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Pesquisa recupera momentos finais de animal que viveu há quase 40.000 anos

Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram recuperar e sequenciar o RNA de um animal tão antigo, um feito que era considerado improvável

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 nov 2025, 08h00

Enterrado sob o gelo siberiano há quase 40 000 anos, o corpo de um mamute-lanoso ressurgiu como numa cápsula do tempo. O animal, batizado de Yuka, foi encontrado praticamente inteiro: pele ainda presa aos músculos, tufos de pelo avermelhado, tecido interno preservado e um detalhe raro — muitos de seus órgãos continuavam no lugar. Mas Yuka guardava um último segredo: resquícios de moléculas que registram a vida em movimento. Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram recuperar e sequenciar o RNA de um animal tão antigo, um feito considerado improvável até pouco tempo atrás.

Mas por que, enfim, sair atrás do RNA do mamífero? Por registrar processos em andamento, o RNA funciona como um retrato aproximado do que as células estavam fazendo no período final da vida do bicho. Encontrá-­lo em boas condições em restos pré-­históricos sempre pareceu fantasia. E ainda assim, no interior do corpo congelado de Yuka, fragmentos dessa molécula sobreviveram. A partir de um pequeno pedaço de músculo, os pesquisadores detectaram moléculas relacionadas ao estresse, à contração muscular e ao metabolismo acelerado. Os dados reforçam hipóteses de que Yuka tentou escapar de um ataque de leões-das-cavernas antes de morrer, possivelmente atolado em lama congelada. É o tipo de informação impossível de obter apenas com DNA. “O RNA mostra o que estava acontecendo no corpo do animal naquele instante, quase como um registro biológico dos seus últimos momentos”, afirma Emilio Mármol-Sánchez, um dos autores do estudo. A equipe analisou dez mamutes recuperados no Ártico. Nove estavam silenciosos, já sem registro biológico algum. Apenas Yuka, agora celebrado, guardava sinais ativos do metabolismo que pulsava instantes antes de sua morte. “Tivemos uma única chance perfeita com Yuka”, diz Mármol-Sánchez.

mapa mamute

A descoberta amplia a fronteira do que se pode recuperar de animais extintos. Até agora, o recorde de RNA mais antigo vinha de um filhote de lobo de 14 300 anos. A sobrevivência do RNA, mesmo que parcial, abre a possibilidade de investigar não apenas a genética dos animais, mas seu funcionamento, sua fisiologia, suas respostas a esforço, frio, fome, medo ou dor. No caso de Yuka, o organismo parecia acionado para a fuga.

Os cientistas também se surpreenderam com outro dado: Yuka, descrito durante anos como fêmea com base em sua anatomia externa, revelou-se geneticamente macho. As análises mostraram cromossomos XY tanto no DNA quanto no RNA recuperado. A discrepância pode ser resultado de um erro de identificação inicial, mas há outra possibilidade: a de que o animal tenha apresentado alguma alteração no desenvolvimento genital.

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PISTAS - Yuka preservado: código genético revelou sinais de estresse
PISTAS - Yuka preservado: código genético revelou sinais de estresse (Kazuhiro Nogi/AFP)

A preservação quase completa do corpo faz os cientistas imaginarem quantas outras camadas biológicas podem estar guardadas ali. “Se um fragmento minúsculo de músculo revelou tanto depois de 40 000 anos, imagino o que ainda pode estar escondido nos outros tecidos preservados de Yuka, inclusive o cérebro”, diz Mármol-Sánchez. Para os pesquisadores, Yuka é menos um fóssil e mais um arquivo.

O fascínio mundial pelos mamutes não é coincidência. Eles desapareceram há relativamente pouco tempo; alguns ainda caminhavam por ilhas remotas do Ártico quando o Egito erguia suas primeiras pirâmides. Com Yuka, a ciência deu um passo considerável rumo a uma compreensão mais fina dos organismos do passado. Yuka, enfim, ilumina algo simples e profundo: a possibilidade de entender, com precisão inédita, como viviam e morriam criaturas que desapareceram há milhares de anos. O mamute congelado permanece mudo, mas suas moléculas falam. E, pela primeira vez, foi possível ouvi-las.

Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2025, edição nº 2972

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