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Mulheres líderes: arqueologia revela o poder feminino nos povos celtas

Celtas da Idade do Ferro seguiam práticas matrilocais, onde mulheres permaneciam em suas terras de origem após o casamento e assumiam papéis centrais

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 jan 2025, 13h01

Uma pesquisa publicada na revista Nature trouxe à tona novos dados sobre a organização social das comunidades celtas britânicas da Idade do Ferro (aproximadamente 800 a.C. a 100 d.C.), revelando que as mulheres desempenhavam um papel de destaque. O estudo analisou o DNA de 57 indivíduos enterrados em cemitérios associados ao povoado de Durotriges, localizado na costa sul da Inglaterra, e concluiu que essas sociedades seguiam práticas matrilocais. Nesse sistema, as mulheres permaneciam nas terras de suas famílias após o casamento, enquanto os homens migravam para viver com suas esposas.

Esse tipo de organização contrasta com o padrão mais comum em outros períodos históricos da Europa, como no Neolítico (cerca de 10.000 a 2.000 a.C.) e na Idade do Bronze (aproximadamente 3.300 a 1.200 a.C.), quando predominavam sistemas patrilocais — nos quais as mulheres se deslocavam para viver com as famílias dos maridos. Segundo os pesquisadores, a permanência das mulheres nas comunidades não apenas moldava a estrutura familiar, mas também influenciava as práticas culturais e econômicas locais.

Rituais funerários indicam prestígio feminino

O estudo também aponta que as mulheres ocupavam posições de destaque, evidenciadas nos rituais funerários. No povoado de Durotriges, que existiu entre 100 a.C. e 100 d.C., sepulturas femininas frequentemente continham objetos de valor, como joias e utensílios. Essas descobertas reforçam a ideia de que elas detinham um alto status social, possivelmente ligado à liderança familiar ou ao controle de propriedades.

Além disso, a análise genética revelou que a maioria dos indivíduos enterrados era relacionada por linhagem materna, confirmando a centralidade das mulheres na formação das famílias. Por outro lado, os homens enterrados nesses locais não apresentavam relação genética com as mulheres, sugerindo que eles migravam de outras regiões para se casar.

Outro dado relevante foi a predominância de um raro marcador genético mitocondrial, conhecido como U5b1, em mais de dois terços das mulheres analisadas. Essa peculiaridade reforça a hipótese de que Durotriges formava uma comunidade fechada, com casamentos ocorrendo majoritariamente dentro do próprio grupo.

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Conexões culturais além da ilha

Apesar de sua estrutura social distinta, essas comunidades não viviam isoladas. A análise comparativa dos genomas revelou conexões genéticas entre a população de Durotriges e outras regiões da Europa, como França, Países Baixos e Tchéquia. Os dados sugerem uma troca cultural constante entre a Grã-Bretanha e o continente europeu durante a Idade do Ferro, que pode ter influenciado aspectos da cultura local, incluindo a introdução das línguas celtas.

Essa interação com o continente parece ter ocorrido em diferentes momentos ao longo da história. Embora grande parte da Grã-Bretanha tenha mantido uma continuidade genética desde a Idade do Bronze (aproximadamente 3.300 a 1.200 a.C.), a região sul, onde se localizava o povoado de Durotriges, apresentou sinais de migração significativa de ancestrais europeus. Isso sugere que a área serviu como um ponto estratégico de entrada para influências externas.

O poder feminino nas tribos celtas

A descoberta de práticas matrilocais e do possível prestígio das mulheres reforça a ideia de que, ao contrário de outras partes da Europa, as comunidades britânicas da Idade do Ferro valorizavam a figura feminina em posições de liderança. Relatos históricos romanos já indicavam que as mulheres celtas tinham maior liberdade e poder em comparação a outras culturas contemporâneas. A figura de Boudica, rainha da tribo Iceni, que liderou uma rebelião contra os romanos no século I d.C., é um dos exemplos mais conhecidos dessa relevância feminina.

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Contudo, os pesquisadores alertam que os relatos romanos podem ter sido exagerados para destacar o caráter “exótico” das tribos celtas aos olhos de um público mediterrâneo patriarcal. A análise genética e arqueológica, por outro lado, oferece uma base concreta para compreender melhor o papel das mulheres nessas sociedades – que não eram apenas figuras centrais na formação das famílias, mas também tinham grande influência nas práticas sociais e culturais. Os autores do estudo sugerem que, embora a matrilocalidade não necessariamente indique igualdade de gênero, ela está associada a uma maior autonomia e prestígio feminino.

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