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Agro Global

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Análises exclusivas sobre agronegócio, comércio e sustentabilidade pelo professor Marcos Jank e equipe do centro "Insper Agro Global" e convidados.

Exportações brasileiras do agronegócio vão superar US$ 100 bilhões em 2020

Entenda os fatores que explicam esse ótimo resultado em ano de pandemia e recessão global.

Por Marco Guimarães, Cinthia Cabral da Costa e Marcos Jank (*)
Atualizado em 25 mar 2021, 22h19 - Publicado em 14 dez 2020, 21h33

Ao completarmos um ano do primeiro caso de Covid-19 em Wuhan, que gerou recessão no Brasil e no mundo, o agronegócio brasileiro se apresenta como exemplo de resiliência e produtividade, ao garantir o abastecimento doméstico e assumir um papel cada vez mais importante na segurança alimentar do mundo emergente.

Uma projeção do Insper Agro Global mostra que as exportações do agronegócio brasileiro devem chegar a US$ 100,4 bilhões em 2020, com um crescimento de 3,5% em relação à 2019. Os embarques deste ano devem menores apenas do que o valor observado em 2018 (US$ 101,3 bilhões), que foi o maior valor da série histórica.

O bom desempenho do agronegócio brasileiro pode ser explicado por fatores como o impacto da desvalorização do real, a resiliência da cadeia logística e de suprimentos do agro, a maior demanda chinesa em função da crise de peste suína africana (PSA) naquele país e o surpreendente aumento de demanda por alimentos na maioria dos países emergentes e em desenvolvimento.

A desvalorização do real frente ao dólar, que chegou a alcançar 45% esse ano, aumentou a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

O melhor funcionamento da cadeia logística deve-se aos investimentos que permitiram a consolidação de grandes corredores logísticos intermodais que ligam o centro-oeste (principalmente o Mato Grosso) ao porto de Santos por ferrovias e em direção ao Arco do Norte, por rodovias e hidrovias.

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A soja, principal produto exportado pelo Brasil, deve atingir embarques próximos a US$ 35 bilhões em 2020. Tal número pode ser explicado pela recuperação do rebanho suíno na China após a PSA devastar mais de 40% do rebanho. Essa rápida recuperação deve-se também à mudança no modelo de produção de suínos naquele país, com a troca forçada da produção de “fundo de quintal” por fazendas com produção fechada e controlada, de alta tecnologia. Está mudança levará a um aumento da demanda por soja e milho importados nos próximos anos.

Já no mercado de carnes, os impactos imediatos da PSA na demanda asiática por proteína animal, a abertura de quase 100 novos mercados para produtos do agro (novos países, novos produtos e habilitações de plantas agroindustriais) na gestão da Ministra Tereza Cristina e sua equipe contribuíram fortemente para o bom desempenho das exportações brasileiras deste produto. Considerando as três carnes (bovina, frango e suína), estima-se que 2020 atinja valores próximos a US$ 16,5 bilhões, um crescimento de 4% quando comparado com 2019. Estima-se um crescimento nas carnes bovina e suína de 13% e 42%, respectivamente, ambas atingindo o recorde histórico de valor exportado. Já no caso da carne de frango, infelizmente, observamos um recuo de 15% nas exportações em relação à 2019.

A exportação sucroenergética apresentará um fabuloso crescimento de 63% em relação à 2019, e deve se aproximar da marca de US$ 10 bilhões em 2020 (mas abaixo do recorde histórico de US$ 16 bilhões em 2011). Contribuiu para esse crescimento uma safra de cana-de-açúcar mais “açucareira”, estimulada pela redução no consumo de etanol durante a pandemia e pela maior demanda asiática após a quebra da safra da Tailândia.

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(./.)

Em relação aos destinos das exportações, a China e Hong Kong, que são os nossos principais parceiros desde 2013, foram os maiores responsáveis pelo crescimento dos embarques. Estima-se que o crescimento em 2020 será próximo de 9% em relação à 2019, atingindo US$ 36 bilhões em valor exportado (36% do total).

Também merece destaque pelo forte crescimento das exportações brasileiras, em relação a 2019, o Sudeste Asiático (+30%), o Sul da Ásia (+32%) e a África Subsaariana (+14%). Para a União Europeia, segundo maior destino, estima-se ligeira redução em relação à 2019, com embarques próximos a US$ 16,4 bilhões. A maior redução estimada entre os parceiros comerciais do Brasil em 2020 é para Japão e Coréia do Sul (Leste da Ásia exceto China e Hong Kong), que caem cerca de 10%.

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O aumento na demanda de alimentos para segurança alimentar devido à incerteza provocada pela pandemia pode ter provocado o crescimento nas exportações para alguns destinos. Verificou-se que os meses de abril a julho, período de pico da pandemia, foram os que tiveram os maiores crescimentos nos valores exportados em relação aos valores observados nestes mesmos meses em anos anteriores, inclusive de 2018 que teve o recorde histórico.

Finalmente, cabe destacar que o crescimento das exportações para China-HK, ASEAN e Sul da Ásia reitera a importância dos países asiáticos no comércio do agronegócio brasileiro, que cresceram 13% em relação a 2019, ao passo que as exportações para os países desenvolvidos caíram 4%. A pandemia mostra com clareza o papel do Brasil no suprimento de commodities dos países emergentes do Hemisfério Oriental, puxado pelo crescimento populacional, de renda per capita e urbanização desta região do planeta.

(*) Sobre os Autores:

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Marco Guimarães é bacharel em Administração pela ESALQ/USP e pesquisador do Insper Agro Global.

Cinthia Cabral da Costa é doutora em Economia pela ESALQ/USP e Pesquisadora da EMBRAPA Instrumentação.

Marcos Sawaya Jank é professor de agronegócio global do Insper.

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