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Como era ser criança na Pré-história?

Desde lá, infância era tempo de exploração, aprendizagem e brincadeiras

Por Cristina de Juana Ortín*, para The Conversation
Atualizado em 11 nov 2024, 20h24 - Publicado em 8 nov 2024, 13h39

Embora possamos identificar a infância como um período de dependência, inocência ou necessidade, ela é também uma fase de exploração, aprendizagem e brincadeiras. Hoje em dia… e na Pré-história.

Isto fica evidente pelos inúmeros vestígios de suas pequenas mãos e pés que, desde o Paleolítico (ou Idade da Pedra Antiga), as crianças deixaram em diversos ambientes. Em La Garma, na Cantábria (comunidade no norte da Espanha), foram identificadas até quatorze pegadas de crianças entre 6 e 7 anos de idade, de 16.500 anos atrás. São vestígios de calcanhares, cotovelos, dedos dos pés presos na lama e terra movida. Talvez, restos de alguma brincadeira?

No Mesolítico, encontramos 856 pegadas no estuário do Severn, na Grã-Bretanha. Destas, 29% são atribuídas a crianças que seguiam por uma trilha em direção a uma zona de pesca. Acredita-se que poderiam ter 4 anos de idade ou menos, o que sugere que brincavam nesse caminho de “ficar indo e voltando”.

Temos, também, suas pegadas como impressões em positivo e negativo com pigmentos. É o caso das mãos da Caverna do Monte Castillo (Puente Viesgo, Cantábria), datadas de entre 17.000 e 10.000 a.C.

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Mãos de crianças impressas na rocha da Caverna Monte del Castillo, Cantábria. (Governo de Cantábria/Divulgação)

E em Rouffignac (França), encontramos sulcos feitos pelos dedos de crianças entre 2 e 5 anos que, provavelmente, foram “levantadas” por adultos para fazê-los, como defende a pesquisadora Leslie Van Gelder, da Universidade Walden, nos Estados Unidos.

Retratos dos mais jovens

Outro recurso disponível para estudar a infância nos tempos pré-históricos são suas representações. Foram consideradas crianças figuras de tamanho pequeno e formato simplificado, geralmente, aparecendo com uma cabeça abaulada (macrocefalia), em posição curvada e com determinação sexual pouco desenvolvida.

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É o caso da placa de La Marche (França), do Paleolítico, que traz gravadas cinco cabeças de crianças. Foi interpretada como uma possível cena de dança, prova de que as crianças faziam parte das atividades sociais da comunidade.

Mais tarde, no período Neolítico, podemos identificar mulheres grávidas e bebês com cordões umbilicais (Centelles, Castellón) ou cenas de parto (Higuera de Estecuel, Teruel).

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Esquema das representações de crianças nas pinturas rupestres do abrigo de Centelles. Possíveis cenas de nascimento (1 e 2) e possível cordão umbilical (3), segundo Domingo, 2006. (Manuel Bea/Prensas universitarias de Zaragoza/Divulgação)

Também encontramos pinturas de crianças sendo transportadas ou caminhando ao lado de adultos nos conjuntos de pinturas de Centelles, La Saltadora e Val del Charco (Castellón) ou em Roca Benedí (Jaraba, Saragoça).

Embora nas cenas de maternidade o bebê pareça desempenhar um papel secundário, o mesmo não acontece nas cenas de transporte ou caminhada, que nos contam sobre os seus cuidados, sempre associados à mulheres. Quando estão na trouxa, distinguem-se pela cabeça ereta e os braços estendidos, expressando sua vitalidade.

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Também podem nos dizer sobre apresentações sociais ou ritos de iniciação, quando fazem parte de conjuntos de pinturas. Em todos os casos, são apenas mais um ator social, podendo ser identificados como tal nas representações.

Brincadeiras de dezenas de milhares de anos atrás

As crianças de todos os tempos, além de explorar e brincar com animais, muitas vezes tiveram brinquedos de alguma forma, que não devem ser considerados apenas como um meio de recreação, mas também como ferramentas educacionais.

Por exemplo, na caverna de Isturitz (França), foram encontradas duas pequenas figuras: a cabeça de um urso ou um bisão, feita em osso; e a escultura de um leão-das-cavernas, em chifres de rena. Ambos animais não eram estranhos aos caçadores que habitavam essas cavernas há mais de 12.000 anos.

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Figura de leão-das-cavernas encontrada no sítio paleolítico de Isturitz, França. (M. Langley/Man/Divulgação)

Os rodetes, discos de osso decorados com animais ou sinais e com uma perfuração central que poderia fazer parte de sistros (instrumentos de percussão) ou chocalhos, também foram interpretados como brinquedos. Ao inserir uma corda na perfuração e fazê-los girar, permitiam à criança ver os animais em movimento, se fosse o mesmo animal dos dois lados, ou a rápida alternância das figuras, se fossem diferentes.

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Alguns exemplos de rodetes foram os encontrados nas grutas de El Linar e Las Aguas (Alfoz de Lloredo, Cantábria).

Já no Neolítico, com a introdução da cerâmica e dos assentamentos, encontramos outros brinquedos. Para Juan José Negro, pesquisador do Conselho Superior de Investigação Científica da Estação Biológica de Doñana, esta é a função dos ídolos com olhos do Calcolítico.

Essas pequenas louças poderiam ser interpretações de corujas feitas por menores. Se os entendermos com um possível valor ritual, também podemos fazê-lo como objetos de aprendizagem, uma vez que ambas interpretações não são mutuamente exclusivas.

Também é possível que existissem bonecas feitas de madeira, barro ou trapos, como as usadas pelas meninas nas tribos do sul da África, mas que não foram preservadas.

Objetos que acompanhavam na vida e após a morte

No caso de uma morte precoce, as crianças recebiam o mesmo destino dos adultos. Elas eram lavadas, vestidas e colocadas no chão. Disto temos testemunhos tão antigos como o da Sima de los Huesos (Atapuerca, Burgos), há 350.000 anos, onde jaziam uma criança de 5 anos e outras nove entre 11 e 15 anos. É considerado um enterro intencional devido ao tipo de posicionamento do corpo. Além disso, eram acompanhados de Excalibur, uma biface de sílex avermelhada que foi interpretada como uma oferenda.

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Outro exemplo é o sítio da Grotta de Arene Candide (Finale Ligure, Itália) com várias crianças, uma delas de 15 anos de idade, com um rico enxoval, uma espécie de chapéu bordado com conchas perfuradas e quatro pingentes de marfim de mamute. Ela estava deitada ao lado de quatro cajados, um chifre de alce e uma lâmina de sílex de 25 centímetros.

Outra criança com um rico enxoval é de Majoonsuo, um sítio localizado no município de Outokumpu, no leste da Finlândia. O menino tinha entre 3 e 10 anos, vestia uma parka feita de penas de aves aquáticas decorada em vermelho e acompanhada de flechas de quartzo e uma pena de falcão. Possivelmente, um cachorro ou um lobo descansava a seus pés. Tudo isto coberto de ocre, um corante natural com valor simbólico, mas também com função antisséptica.

Quando uma criança se destaca do restante do grupo devido aos pertences que a acompanham em seu túmulo, isso também nos informa que pertencia a uma linhagem importante. Por outro lado, quando o número de crianças é relevante, suscita muitas questões às quais, graças aos estudos genéticos, estamos começando a responder. Podemos descobrir se pertenciam à mesma família, ou qual foi a causa da sua morte.

Com o tempo, os sepultamentos mudaram, assim como as sociedades às quais pertenciam. Na Idade do Cobre, as crianças eram enterradas com outros indivíduos adultos. E, ao lado de objetos de pedra ou ornamentos pessoais em osso e concha, apareceram vasos de cerâmica.

Estes vestígios nos falam de uma vida rica e diversificada em que animais, ornamentos, brinquedos e todos os tipos de ferramentas as acompanharam durante a vida e até após a morte.

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As crianças pré-históricas não eram indivíduos invisíveis dentro do grupo. Tiveram momentos de socialização, exploração e brincadeiras. E quando a despedida era precoce, a dor e luto do grupo eram imortalizados no cuidado e na complexidade de seus sepultamentos e bens funerários. Algo que, hoje, é uma fonte de inestimável valor científico.

*Cristina de Juana Ortín, Personal docente e investigador, miembro del grupo de investigación ART-QUEO, UNIR – Universidad Internacional de La Rioja

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