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Fogo no Pantanal: maior berço de araras-azuis teve 60% da área atingida

Incêndio começou em uma área vizinha ao Refúgio Ecológico Caiman, onde o Instituto Arara Azul monitora ninhos da espécie

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 nov 2019, 14h17
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  • As queimadas no Pantanal, maior área úmida em extensão do planeta, superaram os focos de calor registrados na Amazônia. De acordo com o WWF Brasil, até outubro de 2019, houve um aumento de 97% do número de focos em comparação à média dos últimos dez anos: foram registrados quase 8.000 incêndios. Segundo a ONG, o total de área queimada passa de um milhão de hectares. A análise, elaborada com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou que os focos de incêndio estão localizados em áreas perto de cidades, rodovias e propriedades privadas.

    O Instituto Arara Azul, que atua há duas décadas na região na conservação das araras-azuis e na recuperação da espécie, fez o primeiro relatório do impacto do fogo sobre a população dessas aves. Um foco de incêndio começou dentro de uma área privada e invadiu o Refúgio Ecológico Caiman (REC), o maior Centro de Reprodução das Araras Azuis no Pantanal, onde atualmente há 98 ninhos cadastrados, sendo 52% naturais e 48% artificiais. A queimada atingiu cerca de 60% da área da reserva Caiman.

    De acordo com o Instituto, 85% dos ninhos estavam sendo ocupados, em preparação ou em disputa pelas araras e outras espécies no início do fogo. Um total de 39 ninhos estavam ativos pelas araras azuis, 15 estavam ativos por outras oito espécies e 30 ninhos estavam sendo preparados pelas araras ou em disputas com outras espécies. A maior parte dos ninhos não foi totalmente atingida pelo fogo, mas 33% dos berços cadastrados foram afetados em diferentes graus de severidade. Em termos de perda total, apenas dois foram destruídos diretamente pelo fogo. Dos 15 ninhos ocupados por outras espécies, 60% foram atingidos pelo fogo, mas apenas um teve a perda total.

    Segundo o engenheiro florestal e especialista em restauração ambiental, Júlio Sampaio, gerente dos programas Cerrado e Pantanal do WWF-Brasil, a situação no bioma é diferente do que aconteceu na Amazônia. “As condições climáticas desse ano estão diferentes dos anos anteriores, pois o clima está bem mais seco e as temperaturas, muito altas, condicionando o fogo a sair do controle. Contudo, o ponto em comum é que ele foi causado pela ação humana. Pecuaristas ainda usam as queimadas para manejar a terra, por exemplo”, explicou. 

    Mesmo sendo a maior área úmida do planeta, o bioma está no período de seca. “Nessa época do ano, o Pantanal está com a água baixa, as áreas inundadas se tornaram secas. Há pequenas áreas de lagoas e rios principais, mas o restante da planície se tornou uma área de terra firme, ocupada pela vegetação savânica e campestre”, explicou. Além das araras-azuis, outras espécies foram prejudicadas. “Não há um animal resistente ao fogo. O contexto que estamos vendo é agressivo para eles. Vários animais morreram e muitas espécies de aves tiveram os seus ninhos incinerados”, afirmou.

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