Tatuagens impressionantes são reveladas em múmias peruanas de 1.200 anos
Utilizando uma técnica desenvolvida para estudar tecidos moles de dinossauros, cientistas conseguiram imagens precisas dos desenhos

Uma descoberta recente trouxe à tona um aspecto fascinante da cultura Chancay, que prosperou no Peru há cerca de 1.200 anos. Utilizando uma técnica desenvolvida para estudar tecidos moles de dinossauros, cientistas conseguiram revelar com precisão tatuagens complexas preservadas nas múmias dessa antiga civilização. As imagens obtidas, que trazem detalhes impressionantes, contam uma nova história sobre as práticas artísticas e espirituais do povo Chancay.
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O método utilizado, conhecido como fluorescência estimulada por laser (LSF, na sigla em inglês), elimina os efeitos do tempo sobre a pele mumificada, apagando as marcas de degradação.
Dos dinossauros para os humanos
Os humanos vêm adornando os corpos com desenhos permanentes há milhares de anos. A evidência mais antiga dessa prática remonta a mais de 5.000 anos. No entanto, detalhes sobre essas tatuagens antigas são difíceis de encontrar, pois a pele e os tecidos moles se decompõem rapidamente.
Nos raros casos em que a pele é preservada – geralmente por mumificação –, as tatuagens são difíceis de identificar devido ao escurecimento da pele, à perda de pigmentação e à migração da tinta para os tecidos circundantes.

Foi nesse contexto que uma estudante de doutorado polonesa entrou em contato com os pesquisadores Thomas Kaye e Michael Pittman, especialistas no uso da LSF para revelar detalhes ocultos em tecidos moles de dinossauros. A proposta era aplicar a mesma técnica para desvendar detalhes na pele de corpos humanos mumificados. Pela primeira vez, o método foi usado para estudar múmias tatuadas, e os resultados superaram as expectativas.
Arte e Espiritualidade na Pele
Os pesquisadores analisaram mais de 100 múmias Chancay. Nem todas apresentavam tatuagens, mas aquelas que possuíam exibiam desenhos incrivelmente detalhados. As linhas finíssimas, de 0,1 a 0,2 milímetros, sugerem o uso de agulhas individuais, possivelmente feitas de espinhos de cacto ou ossos afiados, em vez do método mais rudimentar de incisar e preencher.
As tatuagens, comparáveis às padronagens encontradas nos tradicionais tecidos Chancay, indicam que essa arte corporal desempenhava um papel central na expressão estética e espiritual da cultura. Além disso, a variabilidade na qualidade e complexidade dos desenhos reflete diferentes níveis de habilidade entre os tatuadores. Algumas marcas remetem às práticas de aprendizes, enquanto outras demonstram o toque refinado de mestres experientes.

Os detalhes das tatuagens sugerem que elas não eram meramente ornamentais. O tempo e o cuidado investidos em sua criação apontam para um significado profundo, possivelmente relacionado a crenças espirituais, status social ou identidades culturais.
Embora ainda restem perguntas, como os instrumentos e técnicas exatos usados pelos Chancay, a riqueza de detalhes revelada pelas novas imagens amplia significativamente o conhecimento sobre essa civilização e suas formas de expressão artística.
Empolgados com os resultados, os cientistas planejam expandir o uso da fluorescência estimulada por laser para o estudo de múmias de outras regiões do mundo. Tatuagens antigas podem revelar aspectos essenciais das culturas que as produziram, com pistas sobre tradições artísticas, práticas religiosas e a história das sociedades humanas.