Durante desastres climáticos, a ciência nem sempre está entre as prioridades. No entanto, durante as chuvas que devastaram grande parte do Rio Grande do Sul, um grupo de paleontólogos fez questão de salvaguardar a segurança do seu objeto de pesquisa – e isso proporcionou uma descoberta histórica: o fóssil quase completo de um dinossauro que, ao longo do triássico, era comum nas terras que hoje formam Brasil e Argentina.
Esses guardiões são os pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, na Universidade Federal de Santa Maria. “Para evitar que os novos fósseis fossem expostos pelas fortes chuvas de maio, a equipe tem realizado forte monitoramento na região”, disse Rodrigo Temp Müller, coordenador do grupo, em comunicado.
Foi em uma dessas buscas que eles encontraram o registro histórico de um grande dinossauro, localizado no município de São João do Polêsine. Se trata de uma espécie do grupo conhecido como Herrerasauridae e, de acordo com os pesquisadores, é o segundo mais completo do mundo entre os fósseis dessa família.
[videopress KtLDJc4O]
Por enquanto ainda não se sabe muito sobre o animal ao qual o esqueleto pertenceu, mas ao longo dos próximos meses ele será investigado para que os pesquisadores digam com certeza se essa é ou não uma espécies diferente. Por enquanto, contudo, já é possível saber com alguma segurança qual a sua idade. “Os fósseis desse sítio têm aproximadamente 233 milhões de anos e pertencem ao Período Triássico”, disse Müller.
Em agosto de 2023, uma publicação da Nature deu conta de outro fóssil descoberto pelo grupo nesse mesmo sítio paleontológico. Se tratava de um Venetoraptor gassenae, espécie que foi importante para remodelar o conhecimento a respeito da evolução dos répteis.
Por que a urgência em recuperar os fósseis?
Os processos de intemperismo são importantes para a paleontologia porque eles ajudam a revelar os fósseis preservados – e escondidos – pelo tempo. Eventos extremos, no entanto, como os que atingiram o estado mais ao sul do país, podem danificar essas peças, extremamente sensíveis.
Por isso, é importante que durante esses eventos, quando possível, especialistas estejam à disposição para salvar esses registros históricos antes que eles sejam danificados pela água. “A rocha que abriga o fóssil é revestida por uma camada de gesso, dessa maneira, o material fóssil não é danificado durante o processo de coleta de transporte”, explica Müller. “No laboratório o fóssil passa por um trabalho de preparação. […] Além do esqueleto fossilizado quase completo, os paleontólogos também têm resgatado fósseis em outros municípios da região, incluindo Faxinal do Soturno, Agudo, Dona Francisca e Paraíso do Sul.”