Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Brumadinho: A mancha do descaso

Um ano depois da catástrofe que deixou 259 mortes confirmadas e devastou o meio ambiente, muito ainda resta a reparar

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h01 - Publicado em 24 jan 2020, 06h00

No dia 25 de janeiro de 2019, o lema “Mariana nunca mais”, que aspirava a soar como lição, foi manchado por uma inaceitável repetição da história. Naquela data, a barragem B1 da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), da empresa Vale, se rompeu, liberando mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da extração de ferro. A tragédia fez recordar o desastre de 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, na também mineira Mariana, no qual o rompimento de outra barragem, da Samarco, controlada pela Vale e pela australiana BHP, vitimara dezenove pessoas e poluíra o Rio Doce. Em Brumadinho, foram 259 mortes (onze corpos continuam desaparecidos).

Na terça-feira 21, o ex-presidente da Vale Fabio Schvartsman e mais quinze executivos foram indiciados pelo crime de homicídio doloso pelo acidente na mina Córrego do Feijão. Dez deles são funcionários da empresa, e cinco da consultoria alemã TÜV SÜD, responsável pela certificação de segurança da estrutura danificada. O mais irônico é que, ao assumir o comando da Vale, em 2017, Schvartsman garantira: “Devemos adotar juntos o lema ‘Mariana nunca mais’. Que tenha sido a última vez que estejamos envolvidos direta ou indiretamente num desastre ecológico e social dessa dimensão. Quero ter esse compromisso”. A promessa durou pouco, muito pouco.

Passado o primeiro ano da tragédia de Brumadinho, a mineradora divulgou amplamente as ações adotadas para compensar os danos: 359 milhões de reais investidos em obras emergenciais; 500 milhões de litros de água distribuídos para consumo humano, animal e irrigação agrícola; e 3 bilhões de litros de água tratada devolvidos ao Rio Paraopeba, entre outras medidas. No entanto, para a população, as providências não refletem as dificuldades encaradas diariamente, em consequência da catástrofe.

Brumadinho
JANEIRO DE 2020 – Reação dos responsáveis: 3 bilhões de litros de água tratada devolvidos ao curso fluvial (Cadu Rolim/Fotoarena)

“Direitos garantidos aos atingidos — como a criação de grupos com o objetivo de prestar assessoria técnica independente da Vale — não estão sendo cumpridos”, afirma a defensora pública Carolina Morishita, que atua em prol dos interesses das famílias das vítimas. Em fevereiro de 2019, a mineradora assinou um acordo que previa a formação das equipes citadas pela defensoria pública. Contudo, a empresa até hoje resiste a cumprir o trato, sob a alegação de que sairia caro — 70 milhões de reais para cada um dos cinco grupos determinados, ou seja, uma despesa total de 350 milhões de reais.

Continua após a publicidade

O desastre, porém, não arruinou a Vale. De lá para cá, o valor de mercado da mineradora subiu. O aumento, puxado por demandas da China, fez a companhia ultrapassar a avaliação de 300 bilhões de reais, 5 bilhões acima de sua cotação antes do rompimento da barragem B1 de Brumadinho.

É verdade que, além do que foi mencionado, a Vale tomou outras providências. Implementou, por exemplo, atendimento psicológico e suporte financeiro a familiares dos mortos (leia abaixo). Não basta. “Produtores rurais, não atingidos diretamente pelo lamaçal dos rejeitos, ainda buscam reparação, pois também tiveram a saúde emocional abalada, uma vez que não podem mais manter a forma tradicional pela qual viviam antes”, diz Carolina Morishita.

Outro ponto que reclama redobrada atenção é a recuperação do meio ambiente. O Rio Paraopeba, poluído pelos rejeitos, abastece 30% da população de Belo Horizonte. Alguns de seus trechos foram soterrados, e há locais onde se registrou aumento de 25% da mortalidade de algumas espécies de peixe. Na quinta-feira 23, a SOS Mata Atlântica divulgou um novo relatório sobre a análise de 356 quilômetros das águas fluviais atingidas. De acordo com a ONG, os indicadores de qualidade aferidos revelaram que elas estão impróprias para uso em toda a extensão percorrida. Em onze locais, os contaminantes impedem a presença de qualquer vida aquática.

Continua após a publicidade

Logo após a calamidade em Brumadinho, a Vale anunciou que desativaria nove barragens semelhantes à que se rompeu, ao longo de três anos, a fim de evitar outras tragédias — fez isso com uma delas em novembro último. É pouco. O pior é que, de acordo com a consultoria ambiental dinamarquesa Ramboll, ainda existem 122 barragens em risco no Brasil. Desse total, segundo a Ramboll, 84 são da Vale — onze com a mesma estrutura da B1 de Brumadinho. Isso significa que o país não está livre de ver a história se repetir — novamente como tragédia.

ARTE-BRUMADINHO

Publicado em VEJA de 29 de janeiro de 2020, edição nº 2671

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.