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Existe idade ideal para os atletas olímpicos? Veja o que diz a ciência

Estudos avaliam em que momento da vida atletas de elite costumam atingir seu ápice físico

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 ago 2024, 16h35 - Publicado em 2 ago 2024, 16h18

A chinesa Zheng Haohao, de 11 anos, é a atleta mais jovem das Olimpíadas de Paris. A competidora estava entre as skatistas que disputaram medalhas nesta edição dos jogos, onde a média de idade na categoria feminina era de apenas 16 anos. Haohao é um ano mais velha que Dimitrios Loundras, o ginasta mais jovem da história olímpica, que aos 10 anos ganhou uma medalha de bronze nos Jogos de Atenas, em 1896.

No extremo oposto, temos a australiana Mary Hanna, de 69 anos, a atleta mais velha deste ano. Ela ainda é três anos mais jovem que Oscar Swahn, o atleta mais velho a competir em uma Olimpíada, que conquistou o recorde nos Jogos de Antuérpia, em 1920, na modalidade de tiro ao alvo. Hanna se junta a outros atletas veteranos, como o espanhol Juan Antonio Jimenez Cobo, de 65 anos, em sua terceira Olimpíada, e a canadense Jill Irving, também do hipismo, que compete aos 61 anos. Em outras modalidades, como o tênis de mesa, Ni Xialian e Tania Zeng se destacam ao competirem com 61 e 58 anos, respectivamente.

Diante desse cenário diverso, surge a pergunta: existe uma idade ideal para competir nos Jogos Olímpicos com alto desempenho? Vamos ver o que a ciência tem a dizer.

Velocidade

Um estudo realizado na Universidade de Waterloo, no Canadá, usou dados estatísticos para determinar quando um atleta olímpico atinge seu auge de desempenho em atividades relacionadas ao atletismo, que incluem corrida, salto, arremesso e provas combinadas.

O levantamento analisou dados de desempenho de carreira ano a ano de cada atleta que competiu individualmente nas categorias de atletismo em uma Olimpíada desde os Jogos de 1996, em Atlanta. Foram considerados fatores como gênero, nacionalidade, tipo de prova, tempo de treinamento em nível de elite e se era um ano olímpico. A conclusão sugere que esses atletas atingem seu auge de desempenho físico, em média, aos 27 anos. Após essa idade, há apenas 44% de chance de um competidor ainda alcançar seu pico, com o desempenho físico diminuindo a cada ano subsequente.

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Outro estudo, realizado em 2021 por pesquisadores da Southwestern University, examinou as diferenças de desempenho relacionadas à idade em eventos aeróbicos e anaeróbicos. Os pesquisadores usaram dados das Olimpíadas de 1960 a 2016. Eles definiram eventos anaeróbicos como aqueles com duração inferior a dois minutos e eventos aeróbicos como aqueles com duração superior a cinco minutos, enquanto eventos intermediários foram categorizados como “mistos”. Os resultados apontaram que a idade média para o pico de desempenho anaeróbico é em torno de 23 anos, enquanto para atletas de eventos de maior duração, que exigem melhor desempenho aeróbico, os melhores índices aparecem aos 26 anos.

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DELEGAÇÃO BRASILEIRA: A Skatista Rayssa Leal disputou sua primeira Olimpíada aos 13 anos em Tóquio. Em Paris, continua entre os mais jovens, aos 16. Já o cavaleiro Rodrigo Pessoa é o mais velho da delegação brasileira e disputa sua oitava Olimpíada, aos 51 anos. (Getty/Reprodução)

Em geral, velocistas têm uma abundância de fibras musculares de contração rápida, que geram contrações musculares curtas e vigorosas, mas se cansam rapidamente. As fibras musculares de contração lenta não são tão cheias de ação, mas são muito mais resistentes à fadiga. A quantidade de fibras de contração lenta permanece constante ao longo da vida, mas as fibras de contração rápida começam a decair por volta dos 30 anos.

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Além do impacto físico, a passagem do tempo ocasiona mudanças nas fibras nervosas, que se tornam mais lentas com o avançar da idade. Pesquisas sugerem que o tempo de reação atinge o pico aos 24 anos e diminui em cerca de quatro a 10 milissegundos a cada ano, pelo menos em não atletas. Isso significa que as reações de um homem de 34 anos podem ser até 100 milissegundos mais lentas do que eram uma década antes. Em atividades de alto desempenho, como corridas, essa pode ser a diferença entre a vitória e a derrota.

Flexibilidade

Em modalidades que exigem flexibilidade, como a ginástica artística, os atletas mais jovens também tendem a levar vantagem. Isso porque o corpo costuma perder elasticidade e ficar mais rígido com o passar do tempo. 

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Uma pesquisa no The Journal of Human Sport and Exercise (JHSE) analisou a idade de pico de desempenho nas Olimpíadas de Londres de 2012 e sugeriu que a idade média de um ginasta bem-sucedido era de 24 anos, em comparação com 19 anos para ginastas mulheres. A disparidade entre mulheres e homens reflete diferenças na fisiologia e nas taxas de maturação, bem como nos tipos de eventos em que competem.

Mas, agora, o cenário está mudando. Atletas como Jade Barbosa (33), Simone Biles (27) e até mesmo Rebeca Andrade (25) chegam a disputa mostrando alto desempenho atlético e acumulando medalhas. As razões para esse aumento de idade refletem as mudanças nos regimes de treinamento e recuperação dos dos atletas, que se tornaram mais científicos. A equipe da Grã-Bretanha, por exemplo, emprega um cientista que rastreia as taxas de maturação dos ginastas, calculando sua altura adulta prevista, em parte, para que os treinadores possam ajudar a guiar os atletas com segurança através de surtos de crescimento. Em geral, os atletas estão sendo melhor gerenciados do que no passado, resultando em carreiras mais longevas e sustentáveis. 

Precisão

Quando se trata de modalidades com menos ênfase em atributos físicos, atletas veteranos costumam ser o destaque. Em esportes como tiro, arco e flecha e hipismo, os competidores mais velhos costumam tirar proveito de sua experiência, mostrando-se mais calmos e precisos. Não à toa, as equipes de hipismo costumam ter as médias de idade mais altas que outras modalidades. O britânico Nick Skelton, por exemplo, ganhou duas medalhas de ouro no hipismo aos 54 e 58 anos, respectivamente.

Nos esportes de precisão, os atletas costumam se destacar depois de ultrapassar a casa dos 30 anos. De acordo com o estudo do JHSE, feito a partir de dados das Olimpíadas de Londres, a idade média de um atirador olímpico medalhista de ouro é de 33 anos. Um exemplo que chamou a atenção foi a tranquilidade e segurança do atirador turco Yusuf Dikeç, que competiu descontraído, com as mãos no bolso, e ganhou uma medalha de prata aos 51 anos nos Jogos de Paris, mostrando que a idade, nesse caso, é apenas um número. Cabe lembrar que a maioria das modalidades não estipula uma idade máxima para competir, sendo necessário apenas que o atleta apresente condições de se classificar para os Jogos Olímpicos. Uma das poucas exceções é o futebol, cuja idade máxima é até 23 anos (podendo incluir até três jogadores que ultrapassem esse limite). 

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