Desde tempos imemoriais, um dos maiores fascínios da humanidade é olhar para cima e imaginar o que estaria por trás da estrelas. Estamos sozinhos na imensidão do universo? Podemos algum dia fazer contatos interplanetários? Corremos o risco de sofrer invasões extraterrestres? Por mais que os céticos torçam o nariz para o assunto, certamente são poucas, talvez raras, as pessoas que jamais fizeram tais perguntas, nem que por breves instantes. Os ETs, ou o debate sobre a possível existência deles, andaram em moda entre as décadas de 60 e 80 do século passado, quando a corrida espacial e a força avassaladora do cinema os romantizaram, como se existissem de fato e fossem, sob diversos aspectos, figuras mais encantadoras do que abomináveis. Pouco depois, na falta de provas e com o exagero das teorias excêntricas, os alienígenas acabaram esquecidos, tratados como piadas e viraram foco do interesse apenas de curiosos. Agora, contudo, os ETs estão de volta — pelo menos para um grupo seleto de cientistas e até para o governo dos Estados Unidos.
Há diversas razões para explicar o retorno do tema. Até meados dos anos 2000, ninguém sabia se planetas com condições favoráveis à vida eram excepcionalmente raros ou ocorriam com alguma regularidade no universo. Em 2007, telescópios de alta potência revelaram que havia milhares de exoplanetas girando em torno de estrelas semelhantes ao Sol, o que poderia despertar nas mentes criativas a ideia de existência além da Terra. Desde então, os astrônomos identificaram milhares de planetas e calcularam que a Via Láctea contém bilhões deles, alguns certamente parecidos com o lugar onde a humanidade habita. O mesmo avanço tecnológico, com lentes fotográficas cada vez mais precisas e radares ultrassensíveis, levou ao aumento explosivo do registro de objetos voadores não identificados, os temidos e sedutores óvnis, que, ressalte-se, não são necessariamente extraterrestres, podendo ser apenas peças aladas que os especialistas não são capazes de decifrar.
O conhecimento adquirido nos últimos anos foi suficiente para despertar novamente no campo científico o apreço pelos alienígenas, e são muitos os que agora defendem a ideia de que eles provavelmente existam. “Não faz sentido pressupor que somos o único planeta a abrigar vida”, disse a VEJA o físico americano Michio Kaku, professor da Universidade da Cidade de Nova York e um dos principais divulgadores científicos da atualidade (leia entrevista). Kaku vai além: “Faremos contato com uma civilização alienígena ainda neste século”.
Muitos poderão argumentar que isso é um grande exagero, mas ele não está sozinho. Avi Loeb, prolífico astrofísico da Universidade Harvard e autor de pesquisas provocativas sobre buracos negros, diz que não se trata de discutir se haverá contato, mas quando. Loeb cita o avistamento do objeto espacial conhecido como “ ‘Oumuamua”, que em 2017 passou muito perto da Terra em uma trajetória considerada estranha e em altíssima velocidade. Segundo a Nasa, a agência espacial americana, ‘Oumuamua é o primeiro objeto visto no sistema solar que se originou em outro lugar do espaço, embora os cientistas não saibam exatamente aonde.
Os ETs poderiam estar no horizonte de preocupação apenas de laboratórios de espírito aguçado, mas o governo americano resolveu recentemente chamar mais atenção para o assunto. Em 2020, o Departamento de Defesa divulgou três vídeos que continham imagens gravadas por pilotos da Marinha. Nelas, é possível observar a presença de óvnis que permanecem intrigantes e sem explicação razoável. No mês passado, os militares americanos confirmaram ser verídicos vídeos com registros de óvnis detectados em 2019. Como se não bastasse, o Pentágono anunciou a criação de uma divisão para investigar o assunto e, quem sabe, trazer alguma luz para os debates.
O governo dos EUA parece, de fato, ter dedicado mais tempo à questão. Espera-se para junho a divulgação de um relatório sobre investigações realizadas nos últimos anos pelo Departamento de Defesa. Em entrevista recente ao jornal americano New York Post, Luis Elizondo, que atuou durante uma década como chefe do Programa de Identificação de Ameaças Aeroespaciais Avançadas do Pentágono, afirmou que o documento traz detalhes impressionantes. Segundo ele, há relatos de objetos capazes de voar a 17 000 quilômetros por hora e que mudam de direção instantaneamente, algo impossível de ser realizado pela tecnologia humana. Elizondo disse não ter a menor ideia do que sejam esses objetos e garante que não se trata de invenção. “Essas coisas não têm asas, cabines, superfícies de controle ou sinais óbvios de propulsão”, espantou-se. “Mesmo assim, elas são capazes de desafiar os efeitos naturais da gravidade da Terra. Como isso é possível?”
Por mais que o ex-chefe do Pentágono seja incisivo em suas declarações, a história ensina que é preciso manter distanciamento crítico. Em outras palavras: não custa nada duvidar. Na década de 60, o que se pensava serem sinais de rádio de civilizações avançadas eram apenas pulsos de radiação de estrelas distantes. Em 2015, cientistas renomados disseram que o estranho escurecimento de uma estrela poderia ter sido causado por uma megaestrutura alienígena. Na verdade, tratava-se apenas de um fenômeno prosaico: nuvens gigantes de poeira estavam obscurecendo a visão do telescópio que havia flagrado a suposta transformação da estrela.
Enquanto não houver uma prova irrefutável — algo como uma nave interestelar pousando diante dos olhos maravilhados da civilização —, os ETs continuarão despertando ao mesmo tempo medo, curiosidade e admiração. Para decepção dos crédulos, é razoável supor que a humanidade descobrirá, em vez de contatos frente a frente, vidas extintas em outros planetas, e talvez elas nem tenham sido inteligentes. Mesmo considerando que existam seres de sabedoria superior por aí, a incalculáveis distâncias, é preciso se perguntar por que razão eles viajariam até a Terra. Seja como for, o tema continua tão fascinante como sempre foi — na verdade, cada vez mais.
Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738