Órbita de desafios: os avanços da conquista espacial em 2024
A civilização atingiu novas alturas, mas a transição da ficção científica para a realidade continuará sendo complexa

Foi histórico. No centro dos avanços da conquista espacial em 2024 esteve a missão Polaris Dawn, que marcou a primeira viagem conduzida por uma equipe privada. Jared Isaacman, bilionário e piloto responsável pela nave, e Sarah Gillis, engenheira da SpaceX, realizaram um breve passeio fora da cápsula Crew Dragon a 700 quilômetros da superfície terrestre, no ponto mais alto da órbita atingido por humanos em mais de cinco décadas.
A caminhada espacial, realizada em trajes especiais, foi um teste crítico para o futuro das missões comerciais, seja no preparo de expedições visando ao reparo de satélites privados, seja na busca de metas ousadas como a colonização de Marte. Isaacman e Sarah moveram-se de forma calculada, seguindo uma coreografia precisa, enquanto os dois tripulantes restantes permaneceram dentro da cápsula despressurizada, também equipados para sobreviver ao vácuo do espaço. “Daqui parece um mundo perfeito”, refletiu o líder da empreitada ao observar a Terra.
A missão patrocinada por Isaacman representou a maior altitude alcançada por seres humanos ao léu, soltos no cosmo, desde o programa Apollo, da Nasa, entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1970. A aventura de agora não apenas empurrou os limites tecnológicos, mas também solidificou o papel da SpaceX, do bilionário Elon Musk, e seu projeto de tornar o espaço mais acessível, ainda que para os endinheirados e numa empreitada não isenta de riscos.
Pois os reveses continuam à espreita, como lembrou a estadia forçada e prolongada dos astronautas Sunita Williams e Barry Wilmore na Estação Espacial Internacional após falhas técnicas da cápsula Starliner. Enquanto a Polaris Dawn celebrava conquistas históricas, a nave da Boeing retornava vazia à Terra, em um esforço para recuperar a confiança no programa. O resgate da dupla, previsto para 2025, será realizado por uma Crew Dragon, em uma solução emergencial que simboliza tanto os progressos quanto os obstáculos do setor. A civilização atingiu novas alturas, mas a transição da ficção científica para a realidade continuará sendo uma odisseia de desafios.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924