Pesquisas científicas em todo o mundo têm revelado uma crescente capacidade cognitiva nas plantas. Através de estratégias de comunicação, reconhecimento e modulação do meio ambiente, elas conseguem se adaptar melhor e se ajustar a condições estressantes. Agora, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná descobriram mais uma dessas táticas: o fitocanibalismo.
De acordo com o artigo publicado no periódico científico Forest Systems, uma planta conhecida como pínus é capaz de expandir suas raízes para dentro de árvores mortas que continuam em pé para obter os nutrientes provenientes da sua degradação. “A análise química dos troncos e das cascas das árvores mortas indicou que as raízes das árvores vivas se aproveitam dos nutrientes liberados dos tecidos em decomposição”, afirma o coautor do artigo, Julierme Zimmer Barbosa, à revista eletrônica Ciência UFPR.
Solos pouco férteis enfraquecem as plantas, provocando rachaduras no tronco e, eventualmente, a morte. Como essas árvores estão em meio a florestas, elas sofrem menos influência dos ventos e, mesmo sem vida, se mantêm de pé. Ao invadir os troncos mortos, os pínus conseguem acelerar o ciclo de reciclagem dos nutrientes, se mantendo mais fortes e resilientes aos ambientes inóspitos.
Em ambientes extremos, como solos degradados, as plantas precisam encontrar maneiras alternativas de obter água e nutrientes. O mais comum deles é o crescimento de raízes aéreas, capazes de aproveitar os nutrientes da serrapilheira – camada de folhas que caem e se acumulam sobre o solo. A invasão de sistemas de esgoto e o crescimento em solos arenosos também já foi observada, mas a exploração dos nutrientes de árvores mortas ainda em degradação, no entanto, ainda não havia sido descrita.
A capacidade é mesmo surpreendente. Segundo os pesquisadores, essas raízes desafiam a gravidade e, cerca de oito anos e meio após a morte de alguns pinheiros, conseguem atingir mais de três metros acima do solo. “A supercapacidade de crescimento de raízes de pínus em busca de nutrientes vai muito além do que conhecíamos”, diz Barbosa. “Isso pode ser interpretado como um indicador de alta eficiência de aproveitamento de nutrientes em sistemas florestais com essa espécie.”
Estudos futuros investigarão a capacidade como as características das florestas conseguem interferir nessa habilidade e avaliarão essa mesma capacidade em árvores de outras espécies.