Descobrir uma lei da natureza é, sem dúvida, o sonho de muitos cientistas. No entanto, este panteão, frequentado por nomes como Charles Darwin e Isaac Newton, é restrito a poucas mentes brilhantes. Um grupo de cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, da Universidade de Cornell e da Universidade do Colorado, porém, espera atingir este patamar de compreensão do mundo natural. Para isso, um artigo publicado hoje,16, no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences descreve uma possível “Lei perdida da Natureza”.
A “Lei Que Falta” – aquela que complementaria outras leis existentes- reconhece que sistemas naturais complexos evoluem para estados de maior padronização, diversidade e complexidade. Para o grupo multidisciplinar formado por 9 pessoas, entre astrônomos, geólogos, biólogos e filósofos, a evolução não se limitaria a vida na Terra, mas também aconteceria em outros sistemas que podem ir desde planetas e estrelas, até minerais e minúsculos átomos.
O novo trabalho oferece uma ampliação na compreensão das leis “macroscópicas” da natureza, que descrevem e explicam fenômenos cotidianos do mundo natural. Nesse rol, leis relacionadas com forças, movimentos, gravidade, eletromagnetismo e energia, já são conhecidas há mais de 150 anos. Agora, elas ganham o acréscimo moderno da “Lei do Aumento da Informação Funcional”.
De acordo com a nova lei, os sistemas complexos podem ser formados por diferentes componentes, como átomos, moléculas ou células, que podem ser organizados e reorganizados repetidamente; eles estão sujeitos a processos naturais que causam a formação de inúmeros arranjos diferentes e apenas uma pequena fração de todas essas configurações sobrevive num processo chamado “seleção para função”. Independentemente do sistema ser vivo ou não, quando uma nova configuração funciona e a função melhora, ocorre a evolução. A Lei afirma que o sistema evoluirá “se muitas configurações diferentes do sistema forem selecionadas para uma ou mais funções”.
Darwin, em sua famosa Teoria da Seleção Natural, equiparou a função de seleção à sobrevivência. Em síntese, sobreviviam e evoluíam aquelas espécies capazes de viver por tempo suficiente para deixar descendentes férteis em um dado ambiente. O novo estudo amplia o conceito de seleção darwiniano observando outros três tipos de funções: Estabilidade, em que os arranjos mais estáveis de átomos e moléculas são selecionados; Dinâmica, em que os escolhidos são aqueles sistemas que apresentam um fornecimento contínuo de energia e, por último, as novidades, que prevê a tendência dos sistemas em evolução de explorar novas configurações que podem levar a novos comportamentos ou características.
“A teoria darwiniana é apenas um caso muito especial e muito importante dentro de um fenômeno natural muito maior”, diz Robert M. Hazen, líder da investigação, em nota. “A noção de que a seleção pela função impulsiona a evolução se aplica igualmente a estrelas, átomos, minerais e muitas outras situações conceitualmente equivalentes, onde muitas configurações estão sujeitas a pressão seletiva”. “O universo gera novas combinações de átomos, moléculas, células, etc”, complementa Michael Wong, coautor do artigo. “Aquelas combinações que são estáveis e podem gerar ainda mais novidades continuarão a evoluir. Isto é o que torna a vida o exemplo mais marcante de evolução, mas a evolução está em toda parte.”
Os autores abordam a questão fundamental do aumento da complexidade do universo em evolução. O objetivo é a busca por uma ‘lei faltante’ que seja consistente com as leis conhecidas. A ideia central é, portanto, a de que um sistema manifestará um aumento na informação funcional se as suas várias configurações geradas no tempo forem selecionadas para uma ou mais funções. Nesse sentido, a “Lei do Aumento da Informação Funcional” complementa a 2ª lei da termodinâmica, que afirma que a entropia (desordem) de um sistema isolado aumenta com o tempo (e o calor sempre flui dos objetos mais quentes para os mais frios).