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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Vale do Silício desafia Trump e batalhará para manter imigrantes

Google e Facebook estão entre os que já se prontificaram contra as recentes políticas do novo presidente americano

Por Filipe Vilicic 28 jan 2017, 10h50
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  • Ao que o presidente americano Donald Trump (e sempre que escrevo seu nome me vem à mente Donald Duck) anunciou suas novas medidas anti-imigração, gigantes da tecnologia como o Google e o Facebook protestaram e começaram a adotar medidas para proteger seus funcionários. Esse pode ser só mais um round nas brigas que certamente ocorrerão entre os liberais do Vale do Silício para os quais, por tradição, o capital intelectual global não deve se submeter a fronteiras (entre os que sempre defenderam essa visão, por exemplo, estão os icônicos Steve Jobs, falecido fundador da Apple, e Bill Gates, da Microsoft).

    Ocorreu que as ações de Trump contra a entrada nos EUA de cidadãos de seis países – todos ligados à religião muçulmana – afetou diretamente essas empresas. Isso porque, são justamente imigrantes que impulsionam o sucesso dessas companhias. Vale lembrar, por exemplo, que o Google tem um russo entre seus fundadores (e seu atual CEO é indiano); o Facebook, um brasileiro; o Instagram, outro brasileiro; o icônico Elon Musk, da Tesla e da SpaceX, é sul-africano. Na Califórnia, são muitos os exemplos de empreendedores e alto-executivos que vieram de fora. Inclusive, de países muçulmanos.

    No caso do Google, a empresa pediu para que funcionários nascidos nas nações banidas por Trump, e que estivessem em viagem – à trabalho ou lazer –, voltassem imediatamente aos EUA. Antes que seus vistos não fossem mais aceitos. Alguns tiveram de cancelar férias para não correr o risco de perder seu emprego e sua residência.

    Já Mark Zuckerberg, o todo-poderoso do Facebook, escreveu o seguinte sobre as novas restrições de Trump:
    “Meus bisavós vieram da Alemanha, da Áustria e da Polônia. Os pais de Priscila (sua esposa) são refugiados da China e do Vietnã. Os Estados Unidos são uma nação de imigrantes, e têm de se orgulhar disso. Como muitos de vocês, estou preocupado com o impacto das recentes ordens executivas assinadas pelo presidente Trump”.

    Essas ordens executivas preveem, por exemplo, o banimento de refugiados sírios e a suspensão de 90 dias de qualquer um que chegue do Iraque, da Síria, do Irã, da Líbia, da Somália, do Sudão e do Iêmen. Isso inclui donos de “green cards” ou de vistos de trabalho. Categorias nas quais se encontram centenas de talentosos funcionários de empresas como o Google e o Facebook.

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    As inovadoras representantes do Vale do Silício já indicaram que acionarão advogados para manter seus empregados no país. Aqueles provenientes dos territórios não bem-vistos por Trump e que estão radicados nos EUA não serão entregues de mão beijada ao governo republicano. Contudo, o que essas empresas não vão conseguir, mesmo: assegurar a entrada de familiares desses radicados, que queiram visitá-los para matar a saudade; já começam a ser divulgados relatos de indivíduos que possuem green card e visto de trabalho, estão em território americano, mas não conseguiram receber seus pais ou filhos que chegaram para vê-los, pois esses foram barrados em aeroportos.

    Por trás desse discurso do Vale, há ainda outra preocupação. O impedimento da entrada de mentes pensantes, de qual origem for, nos EUA pode levar a um empobrecimento intelectual. Recordo, por exemplo, de um papo que tive com o respeitado astrofísico e biólogo americano William Henry Press, em um encontro que tivemos em Boston. À época, em 2013, ele presidia a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), que publica a mais prestigiada revista científica do planeta, a Science, e era consultor do governo de Barack Obama. No meio do papo, o que ele destacou:
    “É triste perceber que os EUA não têm mais sido um real líder no desenvolvimento acadêmico de seu próprio país. Isso porque, os melhores cientistas que temos em nossas universidades foram, na verdade, importados de outros países. Muitos dos prêmio Nobel que levamos oficialmente para os EUA, por exemplo, não são, na verdade, concedidos a americanos. Mas, sim, a alemães, indianos e outros que estão radicados aqui. O motivo: nós temos o dinheiro para atrai-los; só que parece que estamos perdendo a força para criar nossos próprios gênios.”

    Ou seja, sem imigrantes, perdem os EUA. O Vale do Silício sabe disso. Acadêmicos americanos sabem disso. Tudo indica que Trump não sabe disso – ou não liga; ou não se importa; ou segue alguma agenda ainda incompreensível, para dizer o mínimo.

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