Após o feito histórico da Índia, agora foi a vez do Japão realizar o tão esperado pouso controlado em solo lunar. Nesta sexta-feira, 19, o país completou, com sucesso, a alunissagem do Pousador Inteligente para Investigar a Lua (Slim, na sigla em inglês), se tornando a quinta nação a consegui pousar no satélite natural da Terra, atrás da antiga União Soviética, dos americanos e, mais recentemente, dos chineses e dos indianos. O país ainda é um dos primeiros a chegar próximo ao polo sul do satélite.
Em órbita desde 25 de dezembro, a sonda desenvolvida pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa) deu inicio ao processo de preparação no último dia 10, quando a altura foi progressivamente reduzida de 600 para 15 quilômetros. O processo de descida começou ao meio dia, no horário de Brasília, de maneira autônoma. Após a Slim analisar algumas vezes o solo, em busca do local próximo a cratera Shioli, definida como alvo, a alunissagem ocorreu, sem imprevistos, sendo finalizada às 12h20.
Após checar o status da nave, a agência confirmou o sucesso da operação. No entanto, a mesma análise indicou que o sistema de carregamento solar não está funcionando como esperado. “Acreditamos que o pouso suave em si foi bem-sucedido, pois a espaçonave enviou dados de telemetria, o que significa que a maioria dos equipamentos a bordo estava funcionando”, disse o oficial Hitoshi Kuninaka, em coletiva. “Nossa tecnologia está avançando e nós enviaremos outras naves.”
O pouso em si foi especialmente importante, porque, diferente das outras naves, a alunissagem foi iniciada na posição vertical e o veículo só tomou a posição horizontal após as pernas traseiras tocarem o solo, o que foi possibilitado por apoios esféricos desenhados para absorverem o impacto. Com base no funcionamento das baterias, a nave continua responsiva e enviando dados para a Terra, mas a capacidade limitada deve impedir que tudo seja realizado como planejado. Os rovers levados pela nave foram liberados logo após o pouso e, com funcionamento independente da Slim, eles devem enviar mais informações em breve.
De acordo com os oficiais, uma foto da superfície lunar foi tirada pela sonda e é uma das prioridades da equipe recuperar essa imagem enquanto a Slim continua funcional. Como já era previsto, ainda serão necessários semanas até que seja possível determinar se o pouso foi preciso como se esperava.
Quais eram os planos?
A SLIM foi lançada no dia 6 de setembro, a bordo do foguete H-IIA F47, desenvolvido pela Mitsubishi. Além da missão lunar, o veículo ainda levou ao espaço o projeto de Imageamento Raio-x e Espectroscopia (XRISM, na sigla em inglês), que já está em operação nas vizinhanças terrestres.
A demora incomum ocorreu porque a missão tomou a rota de menor gasto de energia até a Lua, aproveitando os impulsos provocados pela gravidade terrestre e um impulso pela gravidade lunar antes de entrar na órbita do satélite. O principal objetivo dessa missão é testar e aprimorar a tecnologia de pouso, que tem como objetivo atingir a surpreendente precisão de, no máximo, 100 metros de distância do alvo – a melhor até agora foi de valor duas vezes superior a esse. “Com esse tecnologia nós conseguiremos progredir de pousar onde é mais fácil, como tem ocorrido, para pousar onde nós queremos “, disse, em coletiva, Sakai Shinichiro, gerente de projetos da Jaxa.
Além do aprimoramento da alunissagem, algo que será essencial em missões futuras , a nave ainda leva dois rovers que deverão estudar a cratera, o que pode revelar características sobre a geologia lunar.
O que houve com as outras missões e o que se deve esperar?
Uma missão japonesa, a chamada Hakuto-R, operada pela empresa privada iSpace, já havia tentado a alunissagem em 2023, sem sucesso. Toda a viagem até o satélite acontecem sem imprevistos, mas na última etapa, quando os motores deveriam desligar e o pouso ser finalizado, o contato com foi perdido.
Esse foi o primeiro de uma sequência de fracassos. Antes do sucesso indiano, a Rússia também tentou uma alunissagem que não ocorreu a contento, e agora, em janeiro, uma missão privada americana conduzida pela Astrobotic com o apoio da Nasa também falhou em conquistar um espaço no solo lunar.
Em 2024, no entanto, as tentativas devem continuar. Além de uma possível segunda viagem operada pela Astrobotic, uma outra empresa apoiada pelo mesmo programa da Nasa, a Intuitive Machines, deve tentar realizar o feito em nome dos americanos. A China também planeja lançar a missão Chang’e-6, que terá como objetivo coletar cerca de 2 quilogramas de regolito lunar – rochas que, acredita-se, contém água em forma de gelo – e trazer de volta a Terra.
Essas experiências todas entram em um contexto de nova corrida espacial, protagonizada, desta vez, pelos Estados Unidos e pela China. Ambos pretendem levar astronautas de volta ao satélite natural da Terra ainda neste século para o estabelecimento de missões permanentes de exploração. A participação de países menos tradicionais desafia o monopólio das grandes agências e tem o potencial de democratizar a exploração espacial.
Em entrevista a VEJA, em junho de 2023, o porta-voz do Gabinete de Integração e Gestão da Jaxa falou sobre o papel que o país terá ao lado dos americanos. “Japão contribuirá com o programa Artemis com o conhecimento que foi fortalecido através da participação na Estação Espacial Internacional”, disse. A agência fornecerá o sistema de controle ambiental e suporte à vida do módulo de habitação da Gateway, além de construir de um rover pressurizado que conduzirá os astronautas nas missões de pesquisa. “Convencionalmente, concentrou-se na exploração principalmente na área limitada ao redor do local de pouso, mas este rover permitirá explorar mais a superfície por ter a capacidade de viajar por uma área ampla.”