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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O que aprender com a reação da cantora Luísa Sonza ao nude vazado dela

Também conhecida por ser casada com o youtuber Whindersson Nunes, ela não baixou a cabeça e assim mostrou que manja mais de internet do que muito “expert”

Por Filipe Vilicic 7 fev 2019, 16h30
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  • Tanto faz se você gosta ou não das músicas de Luísa Sonza. Tanto faz se você a conhece por ser mulher de Whindersson Nunes. A conversa não será sobre música, nem sobre celebridades. Mas sobre um mal moderno: o vazamento de nudes, de vídeos íntimos etc. na internet; e, principalmente, como isso afeta a vida de muita gente (em especial, mulheres).

    Pois Luísa Sonza teve um nude vazado. Era uma foto que ela mandou para o marido e que foi capturada por um hacker. O que costuma querer quem rouba um nude de alguém e joga na rede? Sempre há apenas dois motivos de base: 1. Chantagear a pessoa 2. Humilhá-la publicamente (ou, ainda, ambas as coisas).

    Fora do mundo das celebridades (e, por vezes, também no mundo das celebridades), o crime leva as vítimas a situações de depressão, isolamento. Ou mesmo suicídio. São muitas as histórias de mulheres (usualmente, jovens) que escolhem tirar a própria vida após tal exposição. Assim como se tornou referência o caso de Tyler Clementi, garoto estadunidense que foi filmado, sem consentimento algum, enquanto estava com outro garoto. Após quem gravou ter espalhado as imagens pela internet, Tyler saltou da ponte George Washington, aos 18 anos de idade.

    A gravidade do problema já foi espelhada em fenômenos da cultura adolescente, de séries de TV a documentários. Tudo possível de se encontrar na Netflix. Em reflexo desse tsunami virtual que afeta anônimos e famosos.

    Por anos, celebridades (e com razão) acusavam publicamente o “forte golpe” de hackers que roubavam suas intimidades. Sofriam, expunham a depressão, por vezes acabavam assim por se prejudicar em muitos sentidos. E, ressalta-se, tinham e tem o direito de reagir como quiserem. São as vítimas.

    No entanto, essa linha de posicionamento acabava por dar aos criminosos digitais o que eles ambicionavam. Se os hackers chantageavam, havia quem pagasse (e por vezes os nudes vazavam, de qualquer forma). Se queriam humilhar, o sofrimento em praça pública alicerceava a bandidagem online (sendo o bandido um invasor qualquer ou um ex-namorado). Quem vencia nisso?

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    Para piorar, o comum era que experts em tecnologia, em especial advogados da área, logo viessem com sugestões das mais desviadas. Pipocavam-se recomendações de não se fazer nudes (jamais!). De não mandar imagens calientes nem para seu parceiro amoroso. De limitar os próprios gostos, as próprias taras, as próprias vontades, reprimindo-se, abaixando a cabeça aos hackers. Quem ganhava nisso?

    Aliás, quando hoje se ouve os mesmos experts, os conselhos costumam se repetir. Algo na linha “se não quer que uma foto vaze, jamais tire a foto”. Falam isso para anônimos e famosos.

    Luísa Sonza provou que manja muito mais de internet do que esses tais especialistas. Assim como já fez Felipe Neto (escrevi sobre; clique no link aqui). Assim como tem feito uma série de famosos que enfrentam essa situação.

    “Meninas que passam por isso, não se abalem, não se deixem abalar. Sei que é ruim, é difícil e todo mundo vai falar um monte de coisa de você. Mas não deixem isso abalar vocês. Estou falando chorando, mas não vou ficar mal com isso. É só mais um peito, mais um corpo e a gente é bem mais do que isso”. Disse a cantora; que assim ainda fez jus ao que afirma em uma de suas músicas, “Não liga para o que eles falam. Não para, não”. E seu marido, que também saca mais do que são as redes do que muitos dos que se fazem de sabidos em palestras por aí, logo saiu em apoio.

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    E onde se pronunciaram? Nas redes que os consagraram. Dessa forma, mostram que não vão mudar de postura, de rotina, baixando a cabeça por um(a) mala qualquer que roubou umas imagens de “só mais um peito”.

    Não só isso, ela, a vítima, logo já disse também que acionou advogados e autoridades. Irá atrás do bandido. No fim, o hacker parece que não conseguiu deixá-la para sempre abalada (claro, além do abalo inicial, que pega qualquer ser humano) e nem deve sair ileso.

    Quem sai ganhando com isso? Não apenas Luísa Sonza. Mas todas as vítimas de nudes vazados. Que podem aí se espelhar nos famosos. Não nos muitos experts que querem que encerremos nossas vidas em favor de espertinhos online. O que seria dica parelha a aconselhar algo como: “olha, tem muito crime no mundo; então, melhor nunca sair de casa, nunca viajar, nunca se arriscar… nunca viver”.

    A internet, ainda mais após o advento das redes sociais, transformou conceitos diversos. Como os de fama, privacidade e intimidade. Ensaiei sobre isso em alguns textos deste espaço, como no já citado a respeito do vídeo de Felipe Neto com a mão em ação.

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    Agora passamos por um momento crucial no qual, como civilização e como indivíduos, temos de optar em como nos adequar e reagir a tantas transformações – as benéficas e, particularmente, as maléficas. São nesses momentos em que escolhemos por ceder a pressões autoritárias e de puro banditismo, ou seguir com o progresso, a boa convivência e consideração e demonstração de empatia ao modo de vida de quem tão-somente busca pela felicidade (por vezes, enviando um nude para o marido).

    ***
    Termino resgatando uma história pessoal que compartilhei ao término do texto mencionado a respeito da exposição de Felipe Neto:

    “Uma vez uma amiga me abordou, questionando como reagir a um hacker que capturou umas imagens peladas que ela guardava no e-mail. Orientei a não atender a nenhuma exigência do fulano (que queria dinheiro em troca) e, pelo contrário, ameaçá-lo, dizendo que já havia alertado a polícia e que teria acionado um amigo delegado. Felizmente, após a prensada o hacker voltou atrás e desapareceu da caixa de mensagens dela no Facebook. Como todos esses covardes virtuais, fez isso sem nem antes esperar para ver se as autoridades já o perseguiam; pois a real é que minha amiga nem tinha chamado, ainda, a polícia, nem tinha um delegado dentre os números de sua agenda no WhatsApp.

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    A mesma amiga, chorosa, perguntou se então ela deveria parar de fazer esses vídeos, pois tinha essa prática com seus namorados. Respondi: ‘Eu não faria isso. Curta sua vida como você quiser. Não dê a esses idiotas a satisfação de saber que conseguiram te obrigar a mudar algo em si por causa deles’.”

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