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Trechos inéditos de livros que estarão em breve nas prateleiras. Editado por Luísa Costa.
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Leia conto inédito de ‘Acerto de contas’

Livro organizado por Daniel Galera traz boas amostras da nova literatura policial latinoamericana

Por Luísa Costa Atualizado em 18 ago 2017, 22h22 - Publicado em 18 ago 2017, 22h08
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  • É mérito de bons romances policiais, além de instigar o leitor com crimes e investigações, escancarar todas as feridas morais que nos levam aos extremos da violência. O livro de contos Acerto de Contas (Companhia das Letras, 288 págs., R$ 49,90), além da incontornável aliteração, nos traz uma bela amostra do gênero nas mãos de escritores latinoamericanos – e todas as mazelas sociais do continente que resultam em uma criminalidade gráfica a cada letra.

    Organizado pelo escritor brasileiro Daniel Galera (autor de Barba Ensopada de Sangue), a coleção de contos foi originalmente publicada na revista literária americana McSweeney’s e traz treze autores de dez países, entre estreantes e veteranos. Um dos convidados do livro, que será lançado na próxima sexta (25), é o editor matogrossense Joca Reiners Terron, autor de Do Fundo do Poço Se Vê a Lua. 

    Em seu conto O Sol dos Cegos, ele passeia conosco em uma São Paulo de chacinas, do ponto de vista de um polonês frequentemente com consciência (digamos) alterada. Confira:

     

    “O sol dos cegos

    1
    Stefan Czarniecki nunca se acostumaria ao sol dos trópicos. A luminosidade era branca, ampla, direta, funda, densa, quase sólida e latejava bem detrás de seu globo ocular esquerdo, no nervo ótico, enquanto acompanhava policiais militares em meio aos barracos. O que ele, um corretor de seguros polonês, fazia em uma favela de São Paulo? Mesmo que fechasse os olhos, as pálpebras eram transparentes demais, cílios de ratazana de laboratório. Aquele ataque aos sentidos não passava do modo grosseiro que o sol arranjou para lhe desejar boa tarde. Saíram da viela cercada de tapumes úmidos em direção à luz, deixando o rastro de comida queimada para trás, zanzando entre as cabeças escuras que se insinuavam pelas fendas das janelas. Podia ver suas sandálias recém-compradas no lobby do hotel e a poeira avermelhada que erguiam a cada passo se acumulando nos cantos das unhas dos pés. Logo adiante, o calcanhar do coturno militar chafurdava nas poças. entraram em um campinho de futebol. Tufos de mato ressequido, pelotas de lama da chuva da noite anterior endurecidas pelo calor. Gotas de suor escorreram-lhe da testa, nublando sua visão. No céu, silhuetas dos urubus em voo espiral indicavam que haviam chegado ao local. O pau que sustentava o travessão caíra, a meta nunca lhe parecera tão desguarnecida. Porém, não havia nenhuma chance de gol por ali, nem de vitória. Na mancha branca da paisagem quase apagada pela luz solar se destacava um núcleo ainda mais branco do que tudo ao redor. E então, no epicentro da pintura, um borrão vermelho. Fedor de sangue coagulado. Debaixo das solas, uma consistência de areia empapada. Como se o pintor da cena tivesse resolvido enfiar um cubo sanguinolento naquela alvura toda em grossas pinceladas de tinta contra o monopólio do branco. Stefan espremeu os olhos para enxergar melhor. O policial disse: ‘Que barbaridade, nunca vi nada parecido com isso’.

    Fedor de sangue coagulado. Debaixo das solas, uma consistência de areia empapada. Como se o pintor da cena tivesse resolvido enfiar um cubo sanguinolento naquela alvura toda em grossas pinceladas de tinta contra o monopólio do branco. Stefan espremeu os olhos para enxergar melhor. O policial disse: ‘Que barbaridade, nunca vi nada parecido com isso’

    A cruz vermelha no vidro traseiro indicava que o cubo se tratava de uma ambulância. Uma maçaroca de carne crua ocupava todo o interior da parte de trás. Devia haver uns quinze cadáveres no espaço destinado às macas. Talvez vinte, como saber.

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    Ninguém conferiu se o número estava certo. Stefan olhou sem querer olhar.

    — E os rrodas do embulência?
    — Pfff! — disse o policial. Limpava os dentes com o mesmo palito que usara para coçar a orelha.
    — Pfff? — disse Stefan. — No comprreende.
    — Pfff — disse o policial, batendo asas com as mãos. — Saíram voando.

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    No assoalho do passageiro da frente, Stefan encontrou um lenço caído. Lembrou-se de outro lenço como aquele, um lenço
    que pertencera a seu falecido avô. Mas este era de criança. Era rosa, e havia um nome cerzido nele: Carolayne.

    Com um lenço nas mãos e outro na lembrança, Stefan fechou os olhos e viu um bando de manchas negras. A visão durou um segundo ou talvez menos; quando abriu os olhos, não sabia quantos urubus tinha visto. Era um número definido ou indefinido? O problema envolvia a questão da existência de Deus. Se Deus existia, o número era definido, porque Deus sabia quantos urubus ele tinha visto. Se Deus não existia, o número era indefinido, porque ninguém podia fazer a conta. Nesse caso, Stefan estava certo de que vira menos de dez urubus pousados sobre a ambulância e mais de um, mas não viu nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três ou dois urubus. Viu um número entre dez e um, que não era nove, oito, sete, seis, cinco etc. Esse número inteiro era inconcebível. Ergo, Deus não existia.

    — Não pudemos enfiar os defuntos nos sacos plásticos — disse o policial, afugentando um urubu da ambulância com seu cassetete. — Pois não dá pra saber onde termina um corpo e começa outro.

    Stefan pediu licença com um breve aceno, tropeçou para trás no facho branco de luz estendido na viela e vomitou seu almoço.

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    2
    Stefan Czarniecki, Stefan Czarniecki. Não houve saída para ele, a não ser acatar ordens de seu chefe (ou seja, minhas ordens) no escritório da WTF em Munique e voar até São Paulo a fim de negociar a renovação da apólice que cobria a frota de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da prefeitura. A sorte nunca esteve ao seu lado, sei disso, mas mandei-o mesmo assim. Para ser honesto, era difícil saber quais qualidades Stefan tinha, na verdade, observando-o arrastar com esforço seus cento e trinta quilos ornamentados por bermuda e camisa floridas para fora do automóvel alugado em frente à subprefeitura da Lapa na manhã seguinte à visita ao campo de futebol. Ele tinha apenas uma qualidade especial, sem dúvida, mas estava bastante oculta. Um flanelinha encostou e pediu dinheiro para vigiar o carro. Stefan não o entendeu, mal podia enxergar o moleque por causa do sol. O flanelinha disse dólar, dólar, esfregando polegar e indicador diante da cara avermelhada de Stefan, que afinal compreendeu, não sem antes ficar completamente rubro. O flanelinha era negro retinto e muito magro; Stefan era ruivo, gordo demais. Não fosse a rudeza do flanelinha, pareceriam boas-vindas dadas por um terráqueo a um marciano.

    A mão do acaso sempre dirige um veículo segurado por nós, costumava dizer o chefe, e repetiu isso mais uma vez enquanto Stefan imaginava a mão do acaso que vacilava, causando um desastre aéreo sobre uma plantação de maconha.

    Stefan era polonês. No fundo tinha alguma perspicácia, pois sempre considerou irônico um polonês trabalhar para uma companhia de seguros alemã. Alemães nunca foram conhecidos por passar aos poloneses qualquer sensação de segurança, ele costumava pensar. Nas duas semanas em que se preparou para viajar ao Brasil, estudou português via Skype com uma professora angolana que vivia em Berlim. Ele cogitou que talvez fosse boa ideia jogar todas as suas fichas e não voltar mais, afinal a Europa não estava indo nada bem. Também descobriu que a maconha sul-americana era razoável, e que o presidente brasileiro, um socialista bigodudo de chapéu-panamá e bonachão que vivia numa fazenda, estava liberando o uso da droga. Era um atrativo e tanto para ficar por ali. Além disso, havia o sol. Ele gostaria de se bronzear em uma praia, embora duvidasse que isso fosse possível. Suas sardas ardiam com facilidade.

    Quando pisou no aeroporto de Cumbica e viu cães farejadores de droga estendendo os focinhos em direção a sua camisa havaiana que recendia a haxixe (não a lavava fazia seis meses), achou que errara de conexão. Havia algo de errado, mas não era isso, conforme depois descobriria na internet: o país que pretendia liberar a maconha se chamava Uruguai e o presidente do Brasil usava barba, não chapéu-panamá. Nunca tinha ouvido falar do Uruguai, e ao procurá-lo no mapa entendeu o motivo.

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    Despertou com o telefone no meio da madrugada. Era seu chefe. Acontecera um sinistro com uma das ambulâncias da prefeitura. Não sabia mais detalhes, apenas que Stefan teria de fazer a vistoria, e aproveitar para mostrar serviço. A mão do acaso sempre dirige um veículo segurado por nós, costumava dizer o chefe, e repetiu isso mais uma vez enquanto Stefan imaginava a mão do acaso que vacilava, causando um desastre aéreo sobre uma plantação de maconha. Era esse o principal defeito de Stefan: sua concentração rapidamente virava fumaça.

    Dois dias mais tarde, depois de se desvencilhar do flanelinha, Stefan entrou na sala de espera da prefeitura onde tinha hora marcada na Secretaria de Saúde. Na parede do guichê envidraçado no qual trabalhavam assistentes sociais havia uma foto do secretário em traje militar. Desde sua chegada, Stefan vira soldados em todos os lugares, agora encontrava outro, em um cargo executivo. Aquele não era um país democrático? Ou seria o Uruguai o país democrático? A fila era enorme, o secretário parecia ter muitos problemas a resolver. Pessoas com nuvens negras em lugar de rostos que Stefan tentou contar: eram mais de cinquenta, menos de cem. O policial militar que o acompanhara ao local do sinistro no dia anterior o reconheceu, depositando-o no final da fila. Nas portas ao longo do corredor, diversas placas afirmavam: O DESACATO A FUNCIONÁRIO PÚBLICO NO EXERCÍCIO DE SEU TRABALHO É CRIME — PENA DE SEIS MESES A DOIS ANOS DE RETENÇÃO OU MULTA.

    Na longa sequência de cadeiras enfileiradas, apenas uma mulher chorava. Tinha o corpo dobrado sobre si, a cabeça pousada sobre as próprias pernas e uma criança pequena segurava sua mão. Seu pranto era breve e baixo, como um soluço sem intervalos. Stefan aderiu ao silêncio do restante da fila, enquanto acariciava o lenço rosa dentro do bolso florido de sua camisa. Era a melhor forma de atrair a atenção espiritual de Zofia. Pensou: um veículo usado para salvar vidas entupido de gente assassinada. Mas como o lenço foi parar na ambulância?

     

    Em situação não muito diferente da enfrentada por Brayan, os outros pedreiros — todos fiéis da mesma igreja evangélica e igualmente desempregados — nada argumentaram sobre o despudor da construção. Começaram a escavação tão silenciosamente a ponto de parecer que faziam um sepulcro, não uma piscina

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    Uma semana antes da chacina, Brayan suava frio dentro do ônibus a caminho do trabalho. Fazia um sol danado naquele dia, mesmo assim sua mão parecia gelada como a de um sapo. Há tempos que não encontrava emprego fixo, desde que o demitiram do cargo de assistente geral de um condomínio da zona oeste. Prestava serviços de eletricista, marcenaria e construção, porém não fazia nada disso direito. Na esquina, ao voltar do culto certo dia, reencontrou o velho Caçamba, mestre de obras cuja especialidade era construir templos evangélicos. Tinha serviço a oferecer, em uma mansão do Morumbi, e o ofereceu. Pagavam mixaria, mas a filha de Brayan estava muito adoentada e ele aceitou. Desceu no ponto de ônibus mais próximo e caminhou cerca de dois quilômetros até a mansão. Na porta o esperavam outros desempregados de seu bairro. Um tio, três primos e dois sobrinhos. Falaram que aquela era a casa do pastor. A casa parecia coberta por vegetação desde os muros de pedras que a protegiam da rua, estendendo-se ao telhado e às paredes que davam no pátio interno onde se encontrava o terreno da obra a ser construída. Vidros escuros nas janelas não permitiam ver o interior da casa. Um imenso negro careca ostentando terno preto e gravata recebeu a todos. As únicas palavras que disse foi que deviam trabalhar em silêncio. Da maneira como foi dita, a frase não soava nem um pouco ambígua: deviam trabalhar quietos, assim como era obrigatório ficarem em silêncio a respeito da natureza da obra. O velho Caçamba mostrou aos pedreiros de que se tratava: na planta não assinada, o projeto exibia o desenho de uma enorme piscina em forma de bunda feminina. O ângulo era inusitado: de frente (ou de trás, para ser mais preciso), revestida com pastilhas e azulejos em diversos tons de carne que forneciam ao revestimento do fundo da piscina o relevo glúteo a ser preenchido com água azul-anil. No centro da bunda, no local correspondente ao ânus, seria instalada uma fonte luminosa. Em situação não muito diferente da enfrentada por Brayan, os outros pedreiros — todos fiéis da mesma igreja evangélica e igualmente desempregados — nada argumentaram sobre o despudor da construção. Começaram a escavação tão silenciosamente a ponto de parecer que faziam um sepulcro, não uma piscina.

    Tudo parecia em perfeita ordem. Havia, porém, uma inconsistência nos números das planilhas de Stefan. Embora o número de ambulâncias fosse mais do que suficiente para atender a população, a quantidade de prontos-socorros não era

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    Enquanto aguardava ser atendido, Stefan fazia contas. O sol era tão forte que irrompia pelas janelas basculantes ao longo do corredor, iluminando as pessoas na fila de espera. Um raio de sol caiu sobre a mãe prostrada e sua criança, deixando-as transparentes e irreais. Para poder enxergá-las, Stefan apertava os olhos ao máximo, fazendo com que lágrimas caíssem em profusão. As lágrimas deixavam a imagem ainda mais turva. Em sua pasta, Stefan carregava uma planilha com todos os custos e números da apólice milionária da WTF, além de descontos e vantagens necessárias para convencer o secretário a renovar o seguro das ambulâncias. Aquela cidade tinha cento e setenta e um veículos, sendo que cento e quarenta estavam em operação e os quarenta restantes pertenciam à reserva técnica. Não era uma estimativa ruim. De acordo com seus cálculos havia uma ambulância para cada oitenta e dois mil habitantes, índice adequado ao fornecido pela Organização Mundial da Saúde de uma ambulância a cada cento e cinquenta mil habitantes. Antes de entrar na fila para ser atendido pelo secretário, Stefan inspecionara as ambulâncias estacionadas no pátio em frente ao pronto-socorro da Barra Funda. Estavam em boas condições, eram veículos novos. Tudo parecia em perfeita ordem. Havia, porém, uma inconsistência nos números das planilhas de Stefan. Embora o número de ambulâncias fosse mais do que suficiente para atender a população, a quantidade de prontos-socorros não era. Existiam somente doze prontos-socorros em funcionamento na cidade. Daí as filas aparentemente infinitas diante dos hospitais e de todas as seções de serviço público. Sem pronto atendimento em hospitais, aquelas pessoas se amontoavam em frente ao guichê da assistência social — e do Centro de Controle de Zoonoses, dos Postos de Vacinação, do Departamento de Trânsito e de qualquer escritório do serviço público destinado a resolver outros tipos de demandas — com a esperança de serem atendidas por um médico. Só que não havia nenhum médico ali, nem nos outros lugares. Através do vidro embaçado da janela, a luz solar atingiu os olhos entreabertos de Stefan, arrancando-lhe lágrimas. Sem pensar direito, atordoado pela luminosidade, tirou o lenço rosa do bolso e enxugou o rosto. Ao fazer isso, percebeu que do outro lado do corredor a mãe por um momento saiu de sua prostração e ergueu o olhar para ele. Na verdade fitava o lenço em suas mãos. Reconhecera alguma coisa.

    No entanto, o mestre de obras se comportara de um jeito irreconhecível ao longo daquele primeiro dia de trabalho. Nem parecia o devotado irmão que Brayan conhecia dos cultos evangélicos

    5
    Na madrugada em que voltou para casa depois de sua primeira jornada de trabalho na mansão, Brayan encontrou sua mulher sentada na soleira da porta. A menina mais nova fazia tranças no longo cabelo da mãe. Brayan não disse nada, apenas saltou vagarosamente por cima de ambas e entrou direto na cozinha, dirigindo-se ao quarto único que o casal dividia com as duas filhas. Carolayne estava deitada, olhando o zinco furado do teto com olhos brancos. Antes, em tempos melhores, ela costumava dizer que os furos lembravam estrelas. Ao lado da cama, uma bacia de plástico estava quase cheia de vômito com laivos de sangue. A mulher apareceu no quarto.

    — Conseguiu vaga pra menina na enfermaria? — disse Brayan.
    — Não — ela disse. — Faltei no… — a voz dela implodiu, não chegando a pingar o ponto final na frase. Brayan botou sua mão de sapo suarento na testa da menina. Ardia em febre.
    — Piorou muito.

    Depois, sentou-se em silêncio na soleira, acendeu um cigarro e admirou as estrelas de verdade, não as do teto de zinco todo furado. Gostaria de pensar em uma saída imediata para ajudar a filha, porém só conseguia fazer contas de resultados insondáveis, pois não sabia calcular direito. A obra deveria terminar em duas semanas, então com absoluta certeza receberia o pagamento no máximo em vinte dias. O valor seria suficiente para pagar dois aluguéis atrasados e a conta no mercado, ou ao menos parte dela, mas não chegaria a tempo de levar Carolayne a uma clínica particular. Tuberculose. Um vizinho lhe disse que não acreditava que ainda morresse gente daquilo. E o que estava acontecendo com sua filha, não estava prestes a morrer daquilo? Os números se embaralharam na cabeça de Brayan e ele parou com as contas sem ter chegado a nenhuma solução.

    E se pedisse parte do pagamento adiantado ao Caçamba? No entanto, o mestre de obras se comportara de um jeito irreconhecível ao longo daquele primeiro dia de trabalho. Nem parecia o devotado irmão que Brayan conhecia dos cultos evangélicos. Permaneceu apartado dos pedreiros enquanto trabalhavam, em silêncio ao lado do negro de terno. Dava para ver o relevo do coldre da pistola debaixo do paletó daquele cara, e ele ficava o tempo todo com fones de ouvido sem soltar um pio. Quando foi beber água, Brayan se aproximou um pouco dele. Percebeu que o negro ouvia somente estática nos fones — em volume tão alto que podia ser escutada por quem se aproximasse do bebedouro, ao lado de onde ele permaneceu o dia inteiro, duro feito uma estátua. Que tipo de gente ouve barulho de estática tão alto nos fones de ouvido o dia inteiro? A maioria das pessoas ouve música, por pior que seja seu gosto. Aquilo não era normal.

    Caçamba parecia com medo.

    Da profundeza dos corredores daquela mansão saía um vento encanado muito frio que arrepiou a espinha dos pedreiros.

    Ainda hoje eu e ele discutíamos os malefícios da bebida, daí lembrei que ele não bebe mais. Mortos são abstêmios, sabe. Meio contra a vontade, mas são.

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    Em sua segunda noite no Brasil, de volta ao quarto de hotel depois de inspecionar a ambulância sanguinolenta, Stefan acariciou mais uma vez o lenço de criança e recordou do lenço que pertenceu a seu avô assassinado no massacre da floresta de Katyn, na Polônia, em 1940. Uma relíquia de família. Quando a tragédia aconteceu ele ainda não tinha nascido, mas a conhecia por meio da história tantas vezes contada por sua avó.

    Stefan depositou o lenço rosa sobre o criado-mudo e tragou com força o baseado. Era bem razoável, o garoto que lhe vendera no posto de gasolina em frente ao hotel não mentiu. A maconha brasileira era mesmo muito boa, pena que o presidente brasileiro não fosse o presidente uruguaio e o Brasil não fosse o Uruguai. A América do Sul poderia ser bem aprazível, mas não chegava a tanto. Parecia apenas um lugar confuso.

    O telefone tocou uma, duas vezes. Stefan atendeu, considerando que talvez fosse seu chefe. Não era.
    — Oi, vó. Como vai?

    Era sua avó, que morrera fazia alguns anos. De início Stefan se assustava com aqueles telefonemas. Depois se acostumou e até começou a gostar deles. O mais misterioso de tudo aquilo era que sua avó sempre tinha uma história para contar a respeito de um objeto similar ao que Stefan carregava no bolso na ocasião. Se ele carregasse um lenço que tivesse encontrado num cenário de crime, por exemplo, ela contaria algo sobre algum outro lenço. Se fosse um isqueiro, contaria sobre um isqueiro. Desta vez ela queria contar de novo a história da morte do marido. Sempre acontecia quando Stefan fumava um baseado. Em certas circunstâncias, acontecia mesmo sem que ele fumasse. Esta era a grande qualidade de Stefan: ele falava com sua avó.

    Ela então começou sua história. A avó de Stefan viajara a Smolensk ao encontro dos pais um dia antes do marido dela ser preso em Kozelsk, muitos anos atrás. Hitler tinha acabado de invadir a Polônia. O avô de Stefan era oficial do exército polonês. O exército soviético executou vinte e dois mil soldados poloneses nas florestas ao redor de Katyn.

    Teu avô era um desses soldados, Stefan.
    — Eu sei, vó.

    Pois ainda mais interessante é a história do lenço do teu avô, de como o lenço dele sobreviveu e chegou até nossa casa. Não contei essa, contei? É claro que os moradores da região que conseguiram sobreviver sabiam em segredo do massacre, embora os soviéticos ainda não o tivessem assumido. Quando em 1943 os alemães descobriram a cova com aqueles milhares de corpos, quiseram provar a culpa dos stalinistas. Levaram esses médicos açougueiros que fazem autópsia de tudo quanto é canto da Europa a Katyn, mas também levaram os polacos que ainda sobreviviam na região, caçando ratazana. Era o caso do teu tio Witold, que foi preso enquanto fazia as necessidades atrás de uma moita. Os soviéticos precisavam de todo tipo de testemunho, inclusive o de um mentiroso que nem teu tio Witold. Aquela foi a pior noite da vida dele, e olha que ele teve muitas noites ruins, principalmente quando bebia demais na taverna do Piotr em Gnezdovo. Os nazis amarraram teu tio num tronco de carvalho e começaram a tirar cadáveres de dentro da vala enorme. Ninguém podia afirmar que o pobre Witold não tinha um estômago privilegiado, mas com certeza não servia para aquilo. Depois de assistir à exumação de centenas de corpos, ele desmaiou, só acordando horas depois. Desconfio que Witold tinha bebido antes de se enfiar naquela moita do bosque de Katyn, Stefan, isso era bem do teu tio, que Deus o preserve além do álcool. Ainda hoje eu e ele discutíamos os malefícios da bebida, daí lembrei que ele não bebe mais. Mortos são abstêmios, sabe. Meio contra a vontade, mas são. Bem, o fato é que os soldados da Gestapo cuidaram muito bem dele aquela noite, pois necessitavam do seu depoimento pra apoiar a propaganda que fariam contra os comunistas.

    — É melhor ir direto ao assunto, vó Zofia.
    Calma, meu filho. Os nazis puseram Witold numa barraca com outros desgraçados pra que ele se recuperasse. No meio da noite, teu tio conseguiu se esgueirar para fora da lona e escapuliu só de cuecas. Era inverno, e a temperatura estava abaixo de zero. Por sorte não nevava, Stefan, senão ele não teria conseguido. Conforme corria, o bosque se aprofundava e a temperatura caía. Foi então que Witold tropeçou, dando com a cara numa touceira de espinhos. Quando se levantou, percebeu que tropeçara num cadáver. A cara do morto estava toda desfigurada, mas não seu uniforme de oficial do exército polonês. Witold não titubeou e arrancou a túnica do homem. No final da manhã seguinte, conseguiu chegar a Gnezdovo, onde o velho Piotr o escondeu num lugar que ele deve ter adorado, principalmente depois de quase ter congelado: a adega. Foi lá, sob a luz de uma vela, que teu tio encontrou o lenço num bolso fechado da gandola. Estava intacto, sem uma só mancha de sangue ou de bolor. Ainda trazia o nome do teu avô Henryk que eu mesma cerzi com estas mãos que a terra não comeu nem nunca há de comer.

    — Fico arrepiado toda vez que ouço essa história — disse Stefan. — Vó Zofia? Vó?

    A ligação morreu. Os telefonemas dela costumavam terminar daquela maneira abrupta. Stefan se recostou no travesseiro e observou o lenço rosa dobrado sobre o criado-mudo, iluminado pela luz do abajur. Também estava intacto. Carolayne. Quem teria cerzido aquele nome? O bagulho não era tão bom quanto ele pensou. O barato tinha passado totalmente, deixando uma tremenda enxaqueca no lugar. No espelho do teto, Stefan percebeu que sua pele tinha queimado. Seu corpo estava vermelho e a cueca era branca: lembrava a bandeira da Polônia. Suas sardas começaram a arder, ardiam muito, pareciam em vias de irromper em chamas.

     

    7
    Ao chegar à mansão do Morumbi na manhã do segundo dia de trabalho, Brayan se deparou com uma ambulância estacionada no terreno da obra. O velho Caçamba não comparecera ao local, e o negro de terno continuava a acariciar a coronha de sua automática por debaixo do paletó e a ouvir estática em volume altíssimo em seus fones de ouvido. Os outros pedreiros faziam seu serviço no mais inquebrantável silêncio, interrompido apenas pelos gemidos de esforço ao carregarem pedras.

    Um pouco antes de sair de casa, Brayan ajudou sua mulher a passar Vick Vaporub no peito febril da menina e segurou-a enquanto ela tossia em cima da panela com água quente na qual fazia inalação. Tinha dúvidas se aqueles tratamentos surtiriam algum efeito, ou se apenas fariam Carolayne vomitar ainda mais. Daquela vez a quantidade de sangue que ela botou para fora tinha sido assustadora. Ele precisava fazer alguma coisa.

    Brayan observou o pátio onde construíam a piscina: para que serviria uma ambulância em um canteiro de obras?

    O negro de terno olhou para Brayan com o dedo indicador diante dos lábios e sorriu. A cor de seus dentes era idêntica à do branco de seus olhos, enquanto o rosto ficou mais e mais negro, desaparecendo como uma sombra no escuro do corredor. Brayan podia ouvir o barulho ensurdecedor de estática saindo de seus fones de ouvido. Um sopro gelado zuniu do interior da casa, erguendo com força um redemoinho de poeira de cimento e areia pelo terreno. Encolhidos por causa do frio da ventania, os outros pedreiros testemunharam Brayan alcançar a pá mais próxima, e o viram rodá-la com violência, atingindo a têmpora do negro de terno. Depois de vê-lo estirado no chão, Brayan ouviu o barulho de estática vindo dos fones de ouvido oscilar e desaparecer. Então foi até a ambulância e sentou ao volante. A chave estava no contato.

    — Alguém quer carona pra casa? — piscou aos outros. — Só vou oferecer uma vez.

    Com capricho de chinês, o secretário desenhou 30% com espaguetes frios e molengas sobre o tampão da mesa. Stefan admirou seu talento. Devia ter investido na carreira artística, e não se tornado um mafioso disfarçado de político religioso.

    8
    ‘Stefan Czarniecki’, falou a voz feminina que saiu da porta entreaberta. A pronúncia do sobrenome estava incorreta. Mas, como não devia haver mais Stefans por ali, Stefan Czarniecki atendeu, seguindo a secretária magra que rebolava suavemente a sua frente. Ela girou outra maçaneta e indicou que ele deveria entrar. Parados como se fossem batentes da porta, dois gigantescos negros de terno e braços cruzados lembravam eunucos, só que sem seus abanadores. Eram novos tempos, havia um ventilador no teto. Mas a estática que Stefan ouviu não vinha do ventilador, e sim dos fones de ouvido dos seguranças.

    Esparramado numa poltrona, encontrava-se o homem fardado que Stefan vira na foto do lado de fora. Usava um terno caro, e o paletó estava dependurado na cadeira ao lado. Não era possível ver seu rosto, quase inteiramente mergulhado numa caixa de papelão em forma de cubo de onde escorriam grossos espaguetes que respingavam molho de tomate sobre a mesa. Erguendo os hashis bem alto e, chacoalhando o relógio de ouro, o homem sinalizou para Stefan sentar na poltrona diante da escrivaninha. Sobre o tampão havia uma Bíblia. O ex-militar agora era pastor evangélico, além de secretário da Saúde. Era, em suma, responsável pela boa manutenção do espírito e também do corpo de seus cidadãos.

    — Buon dia — disse Stefan, meio em dúvida se o cumprimento certo seria ‘buenos días‘.

    O secretário palitou os dentes, estufou a barriga, retirou o babador da gola da camisa e acendeu um charuto. Logo atrás de sua cabeleira engomada com Gumex uma placa indicava que era proibido fumar.
    — Ah, bom dia — disse o secretário. — WTF, né? Deixa eu ver a nova planilha do seguro. Foi pra isso que veio, né? Vamulá, vamulá.

    Stefan estendeu suas planilhas sobre a mesa, manchando-as um pouco de molho de tomate.
    — Cento e setenta embulências menas um, que o polícia arrestou porr crrime — disse Stefan. — A senhorr sabe, o chacina.
    — Hein? Não sei de nada — disse o secretário. — Parabéns, o senhor fala português muito bem. Também entende de figuras? Aqui, vou desenhar com macarrão.

    Com capricho de chinês, o secretário desenhou 30% com espaguetes frios e molengas sobre o tampão da mesa. Stefan admirou seu talento. Devia ter investido na carreira artística, e não se tornado um mafioso disfarçado de político religioso.
    — É muita.
    — É isso ou não tem negócio. Tem uma penca de corretoras de seguro aí fora querendo essas ambulâncias. Pode mandar falar isso pro alemão.
    — É muita. Non possa fecharr. Precisa falarr com Munique.
    Munique pra mim é nome de travesti. Dou um dia pro alemão resolver — disse o secretário. — Vai nessa, que Deus te leve. Tá abençoado, pode vazar.

    Stefan foi conduzido até a saída pela secretária do homem. Quando a porta se abriu, a mulher de mãos dadas à criança que antes aguardava na fila parara de chorar e estava em pé no meio do corredor, à espera de Stefan. Ela esticou a palma da mão aberta à frente e pediu para ver aquele lenço rosa que ele guardara no bolso momentos antes.

    O maior problema de Stefan Czarniecki sempre foi sua completa falta de foco. Era enviado para solucionar um determinado problema, não conseguia, e acabava resolvendo outro que não tinha nada a ver com a história.

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    Quando Brayan brecou a ambulância na rua abaixo da ladeira onde vivia, sua mulher já tinha recebido um torpedo dizendo pra levar Carolayne até a esquina, e ela obedeceu. Os pedreiros, uns quinze, talvez vinte homens, desceram da ambulância e tiraram a menina com suavidade dos braços da mãe, que teve tempo apenas para entregar o lenço rosa a Brayan pela janela do motorista. Sem saberem, aquele lenço passado de mão em mão celebrava sua despedida. Então o carro partiu em disparada pela descida pavimentada apenas com pedrinhas soltas, dobrando a esquina seguinte e deslizando a toda a velocidade até o asfalto fervente da avenida Giovanni Gronchi e de lá ao Hospital Infantil da rua Seraphico Prado. Encarapitados na parte traseira da ambulância, aqueles homens toscos e de couro envelhecido pelo trabalho ao sol foram reduzidos ao tamanho de crianças. No centro, Carolayne adotou ares de princesa, deitada na maca e abraçada à sua mochilinha cor-de-rosa. Espremidos ombro a ombro, os pedreiros riam seus risos sem dentes e contavam histórias aos berros, gargalhando nas curvas bruscas dadas por Brayan. Era como um passeio de ônibus escolar nas férias, quem sabe uma excursão até a praia ou mesmo uma feliz visita ao parque de diversões. Acendiam as luzes dos painéis e aparelhos médicos, brincavam com a máscara de oxigênio e davam uns nos outros pequenos choques com o desfibrilador, que apenas lhes causava cócegas em seus poderosos tórax de operários da construção civil. Brayan ligou a sirene, afastando automóveis do caminho, cujos motoristas admiravam a cena inédita, aqueles miseráveis acenando da traseira da ambulância com muita balbúrdia. Espichada na maca, Carolayne sentia-se tão feliz que seu nariz deixara de escorrer e sua tosse cessou, por isso mesmo Brayan se esqueceu de lhe passar o lenço rosa que acabou caindo no banco e de lá foi empurrado pelo vento forte que entrava pelo para-brisa ao assoalho, onde foi encontrado na manhã seguinte por Stefan. Minha filha será atendida na hora, pensava Brayan enquanto pisava fundo no acelerador, as luzes piscando e a sirene no volume máximo, sem saber o que lhes aguardava ao dobrarem a próxima esquina.

    O secretário evangélico promoveu uma polêmica nos jornais em torno dos custos do exame: eram caros demais para serem desperdiçados com crimes corriqueiros e bandidagem

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    O maior problema de Stefan Czarniecki sempre foi sua completa falta de foco. Era enviado para solucionar um determinado problema, não conseguia, e acabava resolvendo outro que não tinha nada a ver com a história.

    Assim que comunicou ao chefe as condições exigidas pelo secretário para renovar a apólice e desligou o telefone, Stefan pôde enfim olhar para a mulher com o lenço rosa nas mãos. Ela o desdobrou, mostrando o nome cerzido: Carolayne.

    — Viu, está escrito o nome dela — a mulher disse. — Minha filha, minha filhinha. Seu pai sumiu, ela também. Não voltaram para casa.
    — Encontrrei no embulência do crrrime, estava na chón.
    A mulher abraçou sua única filha e voltou a chorar.

     

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    Na manhã seguinte, a perícia obteve mais detalhes sobre a chacina da ambulância: rostos esfacelados, digitais queimadas, todos os dentes foram arrancados, não havia como descobrir suas identidades. Equivaliam a 1132 quilos de hambúrguer cru. Quando terminaram de separar os cadáveres, descobriram um corpo de menina entre os homens. Souberam que era uma criança por causa do tamanho e da ausência de pelos pubianos. Também encontraram uma mochila escolar. No interior da mochila havia um dente de leite. O exame de DNA do dente de leite indicou que pertencia a Carolayne. O secretário evangélico promoveu uma polêmica nos jornais em torno dos custos do exame: eram caros demais para serem desperdiçados com crimes corriqueiros e bandidagem. A vida do brasileiro não fazia parte de um seriado de TV norte-americano, ele disse. Como os pedreiros não tinham papéis nem histórico médico, foram sepultados como indigentes. A igreja a que pertenciam não se esforçou para recuperar nem mesmo suas almas.

    A WTF Assurances não aprovou a renovação da apólice. Na mesma tarde, depois da reunião com Stefan, a faxineira da prefeitura desfez os números lindamente desenhados com espaguete no tampão da escrivaninha do secretário. Trinta por cento foram para o lixo.

    No ônibus a caminho do aeroporto, Stefan viu uma ambulância com a sirene ligada furar o engarrafamento. Em São Paulo era a única forma de evitá-lo, somente carros de polícia, bombeiros e ambulâncias conseguiam circular com alguma eficiência na imensa malha viária repleta de carros parados. Aquela cidade era o maior estacionamento que Stefan Czarniecki já vira. Nenhum carro se movia. De repente a sirene da ambulância foi desligada e ela diminuiu a velocidade. A luz de alerta do teto parou de piscar. Para o paciente que era transportado, não havia mais pressa. Ambulâncias são veículos que às vezes falam sem querer, ele pensou.

    O celular tocou a música de abertura dos Simpsons. Como o visor dizia bloqueado, Stefan pensou que fosse seu chefe. Mas não era.
    — Oi, vó.

    Ela não costumava ligar para seu celular, então o assunto devia ser urgente. Ela perguntou onde Stefan guardava o lenço de seu finado avô.

    — Na mesma gaveta onde guardo meu fumo, er, meu tabaco.
    A velha iniciou uma longa peroração acerca dos males do tabagismo.
    Não fossem os nazis terem chegado antes, e o tabaco teria acabado com teu avô. Aquele imprestável do Witold ainda fuma, não entendo como permitem, logo aqui, ela disse, e começou a tossir.

    — Por que aquela ambulância estava numa construção, vó Zofia?

    Depois de mais algumas tossidas misturadas a estática, a velha contou que a ambulância estava sendo usada para transportar o material necessário para a construção da piscina. O dono da piscina tinha pressa, muita pressa, e assim evitava o engarrafamento de São Paulo. Era um homem terrível, ela disse, e naquele exato instante o secretário se esticou em sua cadeira e imaginou que mergulhava pela primeira vez em sua piscina em forma de bunda.

    O ônibus entrou num túnel e o sinal do celular morreu. Stefan fechou os olhos e sentiu o sol dos cegos aquecer as sardas de seu braço. Percebeu que se abrisse a boca e falasse o que sentia, acabaria ateando fogo às cortinas do ônibus.

    Ao chegar ao aeroporto, descobriu que seu voo estava duas horas atrasado. Na fila do embarque, fechou os olhos um instante. Já era noite, mas a luz solar permanecia acesa detrás de suas pálpebras. Preferia não ficar nem mais um minuto naquele lugar.”

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