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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Twitter: a caça a posts de políticos como Trump e Bolsonaro pode…

...ser prova de que a rede social jamais foi neutra na forma como trata os usuários? E há problema em não ser neutro?

Por Filipe Vilicic Atualizado em 2 jul 2019, 08h00 - Publicado em 2 jul 2019, 08h00
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  • Golden shower. Xingamentos. Mensagens de cunho racista. Incitações a violência. Promoção de armas de fogo. Ameaças. O Twitter quer começar a esconder tudo isso de seus olhos. Em uma manobra que dará ao Twitter uma cara que ele jurou que jamais teria. Por que a rede social do passarinho azul resolveu adotar tal postura? Sejamos diretos: as mentes por trás do site não querem mais dar cartaz a líderes de movimentos como os da supremacia branca dos EUA, a neonazistas, nem a políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro.

    Regressemos uns anos. Entrevistei, em 2014, para esta VEJA, o então CEO do Twitter, Dick Costolo. Eram tempos (bem) diferentes para as redes sociais. A maioria celebrava, por exemplo, como esses sites, em especial o Twitter, haviam servido de ferramentas para rebeldes enfrentarem governos autoritários no Oriente Médio. Disse Costolo: “Podem ajudar (…) na batalha por causas, como a derrubada de uma ditadura”. Também, acredite, era comum que se visse com bons olhos a maneira como as mídias sociais interferiam na política. Costolo, novamente: “As opiniões se espalham rapidamente pela web e podem levar um político ao sucesso ou ao fracasso (…) campanhas políticas são feitas pensando em como aproveitar da melhor forma o Twitter”.

    Só 5 anos atrás… e eram outros tempos. Muito mudou. Radicalmente.

    Desde então, a opinião se inverteu. As redes sociais passaram a ser cobradas pelo ambiente tóxico que germinaram, de extrema polarização, ideais para a disseminação de preconceitos e de discursos de ódio – e para políticos que se apoiaram em falas raivosas e repressivas para se elegerem. Pela inversão da percepção que se tem desses sites, as próprias mídias sociais se transformaram, adequaram-se (ou, melhor, tentam se adequar).

    Na quinta-feira passada (27), o Twitter tomou uma atitude simbólica nesse sentido. Anunciou que colocará uma tarja de alerta em posts de políticos que contenham imagens violentas, promoção de discurso de ódio, agressões a minorias sociais e etc. Note principalmente o etc. Coloco um et cetera propositalmente. O que o Twitter quer deixar claro é que tudo aquilo que ele considerar ofensivo será mascarado com o aviso. Não só isso. O site também garante que dará menor relevância, em seu jogo de algoritmos, a essas mensagens. Ou seja: usuários devem se deparar menos com conteúdo dessa linha. Ou essa é a promessa.

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    Lá em 2014, questionei Costolo se permitir o anonimato a usuários e que eles falem o que quiserem não poderia levar à polarização das conversas, a extremismos, à promoção de crimes. “Deixamos que os usuários escondam seus nomes para eles se expressarem livremente. Queremos ser um ambiente em que qualquer um possa falar o que quiser, sem ser reprimido, independentemente do teor de suas opiniões”, pontou Costolo na conversa que tivemos – e essa afirmação era então tão óbvia que ficou de fora da edição final da entrevista publicada (mas há outros trechos do diálogo no livro O Clique de 1 Bilhão de Dólares, de minha autoria). “Esse é o espírito do Twitter”.

    O Twitter agora se comporta de forma oposta ao que já fora seu espírito. O que mudou? Nos EUA, o crescimento de movimentos de supremacistas brancos na internet, o que levou à tomada da cidade de Charlottesville em 2017. Assim como a chegada de Donald Trump e seus tuítes ao poder. No resto do mundo, ondas similares se replicaram. Como o tsunami bolsonarista no Brasil. E o mundo passou a compreender como o que ocorre nas redes sociais pode afetar diretamente até o resultado de eleições presidenciais.

    Ou seja, enquanto a maré digital era boa para progressistas, liberais, artistas, rebeldes, o Twitter promovia o “libera geral”. Agora que a maré virou, privilegiando os barcos de reacionários, da alt-right, de homofóbicos, de racistas… o Twitter aos poucos limita a entrada ao site – ou, sendo mais literal, o quanto cada estilo de discurso tem chance de viralizar. Por quê? Pois no Vale do Silício não tem pegado bem servir de janela para o que sempre existiu de mais preconceituoso, raivoso e odioso na humanidade.

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    O Twitter não está sozinho nessa mudança. Pelo contrário. Como demostrei em uma série de textos, publicados há poucas semanas, e frutos de visita inédita a um centro de monitoramento de conteúdo do Facebook, o empenho é compartilhado por todas as gigantes digitais do mundo ocidental (também pelo YouTube, como outro exemplo). Destaca-se o “ocidental”. Na Rússia e na China a história é completamente outra.

    Há quem reclame de pronto: “Cadê a democracia aí nessas redes sociais? Vão me calar por eu ser neonazista?”. Sim, vão. E isso nada tem a ver com ser democrático ou não.

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    Facebook, Google, Twitter são companhias privadas, não governos. Logo, sem qualquer regulamentação nova que indique o contrário, a elas (e unicamente a elas) cabe, num ambiente democrático, decidir quem poderá circular por seus domínios. Assim como você e eu podemos decidir quem receberemos em nossas casas.

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