No Brasil de 2019, os desastres da natureza não tiveram nada — rigorosamente nada — de natural. Os sinais de que o ano seria calamitoso nessa área tiveram início em 25 de janeiro, quando a Barragem 1 da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), de propriedade da Vale, se rompeu, liberando um mar de lama composta de minério de ferro, argila e sílica, que provocou a morte de 257 pessoas. No plano ambiental, as toneladas de rejeitos percorreram 9 quilômetros até envenenarem as águas do Rio Paraopeba, afluente do São Francisco. Perplexo, o país viu se repetir uma tragédia semelhante à de Mariana, também em Minas, ocorrida em 2015 — com os mesmos ecos de irresponsabilidade.
Em julho, a divulgação de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostravam aumento no desmatamento da Amazônia — 278% em relação a igual período de 2018 —, provocou uma troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o então diretor do órgão, o físico Ricardo Galvão. O resultado não poderia ser outro: o servidor acabou exonerado. Era o começo de uma crise bem maior. Em agosto, os focos de incêndio na floresta bateram o recorde dos últimos nove anos, com alta de 196% em comparação a 2018. Satélites da Nasa registraram o que estava acontecendo — e imagens da Amazônia em chamas rodaram o planeta, queimando o respeito que o Brasil havia conquistado pelo zelo com a região.
Na virada para o mês seguinte, praias do Nordeste começaram a ser manchadas de óleo. Até o encerramento desta edição, não se tinham identificado os responsáveis pelo impressionante derramamento do produto — embora o governo federal, que demorou a tomar providências em relação ao problema, houvesse lançado suspeitas a torto e a direito. Cinco mil toneladas de óleo atingiram os estados nordestinos, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O ano terminaria com outro número desalentador: em novembro, o Inpe anunciou que entre agosto de 2018 e julho de 2019 o desmatamento na Amazônia avançara 29,5%. Sim, 2020 começa com um ambiente ruim para a natureza.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667