95% dos brasileiros afirmou ter consciência de que as mudanças climáticas estão ocorrendo, mas, curiosamente, apenas 78% reconhece que a ação responsável é responsável por esses efeitos e 60% acreditam que os perigos para a população são graves.
“Mais uma vez, vemos a necessidade de informação de qualidade”, diz Badaró. “Essa população precisa entender melhor a dimensão do impacto das mudanças que, como vimos na pesquisa, todos estão percebendo.”
A pesquisa também revela uma necessidade de combater a desinformação, em especial pelo crescimento do número de pessoas que se informam pela internet. Em 2015, 5% delas utilizavam o WhatsApp para esse fim e 2%, o Instagram. Hoje, surpreendentemente, esse número cresceu para 21% e 41%, respectivamente.
“Pela primeira vez, as redes sociais ultrapassaram a TV, é impossível ignorar essa realidade”, diz Badaró.
Pesquisa
O levantamento foi realizado em 2023 e contou com 1.931 entrevistados com idade acima dos 16 anos, a partir de grupos que representam todas as regiões do país.