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Chiclete pré-histórico com DNA de 5700 anos revela o passado da humanidade

Com o fóssil, foi possível detalhar informações físicas, culturais e genéticas dos humanos que viveram naquele tempo

Por Da Redação Atualizado em 13 fev 2020, 17h58 - Publicado em 13 fev 2020, 17h33

Há 5700 anos, uma mulher morou no que hoje é a Dinamarca, mastigou um pedaço de casca de árvore e depois cuspiu. Milênios depois, o DNA que ela deixou para trás, além de revelar todo o seu genoma, permitiu mapear detalhes sobre o seu cotidiano.

O sequenciamento foi realizado por pesquisadores da Universidade de Copenhague, que divulgaram o feito nesta quinta-feira (13). Foi por meio de um “chiclete pré-histórico”, uma seiva encontrada na casca de bétula, então usada para limpar os dentes, que os cientistas entenderam Lola — como foi nomeada a ancestral humana. 

Ela tinha olhos azuis, cabelos castanhos e pele escura. “Essa combinação de características físicas já foi observada em outros grupos europeus, sugerindo que esse fenótipo era difundido na Europa e que a disseminação adaptativa da pigmentação clara da pele nas populações só ocorreu mais tarde”, descreve a pesquisa. 

Mas, muito além de detalhes físicos e um DNA genuinamente europeu, o local onde ela foi encontrada revelou evidências arqueológicas de ser um assentamento agrícola, sugerindo que seu grupo étnico havia absorvido hábitos de sociedades em formação na Eurásia – onde os primeiros humanos dominaram a agricultura.

O DNA de Lola não foi o único encontrado no chiclete, pois uma pequena porcentagem veio de outras coisas que ela havia mastigado: uma avelã e uma espécie de pato. A informação sugere que, mesmo depois que a comunidade de Lola aprendeu a cultivar, o grupo ainda dependia de alimentos silvestres. Ossos de pato e avelãs, encontrados no local, reforçam as evidências.

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O genoma de Lola também contém alelos que geralmente estão associados à incapacidade de produzir lactase – uma enzima importante na digestão do leite – quando adulto. Se a intolerância à lactose ainda era comum entre as pessoas na Escandinávia logo após a revolução neolítica (a onda de migração e mudança cultural que introduziu a agricultura na maior parte da Europa), a evidência mostra que os europeus provavelmente evoluíram na capacidade de beber leite como adultos somente depois que a pecuária leiteira se tornou um modo de vida comum, fato que ocorreu há alguns milhares de anos.

O genoma de Lola também conta aos arqueólogos sobre as primeiras pessoas a se mudarem para a Escandinávia depois que as camadas de gelo recuaram, há entre 12 000 e 11 000 anos, gerações antes de essa nossa ancestral morar na Dinamarca. Com base em outras evidências arqueológicas e genéticas, foi possível cruzar os dados para concluir que, após a retração do gelo, pessoas de diferentes áreas da Eurásia se mudaram para a Escandinávia por duas rotas. Alguns caçadores-coletores da Europa continental se deslocaram para o norte através da Dinamarca (os descendentes de Lola), enquanto outros, do nordeste, se moveram para o sul, ao longo da costa da Noruega.

A pesquisa é uma amostra da gigante contribuição que a genética pode ter sobre as descobertas do passado. Sem falar nada, a boca de Lola detalhou parte da fragmentada história da humanidade.

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