A cópula entre animais do mesmo sexo sempre foi vista como um enigma dentro da teoria darwiniana. Afinal, se não tem um benefício claro para a reprodução ou para a sobrevivencia, por que esse comportamento foi selecionado pela evolução? Até agora, essa era uma questão em aberto, mas um estudo científico publicado nesta terça-feira, 3, sugere que o hábito pode ter uma importante função na manutenção das comunidades.
Esse tipo de interação, que nos humanos foi denominada homossexual, já foi descrita em mais de 1500 espécies e em todos os principais grupos, desde invertebrados, como os insetos, até vertebrados, como os mamíferos. O que os pesquisadores observaram foi que, apesar dessa difusão, o coito entre animais do mesmo sexo é mais frequente em espécies sociais, sugerindo que o comportamento possa ser importante para estabelecer e manter laços positivos.
Para fazer essa investigação, os cientistas pesquisaram sistematicamente todos os casos descritos e, depois, compararam com a árvore evolutiva e com outros hábitos para tentar encontrar correlações. O que eles viram foi que a prática surgiu em várias espécies diferentes de maneira independente e que ela é tão comum em animais do sexo masculino quanto em animais do sexo feminino. Apesar disso, o coito entre machos apresentou uma peculiaridade. Neste grupo, a chance foi maior de permanecer nas espécies em que há adulticidio, ou seja, quando há conflitos entre animais maduros que terminam em morte, sugerindo um papel importante desse comportamento na mitigação de interações violentas.
Os investigadores, no entanto, fazem uma ressalva. “Como testamos apenas estas duas hipóteses, não podemos descartar outros fatores que, em combinação com o comportamento social e com a agressividade, possam promover a evolução do comportamento sexual entre individuos do mesmo sexo”, afirma o autor do estudo publicado na revista científica Nature Communications e pesquisador da Universidade de Almería, na Espanha, José Gómez, em entrevista a VEJA.
Outro achado que também despertou a atenção dos pesquisadores é que o hábito é especialmente comum em primatas, estando presente em pelo menos 51 espécies, como lêmures, macacos, bonobos e chimpanzés. Apesar da proximidade deles com os humanos, os cientistas afirmam que são necessários mais estudos para entender a evolução da sexualidade humana.
É seguro afirmar, no entanto, que, diferentemente do que afirmam grupos intolerantes, interações entre indivíduos do mesmo sexo são tão naturais quanto qualquer outro hábito. “Nós, humanos, somos animais, e seria estranho se o nosso comportamento [sexual], como muitas outras características, não tivesse sido, pelo menos parcialmente, moldado pela seleção natural”, diz José Gómes.