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Cientistas encontram evidência de planetas irmãos ocupando a mesma órbita

Fenômeno não ocorre no sistema solar e nunca foi visto por astrônomos antes

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h10 - Publicado em 19 jul 2023, 20h00

Há duas décadas, físicos teóricos previram que planetas com tamanhos similares poderiam ocupar a mesma órbita em uma única estrela. Isso, no entanto, não ocorre com os astros do sistema solar e nunca tinha sido observado em nenhum outro lugar do universo. Agora, astrônomos descobriram que o fenômeno pode estar acontecendo em uma estrela a cerca de 370 anos-luz da Terra, na constelação de Centauro. 

A PDS 70, como foi chamada, é acompanhada por dois planetas. Ao analisar a órbita de um deles, os pesquisadores observaram uma pequena nuvem de detritos que pode estar dando início a constituição de um segundo corpo que vai ocupar o mesmo raio. “Até agora o esforço na busca de troianos em outras estrelas resultou em candidatos não confirmados, sendo esta a primeira vez que encontramos fortes indícios da possível presença deles em exoplanetas”, afirmou a Veja a primeira autora do estudo publicado na Astronomy and Astrophysics, Olga Balsalobre Ruza

Troiano é o nome dado a objetos que ocupam a mesma órbita dos planetas. Isso não é tão raro. No sistema solar, existem pelo menos 10 mil asteroides troianos na órbita de Júpiter, mas eles são pequenos e nunca tinham sido observados para além da vizinhança terrestre. Dessa vez, os pesquisadores não só encontraram um troiano em um exoplaneta, como viram que o objeto é muito maior do que os vistos próximos da Terra, com uma massa equivalente a de duas luas. 

Esse é um fenômeno longe de ser trivial. “É preciso ter em mente que mecânica celeste é uma área muito complexa, onde muitas vezes o conhecimento incompleto de um sistema pode levar a conclusões equivocadas”, afirma Roberto Dell’Aglio Dias da Costa, pesquisador de exoplanetas e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).

Para que os troianos se estabeleçam, eles precisam entrar nas chamadas zonas de Lagrange, onde, de acordo com Costa, existe um ponto de equilíbrio entre a estrela e o planeta que impedirá que o corpo seja incorporado por um dos astros ou seja arremessado para fora do sistema. 

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Pesquisadores procuram esses corpos no Universo há muito tempo, mas a descoberta só foi possível devido a coleta de dados do ALMA, um grande telescópio a rádio no Chile que permite o estudo de objetos opacos, pequenos ou de difícil visualização. 

O objetivo agora é tentar entender o quão frequentes objetos troianos ou planetas co-orbitais são fora do sistema solar. “Ainda existem muitas questões a respeito de como estes objetos evoluem e qual o impacto que têm na formação de mundos habitáveis”, afirma Itziar De Gregorio Monsalvo, outra co-autora do trabalho. “Na próxima década, quando o ALMA estiver funcionando em sua plenitude, nós conseguiremos reunir muito mais respostas para as diversas perguntas que esse achado trás”.

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