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A boa e velha reportagem

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Morte ao vivo

Os atletas radicais se arriscam cada vez mais por uma boa imagem

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h32 - Publicado em 12 dez 2016, 16h30

Os esportes de aventura sempre se destacaram das modalidades convencionais por serem fundamentalmente experiências individuais, em que as histórias de superação pessoal divulgadas ou contadas posteriormente importavam mais do que o espetáculo em torno do feito esportivo. O fã de futebol tem a emoção de descobrir o que vai acontecer numa partida em tempo real, seja pessoalmente no estádio, seja ao vivo pela TV ou pelo rádio. Na escalada de uma montanha, numa travessia oceânica, numa expedição ao Polo Norte ou até no esqui de avalanche, porém, o que valia era o relato posterior, ainda que em vídeo, do atleta que enfrenta as forças da natureza.

A era das transmissões ao vivo por meio de dispositivos móveis está provocando uma revolução na maneira como a história dos esportes radicais na natureza é contada — e aumentando o risco para os atletas, que cada vez mais se rendem à “espetacularização” da aventura. Ao tentar conseguir a melhor imagem ao vivo de seus próprios feitos, os atletas se arriscam mais e perdem a concentração em algo primordial, os cuidados com os procedimentos de segurança. Em agosto passado, por exemplo, o italiano Armin Schmieder transmitiu ao vivo a própria morte pelo Facebook ao fazer um salto de wingsuit de uma montanha nos Alpes, na Suíça. A sua mãe e o seu irmão estavam assistindo.

Não se sabe o que deu errado no salto, porque Schmieder estava sozinho, mas uma pesquisa de Jerry Isaak, professor do departamento de estudos expedicionários na Universidade Estadual de Nova York que foi entrevistado para esta reportagem do site The Outline, sugere que o uso das redes sociais nos esportes outdoor criam uma “pressão invisível” nos atletas. E essa pressão é exercida pelo fato de que, com as redes sociais, é possível transportar os fãs para os locais remotos onde estão os atletas de aventura. E, assim como os gritos de uma torcida incentivam um jogador em campo, as curtidas na página de um saltador, um esquiador ou um escalador servem de incentivo extra para que eles saltem de um penhasco, deslizem por um encosta perigosa ou subam num parede impossível.

As decisões feitas em situações perigosas não são mais feitas pelo aventureiro, disse Isaak para The Outline. E porque os atletas se deixam submeter a essa pressão? Simples. É assim que eles conseguem ganhar a vida. Aqueles que têm uma grande reputação online têm mais chances de conseguir patrocínio. Um levantamento feito pela revista BLiNC, de base jumping, mostra que entre 1981 e 2004, um ano antes do lançamento do YouTube, 84 pessoas morreram praticando o esporte. Nos doze anos desde então foram 226 mortes. Muitas destas mortes foram atribuídas à distração causada pela tentativa de filmar o próprio salto.

Em um ano em que até a ascensão do Monte Everest passou a ser acompanhada ao vivo por milhares de pessoas ao redor do mundo via Snapchat, vale a reflexão: se até os lugares mais remotos do mundo são acessíveis em tempo real aos olhos e ouvidos de qualquer pessoa em qualquer lugar, como preservar o significado dos esportes cuja beleza e mágica consiste justamente numa relação individual e íntima, quase contemplativa, com a natureza?

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