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Camarão-camaleão é capaz de se camuflar mesmo em espécies invasoras de algas, aponta estudo

Pesquisadores observaram que crustáceo que muda de cor consegue se disfarçar em algas exóticas

Por André Julião / Agência FAPESP
26 fev 2025, 11h06

Os pequenos camarões do gênero Hippolyte têm a capacidade de mudar de cor para se camuflar nas algas onde vivem, escapando de predadores. Dependendo da alga em que estiverem, podem ficar vermelhos, verdes, marrons ou transparentes.

Estudo publicado no Journal of Animal Ecology mostra, pela primeira vez, a interação desses crustáceos com algas invasoras. Os resultados apontam, ainda, que eles podem se camuflar mesmo em algas marinhas vindas de outros oceanos, com as quais não evoluíram conjuntamente.

Os autores, brasileiros e britânicos, testaram como a espécie que vive em praias europeias, o camarão-camaleão (Hippolyte varians), interage com duas algas exóticas, uma da Ásia e outra da Austrália.

A espécie europeia, com cerca de 3 centímetros de comprimento, é evolutivamente próxima ao camarão-carnavalesco (Hippolyte obliquimanus), comum no litoral norte paulista (leia mais em: agencia.fapesp.br/24943).

“Quando o camarão-camaleão se depara com duas algas diferentes, não importa qual é nativa e qual é exótica, ele opta por aquela que oferece o melhor ajuste de cores para que ele possa se esconder”, relata Rafael Duarte, primeiro autor do estudo, realizado durante seu pós-doutorado no Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), com bolsa da FAPESP.

Espécie pode ficar vermelha, verde, marrom ou transparente. Mudança pode demorar até 30 dias
Espécie pode ficar vermelha, verde, marrom ou transparente. Mudança pode demorar até 30 dias (Martin Stevens/Divulgação)
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As coletas e experimentos foram conduzidos durante estágio de Duarte na Universidade de Exeter, no Reino Unido.

Os pesquisadores coletaram os camarões e as algas em que viviam em poças formadas pela maré nas rochas em duas praias de Falmouth, no sudoeste da Grã-Bretanha.

No laboratório, os animais foram colocados numa caixa em que tinham à disposição duas algas para se abrigarem, uma nativa e outra exótica. Foram testadas combinações de duas das quatro espécies analisadas, sempre uma nativa (verde ou vermelha) e uma exótica (marrom ou rosa).

Experimento em que camarões podiam escolher entre algas nativas e exóticas
Experimento em que camarões podiam escolher entre algas nativas e exóticas (Rafael Duarte/Divulgação)
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“A marrom é uma espécie de sargaço asiática que tem aumentado sua presença nos últimos dez anos, causando problemas em vários lugares da Europa. Ela ocupa o hábitat de espécies nativas, que estão se tornando restritas a áreas mais profundas. No entanto, ela se mostrou um excelente abrigo para os camarões”, conta Duarte, atualmente pesquisador na Universidade de Aveiro, em Portugal.

Complexidade em vez de cor

Nas caixas em formato de Y, os camarões foram observados por dez minutos. Na maioria dos casos, eles escolheram uma das duas algas oferecidas e permaneceram lá até o fim do experimento.

De modo geral, não houve preferência de escolha pelas nativas, mas pela alga onde melhor podiam se esconder. Quando se deparavam com a alga nativa verde e o sargaço exótico marrom, os camarões verdes não exibiram preferência.

Entretanto, quando se deparavam com a alga nativa vermelha e a exótica marrom, os camarões preferiram o sargaço. Os pesquisadores acreditam que, quando não há correspondência de cor com a nativa, a estrutura da planta invasora funciona melhor como proteção, favorecendo sua escolha.

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“Enquanto a alga nativa verde é bastante folhosa e achatada, o sargaço tem uma estrutura tridimensional mais complexa, como a de uma samambaia. Na natureza, provavelmente isso facilita para que se protejam melhor de predadores, mesmo que as cores ainda não estejam totalmente de acordo”, aponta Duarte.

Além disso, ele completa, a alga nativa verde é bastante sazonal. Nos intervalos em que não está tão disponível, o camarão pode usar o sargaço, mais estável ao longo do ano.

Os camarões-camaleão demoram até 30 dias para ficarem da mesma cor da alga. Os pesquisadores observaram que a mudança de cor é mais rápida quando do vermelho para o verde do que no processo contrário. A hipótese mais provável está nos pigmentos dentro das células que dão cor aos animais, os cromatóforos.

Poças em que são encontrados os camarões na costa sudoeste da Grã-Bretanha
Poças em que são encontrados os camarões na costa sudoeste da Grã-Bretanha (Rafael Duarte/Divulgação)
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Trabalhos sobre pigmentação realizados por outros grupos mostram que os animais de cor vermelha têm todos os pigmentos necessários nos cromatóforos, necessitando apenas se livrar das outras cores para mudar sua coloração.

No caso dos animais verdes, no entanto, para mudar de cor é preciso adquirir o pigmento vermelho, o que demanda mais tempo e energia do organismo. Nos camarões-camaleão, os pesquisadores acreditam que seja necessário comer as algas vermelhas ou rosas para adquirir os pigmentos dessas cores.

Uma série de perguntas, porém, ainda paira sobre essa complexa interação. Uma delas diz respeito à forma como os camarões reconhecem as algas. Estudos já apontaram que o formato da alga é importante, embora não se tenha certeza se a escolha é visual. Por isso, o grupo agora estuda se as algas possuem sinais químicos que possam ser detectados pelos crustáceos e se a presença de poluentes na água pode alterar essa percepção.

“Embora a interação com algas exóticas pareça não estar prejudicando a capacidade de se camuflar da espécie, não sabemos o impacto da presença dessas invasoras no longo prazo. No mundo todo, espécies invasoras causam grandes prejuízos aos ecossistemas. É preciso monitorar para compreender melhor essas relações”, conclui.

 

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