O degelo na Antártica levou a um aumento de 7,6 milímetros no nível do mar global desde 1992, com dois quintos deste valor (3 milímetros) apenas nos últimos cinco anos, revela um estudo publicado nesta quarta-feira (13) pela revista Nature. A quantidade anual de gelo derretido no continente saltou de 76 bilhões de toneladas, antes de 2012, para 219 bilhões de toneladas, de 2012 a 2017.
“Há muito tempo suspeitávamos que mudanças no clima da Terra afetariam as camadas de gelo polar. Graças aos satélites lançados por nossas agências espaciais, agora podemos rastrear com confiança as perdas de gelo e a contribuição global [que isso representa] para o nível do mar”, diz em comunicado o líder do estudo, Andrew Shepherd, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Os dados foram apresentados pelo Ice Sheet Mass Balance Inter-comparison Exercise (IMBIE, na sigla em inglês) e representam o quadro mais completo da mudança da camada de gelo no continente até hoje.
Para chegar ao resultado, 84 cientistas de 44 organizações internacionais cruzaram informações de 24 pesquisas por satélite, incluindo dados da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), e reconstruíram o histórico de degelo na região.
“De acordo com nossa análise, houve um aumento acentuado no degelo da Antártica na última década, e o continente está provocando uma elevação no nível do mar mais rápido do que qualquer outro momento dos últimos 25 anos”, afirma Shepherd. “Isso há de ser uma preocupação para os governos em que nós confiamos para proteger as cidades e comunidades litorâneas.”
Antes de 2012, a taxa de aumento no nível do mar era de apenas 0,2 milímetro por ano. De 2012 até o ano passado, a elevação registrada foi de 0,6 milímetro ao ano.
O aumento de três vezes na perda de gelo do continente, como um todo, é o resultado de uma combinação da taxa de derretimento registrada na Antártica Ocidental e na Península Antártica com uma redução na capacidade de crescimento do manto de gelo na Antártica Oriental.
A Antártica Ocidental foi a mais afetada pela mudança, com perdas de gelo que passaram de 53 bilhões de toneladas ao ano, na década de 1990, para 159 bilhões de toneladas anuais de 2012 até os dias atuais. A maior parte desse gelo veio das geleiras Pine Island e Thwaites, que estão diminuindo drasticamente por causa do derretimento acentuado.
A camada de gelo do leste da Antártica, porém, permaneceu em um estado de relativo equilíbrio nos últimos 25 anos, ganhando 5 bilhões de toneladas de gelo por ano, em média.
“A próxima peça do quebra-cabeça é entender os processos que impulsionam essa mudança”, afirma Pippa Whitehouse, pesquisadora da Universidade de Durham, também no Reino Unido. “Para fazer isso, precisamos continuar monitorando o manto de gelo de perto, mas também precisamos voltar no tempo e tentar entender como essa camada de gelo respondeu ao clima no passado.”