Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

O ambicioso programa inglês de restauração de Stonehenge

Técnicos recuperam rachaduras e buracos nos megálitos pré-históricos - é um dos maiores trabalhos de conservação realizados em décadas

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h42 - Publicado em 26 set 2021, 08h00

Nos últimos 4 500 anos, Stonehenge, monumento arquitetônico na planície de Salisbury, a 140 quilômetros de Londres, na Inglaterra, foi castigado por toda sorte de intempéries e ações humanas. Ainda assim, resistiu bravamente às marcas do tempo, a ponto de ser considerado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O fascínio justifica-se. As ruínas locais contam uma história que remonta ao período neolítico e remete aos povos que começavam a se estabelecer em comunidades e a criar hábitos e instrumentos para a manutenção da vida cotidiana na região. Resta apenas parte das pedras que um dia formaram círculos concêntricos e foram dispostas de acordo com a posição do sol na época dos solstícios de verão e inverno, talvez para a realização de rituais religiosos ou fúnebres no local — não há elementos suficientes para determinar sua função exata. Pois desde a semana passada, técnicos ocuparam o ponto turístico, um dos mais visitados do país, para recuperar rachaduras e buracos nos megálitos pré-históricos, em um dos maiores trabalhos de conservação realizados em décadas.

CUIDADOS - Técnico examina uma peça: em busca de falhas a serem reparadas -
CUIDADOS - Técnico examina uma peça: em busca de falhas a serem reparadas – (Ben Birchall/PA Images/Getty Images)

O sistema de numeração das pedras, criado em 1880 por William Flinders Petrie, coincide com o início do período moderno de restaurações de Stonehenge. A primeira intervenção documentada aconteceu um ano depois, para impedir a queda de um dos megálitos. Já em 1893, o então inspetor de monumentos antigos alertou para o fato de que muitos blocos corriam o risco de cair. Sete anos depois, às vésperas do Ano-Novo, na virada para o século XX, uma tempestade derrubou a pedra número 22, que ficou inteira na queda, e o lintel (como são chamados os blocos horizontais) número 122, que se partiu em dois pedaços tamanha a violência com que encontrou o chão. Fazia mais de um século que ocorrências desse tipo não eram registradas. Os restauros mais abrangentes e recentes datam do fim dos anos 50 e começo dos 60, e deixaram heranças que deverão ser corrigidas até o final do atual processo de recuperação.

PASSADO - No fim dos anos 1950: ao longo da história, o local passou por diversos ciclos de manutenção -
PASSADO - No fim dos anos 1950: ao longo da história, o local passou por diversos ciclos de manutenção – (PA Images/Getty Images)

Os trabalhos de agora estão sendo coordenados pelo English Heritage, o patrimônio histórico inglês, órgão responsável pela conservação e manutenção dos monumentos do país. Uma das pedras que a equipe vai examinar com mais atenção é justamente a de número 122, cujos pedaços quebrados na queda de 1900 foram “colados” com argamassa de concreto em 1958. A peça restaurada foi recolocada em sua posição original, como uma viga sobre duas outras verticais. Em 2018, quando uma equipe de arqueólogos e geólogos descobriu que alguns dos blocos de arenito foram trazidos de West Woods, uma área florestal a 25 quilômetros dali, os técnicos identificaram que a emenda estava rachando e com pedaços caindo.

Continua após a publicidade

arte Patrimonio

O novo projeto de conservação traz um elemento de curiosidade. Algu­mas pessoas que estiveram envolvidas na intervenção do fim da década de 50 foram contatadas. Entre elas, Richard Woodman-Bailey, que tinha apenas 8 anos na época. Seu pai, o então arquiteto-chefe de monumentos antigos TA Bailey, que liderou o trabalho de restauração, deu-lhe o privilégio de pôr uma moeda sob um dos megálitos. O English Heritage e a Royal Mint, a casa da moeda britânica, providenciaram para que ele, hoje com 71 anos, volte a Stonehenge para colocar uma outra peça comemorativa de prata — cunhada especialmente para a ocasião — dentro da nova argamassa que vai segurar os blocos horizontais no lugar. “Graças à tecnologia e aos nossos monitoramentos, as pedras agora serão capazes de resistir ao teste do tempo”, comemorou a curadora de Stonehenge, Heather Sebire. A humanidade agradece.

Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2021, edição nº 2757

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.