A Orla da Prainha, área turística da cidade de Canindé de São Francisco, em Sergipe, onde o ator Domingos Montagner mergulhou e desapareceu nesta quinta-feira, é conhecida por ser perigosa. O corpo do ator, que morreu aos 54 anos, foi encontrado no começo da noite.
Essa parte do Rio São Francisco é pedregosa, com uma profundidade que pode ter entre 30 e 60 metros, de acordo com a vazão da água, e muito turbulenta. Redemoinhos são comuns. De acordo com Arisvaldo Mello Jr., professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que desenvolveu um projeto hídrico na região entre 2007 e 2010 e conhece os detalhes do lugar, pessoas que mergulham ali podem ter muitas dificuldades para vencer os fortes fluxos d’água.
“O leito do rio, nesse lugar, apresenta características muito peculiares: é profundo, há muitas rochas submersas e nas margens e as fortes correntes seguem em diferentes direções, formando redemoinhos. Além disso, a declividade ali é grande – o rio tem uma pequena porção rasa, como uma ‘praia de tombo’ – e o fluxo d’água é muito pesado. É muito comum que as pessoas se acidentem ali, seja porque não conhecem essas características ou por outras razões, como cansaço, cãibras ou embriaguez. Se alguém entrar no rio em um momento em que a vazão está elevada, pode ficar à mercê das águas”, explica Mello Jr.
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A prainha fica logo abaixo da barragem da usina hidrelétrica de Xingó e, de acordo com a vazão da água da construção, a água pode ficar ainda mais veloz. O fluxo entre as margens, de cerca de 30 metros de largura, costuma ser acelerado e difícil de controlar mesmo para as embarcações que transitam no local.
“Todas essas características, associadas à velocidade da água, tornam esse trecho muito perigoso. É uma orla que virou uma área de lazer, mas a prática de natação ali deve ser feita com muito cuidado para que as pessoas não sejam tomadas pela correnteza de forma surpreendente”, explica o professor.
Salva-vidas
Segundo informações da prefeitura municipal, a Orla da Prainha foi inaugurada em 30 de julho, com valor orçado em 6,6 milhões de reais. Realizada com recursos provenientes do Programa de Desenvolvimento do Turismo em Sergipe (Prodetur), a Orla conta com um sistema de esgotamento sanitário de ponta, que não permite que as águas do Rio São Francisco nem os lençóis freáticos da região sejam poluídos. Salva-vidas foram contratados para o Carnaval e há placas avisando sobre os riscos da área.
“Já presenciei muitas situações como essa, mesmo de pessoas que já conhecem o rio, como pescadores. Alguém que não conhece o rio pode, infelizmente, ficar vulnerável”, afirma Mello Jr.