Formiga-feiticeira tem cor rara que absorve quase toda luz visível
Adaptações evolutivas criaram estruturas que geraram nesta espécie de vespa sem asas uma rara coloração ultraescura

Pesquisadores brasileiros identificaram uma coloração ultrapreta na cutícula da formiga-veludo Traumatomutilla bifurca, um tipo de vespa sem asas. Publicado no Beilstein Journal of Nanotechnology, o estudo revela o primeiro caso documentado desse fenômeno em himenópteros – grupo que inclui abelhas, vespas e formigas. A cor, que reflete menos de 0,5% da luz visível, resulta de uma complexa estrutura microscópica que aprisiona a luz, não apenas de pigmentação.
A cutícula do inseto apresenta lamelas sobrepostas, conectadas por pilares e cobertas por cerdas com nanoestruturas ocas e ranhuradas. Essa configuração prolonga o trajeto da luz, aumentando sua absorção pela melanina subjacente. O efeito é semelhante ao observado em aves-do-paraíso e borboletas ultrapretas, mas com um mecanismo distinto, evidenciando evolução convergente.
Experimentos mostraram que, embora a coloração escura possa influenciar na termorregulação, a temperatura corporal da formiga ficou apenas 2°C abaixo do ambiente – efeito modesto comparado ao isolamento térmico proporcionado por seus pelos. A principal hipótese é que a cor atua como sinal de alerta para predadores, como aves e lagartos. Esses insetos, conhecidos por sua resistência e picada dolorosa, combinam o preto intenso com manchas brancas, reforçando sua advertência visual.
Potencial para biomimética
“São trabalhos importantes até para sugerir aplicações futuras na indústria, principalmente na área da biomimética”, afirma Vinicius Lopez. A descoberta abre caminho para aplicações tecnológicas inspiradas na nanoestrutura da formiga-veludo, como revestimentos antirreflexo, materiais de camuflagem avançada ou coletores solares mais eficientes. O estudo destaca como a natureza pode oferecer soluções para desafios em óptica e engenharia de materiais.