Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

A Origem dos Bytes

Por Filipe Vilicic Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.

O Facebook te deixa solitário?

Foi o que apontou um novo estudo americano, alardeado pelas redes. Porém, essa conclusão não é a correta – na verdade, é quase o aposto disso. Entenda

Por Filipe Vilicic Atualizado em 4 jun 2024, 19h06 - Publicado em 7 mar 2017, 18h30

“Compartilho, logo existo”, é a nova máxima do século XXI, versão, digamos, conectada do clássico “Penso, logo existo”, de René Descartes. A frase foi apresentada, em 2011, pela socióloga e psicóloga Sherry Turkle, professora do MIT, nos EUA. Ela é fundadora do grupo de estudos Initiative on Technology and Self (Iniciativa em Tecnologia e Si) e autora de um ótimo livro sobre como a internet estaria deixando as pessoas mais solitárias, o Alone Together (Sozinhos Juntos). E, em entrevistas que fiz com ela e também por um workshop apresentado por Sherry e do qual participei, é notável como a professora é hábil em analisar e filosofar sobre as inovações do século XXI. Agora, um novo estudo, apresentado por psicólogos da Universidade de Pittsburgh (EUA) no periódico American Journal of Preventive Medicine, sugere, em números, que a web e, em especial, as redes sociais acabariam, mesmo, por isolar as pessoas. Será isso mesmo? Duvide.

Sim, os cientistas chegaram a tal conclusão analisando o comportamento de uma penca de gente: 1 787 pessoas, todas cadastradas em redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat. O “porém” é como foi feita a pesquisa e a forma como se chegou ao resultado “assustador”. Ao se perguntar aos entrevistados o quanto eles se sentiam sozinhos, os pesquisadores notaram que aqueles que acessam esses sites e apps mais de 58 vezes por semana são três vezes mais propícios a se identificar como solitários. Trata-se, contudo, de uma análise precipitada dizer que eles se julgam como isolados por usarem as redes em demasia.

Lembro que, em minha adolescência, o culpado pela “solidão” de jovens era o videogame. Achava-se que jogar levava ao isolamento. Entretanto, de uns tempos para cá estudos nos conduziram a uma reflexão distinta. Os videogames, na real, ajudariam a aproximar pessoas, antes sozinhas, a outras com gostos iguais e, assim, formariam grupos. Daí surgiriam, por exemplo, as famosas equipes de jogadores de Counter-Strike – colegas que usualmente eram distantes fisicamente, mas que se conectaram por meio da jogatina online. Quer outra tecnologia que já fora culpada pela solidão? A TV. Só que isso lá no passado. Depois que essa novidade não mais era novidade, mas um utensílio (bem) normal do dia a dia, um grupo de pesquisadores americanos publicou, em 2009, no Journal of Experimental Social Psychology, um artigo científico que apontava uma direção bem diferente: na real, a TV combate a solidão. Na tese, nomeada de “A Hipótese da Barriga de Aluguel Social”, concluiu-se, por meio de experimentos e de pesquisas de campo, que a solidão motivaria indivíduos a procurarem companhia na televisão. Quando passavam a assistir um programa de TV, os participantes relatavam que se sentiam menos solitários.

A “Hipótese da Barriga de Aluguel Social” pode ser aplicada a videogames. E a redes sociais. Não é difícil observá-la empiricamente. No caso dos games, sou um exemplo: quando adolescente, sentindo-se isolado na escola e na família, recorria aos jogos para melhorar o humor. No fim, achei também, em fóruns de discussão e em títulos de RPG online, companhia humana. O que me concedeu maior confiança, para tudo na vida. Em conversas que tive com gamers profissionais (ganham a vida com isso), como Kami e Henrytado (conhecidos assim no meio), craques de League of Legends, todos eram unânimes em dizer que procuraram o videogame numa época em que não encontravam amizades no colégio. No caso de youtubers famosos ou de celebridades “do Facebook”, a história se repete. Vários ouvidos por mim, como Julio Cocielo e Natalia Kreuser, relataram que passaram a fazer vídeos para a internet como uma válvula de escape para o sentimento de isolamento no mundo real. O hábito acabou por aproximá-los de novas pessoas, com interesses parecidos com os deles – isso muito antes de virarem famosos (e, em alguns casos, endinheirados) por suas páginas online.

LEIA TAMBÉM
Vale do Silício desafia Trump e batalhará para manter imigrantes

Continua após a publicidade

Então, minha aposta: diferentemente de como tem sido divulgado por aí, o novo estudo sobre redes sociais e solidão não indica como esses sites isolam os seres humanos. Mas, sim, como servem de reduto a muitos indivíduos, principalmente jovens, que já se sentiam antes sozinhos; e que, no ambiente virtual, têm a chance de encontrar companhias que compartilhem dos meus gostos que eles. Sherry Turkle, a ilustre estudiosa destacada no início deste post, também já concluiu algo parecido. Com um alarme: as novas tecnologias, para ela, poderiam tanto servir de escape aos solitários, quanto para deixá-los ainda mais sozinhos. Entretanto, mesmo com essa conclusão, a culpa não deveria ser jogada na internet, no Facebook ou nos games. Não seria o “meio” o problemático. Mas, sim, a forma como ele é utilizado.

Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, e no Facebook.

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.