Em 3 de maio, a sonda Chang’e-6 decolou da China rumo à Lua para uma missão ousada: trazer amostras do lado oculto do satélite. O desafio era grande, mas, após uma sequência de sucessos nessa missão, a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) a concluiu, nesta quarta-feira, 26, com o afortunado pouso do retornador no deserto da Mongólia.
As capsula agora será levada para Pequim, onde será aberta. As amostras então serão separadas e avaliadas pelos cientistas. “Isto marca o sucesso completo da missão e é, sobretudo, o primeiro retorno à Terra de amostras do lado oculto da Lua”, afirmou a CNSA, em comunicado.
Qual a importância desse retorno?
As expectativas para o estudo dessas amostras são altas. Embora regolitos lunares já tenham retornado antes, o solo da região mais distante da Lua parece ser mais antigo, com mais crateras e menos solos recentes moldados por erupções. O estudo de amostras dessa região deve ajudar a elucidar o porquê dessa diferença, assim como melhorar a compreensão da formação do satélite e do sistema solar.
Em 2020, a missão Chang’e-5 trouxe regolitos do lado mais próximo e permitiu que eles fossem estudados por um consórcio internacional de pesquisadores. Dessa vez, há uma imensa expectativa de que a cooperação com países não envolvidos na missão se repita, em benefício da ciência. “Esperamos sinceramente que tenhamos a oportunidade de repetir este trabalho nas amostras da Chang’e-6 nos próximos meses”, disse ao britânico The Guardian o pesquisador da Universidade de Manchester, Romain Tartèse.
Como foi a missão?
O lançamento da Chang’e-6 ocorreu no dia 3 de maio. Após um mês de viagem, o pousador alunissou com sucesso na Bacia de Aitken, no Polo Sul do lado escuro do satélite, por meio de um sistema automatizado de pouso, para repetir o difícil feito de pousar no lado mais distante da Terra, como já havia sido feito pela Chang’e-4, em 2018.
Como essa região é muito mais acidentada, um sistema visual automático de detecção de obstáculos foi acionado para auxiliar a descida. A 100 metros de altura, esse programa foi reforçado por um scanner 3D que ajudou a definir o local final de pouco. Depois disso, a sonda desceu verticalmente e a alunissagem suave foi auxiliada por um sistema de amortecimento.
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Ao longo de 14 horas, utilizando um braço robótico e uma broca mecânica, a sonda coletou cerca de dois quilos de material para trazer de volta à Terra. Após a coleta, a bandeira chinesa foi hasteada neste lado da Lua pela primeira vez. No dia 4 de maio o ascensor contendo as amostras decolou e se acoplou a um satélite artificial, que então iniciou seu retorno à Terra.
Em que contexto ocorre essa missão?
Essa missão é um marco para o programa espacial chinês e ocorre em meio a um acirramento da corrida espacial. Tanto os chineses quanto os americanos planejam levar tripulações e iniciar a construção de bases permanentes no satélite ainda nesta década, o que deve garantir um protagonismo nas missões espaciais.
Em entrevista a VEJA, em 10 de Maio, o astrônomo da Academia Chinesa de Ciências, Jianzhong Liu, falou sobre os feitos do país. “A exploração lunar da China alcançou várias lideranças, incluindo o primeiro pouso suave no lado oculto da Lua e o primeiro retorno da amostra de basalto jovem. O atlas lunar também é atualmente o mais preciso. Portanto, a exploração lunar da China está em um nível de liderança mundial em certos campos”, disse. “O país, no entanto, ainda não alcançou o pouso lunar tripulado, e o número de variedades de amostras retornadas não são tão abundantes quanto ao dos Estados Unidos.”
Enquanto essa disputa ocorre, outros participantes também buscam um lugar na ciência espacial. Em 2023, a Índia se tornou o quarto país a conseguir realizar um pouso controlado no satélite e, no começo de 2024, o Japão também entrou para essa lista. Além deles, uma missão comercial conseguiu o feito pela primeira vez, inaugurando a participação de empresas privadas nesse disputadíssimo ra