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O que acontece com o cérebro durante um “estado elevado” de consciência

Estudo explica como momentos de intensa clareza mental podem alterar a percepção do tempo, do eu e da própria realidade

Por Steve Taylor*, para The Conversation
27 out 2025, 17h00


Há alguns anos, pulei uma cerca e me vi contemplando um vale. Depois de caminhar por alguns minutos, observando os campos e o céu, houve uma mudança na minha percepção. Tudo ao meu redor se tornou intensamente real. Os campos, os arbustos, as árvores e as nuvens pareciam mais vívidos, mais complexos e bonitos.

Senti-me conectado com o meu entorno. O que estava dentro de mim, como minha própria consciência, também estava “lá fora”. Dentro de mim, havia um brilho de intenso bem-estar.

Este é um exemplo de um estado elevado de consciência — ou, em meu termo preferido, uma experiência de despertar. Experiências de despertar são uma expansão e intensificação temporárias da consciência que transformam nossa percepção do mundo.

Como psicólogo, eu tenho estudado essas experiências há mais de 15 anos. As experiências de despertar são às vezes vistas como misteriosas e aleatórias, mas descobri que, em grande parte, elas podem ser explicadas.

Minha pesquisa descobriu que elas têm três gatilhos principais.

O gatilho mais comum pode parecer contraintuitivo. Cerca de um terço das experiências de despertar estão ligadas a sofrimento psicológico, como estresse, depressão e perda. Por exemplo, um homem me descreveu, como parte da minha pesquisa, como passou por um conflito interno devido à confusão sobre sua sexualidade, o que levou ao fim de seu casamento.

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Mas, em meio a essa turbulência, ele teve uma experiência de despertar na qual, segundo ele: “Tudo simplesmente deixou de existir. Perdi toda a noção do tempo. Perdi a mim mesmo. Tive a sensação de estar totalmente em harmonia com a natureza, com uma enorme sensação de paz. Eu era parte da cena. Não havia mais um ‘eu’”.

Em segundo lugar, cerca de um quarto das experiências são induzidas pela beleza e tranquilidade da natureza. Uma mulher relatou uma experiência de despertar para mim que ocorreu quando ela estava nadando em um lago.

Ela disse que “se sentiu completamente sozinha, mas parte de tudo. Senti-me em paz… Todos os meus problemas desapareceram e senti-me em harmonia com a natureza”. Este tipo de experiências foi frequentemente descrito por poetas como Wordsworth e Shelley.

O terceiro gatilho mais significativo (com uma proporção semelhante ao contato com a natureza) é a prática espiritual. Isto significa principalmente meditação, mas também inclui oração e práticas psicofísicas, como ioga ou tai chi.

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Talvez surpreendentemente, não descobri que os psicodélicos sejam um grande gatilho para estados superiores. Pode ser porque minhas amostras foram retiradas da população em geral, e poucas pessoas experimentaram psicodélicos. E os psicodélicos nem sempre induzem experiências de despertar. Eles podem simplesmente induzir distorções perceptivas ou um estado de dissociação.

Causas das experiências de despertar

Alguns neurocientistas sugeriram que as experiências de despertar são o resultado da estimulação dos lobos temporais (uma das partes mais importantes do cérebro, associada à memória, compreensão da linguagem e emoção). Isso se deve, em parte, ao fato de que alguns relatos de estados superiores de consciência provêm de pessoas que sofrem de epilepsia do lobo temporal.

Outra teoria é que as experiências de unidade surgem quando a parte do nosso cérebro responsável pela nossa consciência das fronteiras (o córtex parietal posterior superior) está menos ativa do que o normal.

No entanto, tais teorias têm sido criticadas por outros pesquisadores pela falta de grupos de controle e replicação bem-sucedida. Embora algumas pessoas que sofrem de epilepsia do lobo temporal possam ter experiências do tipo despertar, é mais provável que elas experimentem ansiedade e desorientação.

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Na verdade, outros estudos não mostram nenhuma conexão entre convulsões e estados elevados de consciência. Outros neurocientistas contestam a afirmação de que a consciência espacial está associada ao córtex parietal posterior.

Talvez faça mais sentido explicar as experiências de despertar em termos psicológicos, em vez de neurológicos.

Muitas experiências de despertar estão relacionadas ao relaxamento e à quietude mental, induzidos pela meditação ou pelo contato com a natureza. Normalmente, nossa consciência se desliga de objetos e ambientes familiares, como forma de economizar energia.

Mas, em momentos de quietude interior, gastamos menos energia mental do que o normal. Como resultado, a energia mental pode se intensificar, gerando uma consciência mais vívida.

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Mas como podemos explicar as experiências de despertar ligadas à turbulência psicológica? Uma sensação de choque e perda pode trazer uma desconstrução dos processos psicológicos normais.

Na maioria dos estados de turbulência, isso pode causar apenas mais angústia. Mas, ocasionalmente, isso pode causar uma transcendência dos modos familiares de percepção e até mesmo uma dissolução de nosso senso normal de ego, causando uma sensação de unidade.

As experiências de despertar são realmente “estados elevados”. Tendemos a assumir que nossa maneira normal de ver o mundo é confiável e objetiva, oferecendo uma visão “verdadeira” da realidade. Mas os estados elevados ensinam o contrário: que nossa consciência típica é limitada e filtrada.

Normalmente, estamos presos a uma percepção automática e familiarizada do mundo. É por isso que os estados elevados trazem uma forte sensação de revelação – porque nos revelam uma realidade mais ampla.

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Como resultado, embora as experiências de despertar normalmente durem apenas alguns momentos a algumas horas, elas costumam ter um efeito transformador na vida. Muitas pessoas na minha pesquisa descreveram uma experiência de despertar como o momento mais significativo de suas vidas.

Em um estudo de 90 experiências de despertar, minha colega Krisztina Egeto-Szabo e eu descobrimos que o efeito posterior mais significativo foi uma mudança positiva, com aumento da confiança na vida, autoconfiança e otimismo. Por exemplo, uma pessoa relatou que “saber que isso existe (ou melhor, está aqui) é uma grande libertação”.

Seria um exagero dizer que podemos induzir estados mais elevados de consciência. No entanto, podemos criar as condições que tornam mais provável que eles ocorram. Sabemos que muitos estão ligados ao relaxamento e à quietude interior. Portanto, podemos tentar cultivar um estado mental tranquilo e relaxado — por exemplo, por meio da meditação e do contato com a natureza. Ao fazer isso, podemos nos despertar para uma realidade mais ampla e profunda.

*Steve Taylor, professor de Psicologia na Universidade Leeds Beckett.

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