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A boa e velha reportagem

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O homem que virou terrorista para salvar os filhos

Um taxista da Alemanha viajou para a Síria e se juntou ao Estado Islâmico para recuperar os filhos, que haviam sido levados para lá pela própria mãe

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h12 - Publicado em 22 dez 2016, 18h05
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  • Tudo indica que as forças de inteligência e a burocracia alemãs falharam ao permitir que o tunisiano Anis Amri, o principal suspeito do atentado que matou doze pessoas, onze delas atropeladas, em uma feira de Natal na segunda-feira, 19 de dezembro, ficasse à solta no país, apesar de ter ligações comprovadas com radicais islamistas que recrutavam terroristas para o Estado Islâmico. Enquanto isso, um libanês que vive desde os 5 anos de idade na Alemanha — e que se juntou ao grupo terrorista para recuperar os filhos que haviam sido sequestrados pela esposa fundamentalista — está há mais de um ano preso, e pode ser condenado a dez anos de cadeia. Ele é um criminoso ou um herói? A Justiça alemã decidirá em fevereiro. Enquanto isso, conheça a história de Ali R. e tire sua própria conclusão.

    A jornada de Ali, de 32 anos, foi contada em uma excelente reportagem da revista alemã Der Spiegel publicada no dia 18 de dezembro, um dia antes do atentado em Berlim. (O massacre pode complicar ainda mais as chances de Ali no tribunal, dada a comoção que causou e a pressão que acontecerá para que erros como o que permitiram que Amri ficasse à solta não se repitam.) Aqui vai um resumo:

    Ali nasceu em um campo de refugiados palestinos no Líbano e mudou-se com a família para a Alemanha aos 5 anos de idade. Ele é dono, com o irmão, de uma frota de taxis em Berlim. Em 2007, ele se casou com Layla, uma polonesa convertida ao islamismo, com quem tem três filhos: os meninos Subhi Khattab, 6 anos, e Usamah Ali, 5 anos, e a menina Sumaya, de apenas 1 ano. Layla sempre foi mais religiosa do que Ali. Com o tempo, ela foi se tornando mais e mais radical, e pressionava Ali para se mudar para um país com uma sociedade islâmica. Ela não queria que seus filhos estudassem nas escolas de “infiéis” da Alemanha. Eles visitaram, então, a Turquia e o Líbano, mas no primeiro os imóveis eram muito caros e do segundo ela não gostou. Voltaram para a Alemanha.

    No dia 1º de dezembro de 2014, Ali chegou em casa depois do trabalho e a encontrou vazia. Em uma carta, Layla explicava que não aguentava mais Berlim. Por isso, fugiu com as crianças para a Síria, para se juntar ao Estado Islâmico.

    Ali não vacilou. Imediatamente começou os preparativos para resgatar os filhos. Mas, para isso, teria de conquistar a confiança não só da esposa, como dos terroristas aos quais ela tinha se juntado.

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    Pouco tempo depois, Ali estava em Raqqa com a família. Durante quase um ano, ele tratou de enfronhar-se nas estruturas do Estado Islâmico para ganhar as autorizações que lhe permitiriam viajar livremente por seu território. Para isso, teve que fazer treinamento militar e juntar-se aos combatentes. Ferido em um ataque aéreo, foi destacado para trabalhar em uma fábrica de explosivos.

    Mesmo com o salvo-conduto para passar pelos postos de controle do EI, porém, Ali percebeu que precisava de ajuda para levar os três filhos em segurança para fora da Síria. Para isso, entrou em contato com os serviços de inteligência alemães, por intermédio do seu irmão, que continuava na Alemanha e com quem se comunicava por mensagens de celular. Os agentes alemães aceitaram ajudá-lo na fuga, mas em troca ele precisava atuar como espião, dando informações sobre os terroristas.

    Durante meses, o serviço secreto alemão protelou a fuga de Ali para não secar a fonte de informações que ele representava. Até que, finalmente, no dia 31 de outubro de 2015, Ali disse à mulher que levaria os filhos a um parquinho infantil em Raqqa. Em vez disso, entrou em um carro com os três filhos e dirigiu até chegar em território curdo, etnia que luta contra o Estado Islâmico na Síria. No aeroporto em Munique, ele foi preso, apesar de ter feito todo o percurso com a ajuda das autoridades alemãs. Afinal, ele era um terrorista do Estado Islâmico.

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    Ali está na cadeia, aguardando julgamento. Seus filhos vivem com os avós na Alemanha. O irmão de Ali ajuda a cuidar deles.

    Você faria como Ali? Se juntaria ao Estado Islâmico para salvar os seus filhos?

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