Enzima de microrganismo potencializa produção de biocombustível
Pesquisadores brasileiros tiram da biodiversidade forma de aumentar em 20% o volume de etanol, sem aumento de biomassa

Um grupo de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) conseguiu provar na prática que conservar a biodiversidade é investir na ciência e na tecnologia. Tudo começou com um importante mergulho na investigação de microrganismos de quatro biomas brasileiros, há quase uma década. Ali foram catalogadas 1900 espécies, que tiveram o genoma sequenciado e foram submetidas a testes exploratórios, que procuram descobrir a função de cada uma delas na natureza. Mas uma bactéria, em especial, batizada de UBP4, ganhou destaque pelo impacto econômico que pode trazer ao setor dos biocombustíveis.
Ela produz uma enzima, conhecida como CelOCE (do inglês, Cellulose Oxidative Clive Enzyme), que aumenta em 20% a produção de qualquer biocombustível, sem que o fabricante tenha de elevar o volume de matéria prima. Um dos desafios do agronegócio é ganhar mais produtividade sem mexer na área plantada. “A descoberta vem em um momento muito oportuno”, disse a VEJA, Mario Murakami, coordenador da pesquisa. Com o aquecimento global e a crise climática, o aumento da produção de combustíveis sustentáveis tem grande apelo econômico e ambiental.
Em setembro, o Brasil bateu recorde em emissão de carbono na natureza, de acordo com o Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus, que registra o setor há duas décadas. O país é o sexto maior produtor de gases de efeito estufa do mundo. No topo do ranking estão China, EUA e Índia. “A biodiversidade de microrganismos é um tesouro nacional”, afirmou Murakami, que publicou nesta quarta-feira, 12, um artigo sobre a nova enzima na Revista Nature, publicação referência em ciência.
Bactérias Importantes
Não tão popular como o universo de animais e das plantas, as bactérias têm importantes funções na natureza e até mesmo na saúde do homem. Exemplo de microrganismos, que estão muito em moda, são aqueles que vivem no trato intestinal, na chamada microbiota. Eles trazem vantagens ao hospedeiro, ao fazer atividades como a recuperação da energia a partir da fermentação de carboidratos não digeríveis. O equilíbrio da microbiota é encarado como um dos alicerces da saúde humana.
Atualmente, as refinarias usam o Trichoderma, fungo filamentoso, para produzir etanol a partir de resíduos agroindustriais. A enzima descoberta da biodiversidade brasileira é mais eficiente: pode elevar a produção de etanol de 10% (taxa atual com o Trichoderma) para até 20%. O centro de pesquisas já recebeu ofertas para desenvolver a tecnologia em escala industrial.