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Alberto Carlos Almeida

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Opinião política baseada em fatos

Bolsonaro continua sendo menosprezado

O Presidente representa a mentalidade dominante quanto ao fatalismo diante da morte, por isso sua avaliação não piora no auge da pandemia

Por Alberto Carlos Almeida 14 dez 2020, 16h38

Bolsonaro em 2018 e Trump em 2016 foram menosprezados pela maioria das pessoas que têm valores universais e que compartilham os ideias de justiça e cidadania. Ambos chegaram à presidência falando barbaridades: frases racistas, machistas e homofóbicas, além de defenderem tratar de forma agressiva seus opositores. A simbologia que gravitava em torno dos dois levou a grande maioria dos analistas, justamente por terem valores muito diferentes, a considerar que não venceriam. O preconceito em relação a Bolsonaro e Trump, ao que eles representavam, contaminou a análise acerca de suas chances de vitória. Algo semelhante também aconteceu no plebiscito do Brexit.

Hoje, no Brasil, o menosprezo à capacidade de Bolsonaro representar a maioria dos brasileiros continua. Muitos afirmam que ele venceu por causa do antipetismo. Quem faz isso desconsidera os méritos de Bolsonaro e prevê que, no caso de um segundo turno em 2022 com um candidato do PT, ele será reeleito. Se apenas o antipetismo tivesse o condão de eleger Bolsonaro as coisas estariam resolvidas. Bastaria que um opositor não petista do Presidente passasse a atuar desde já atacando sem cessar o PT que ele começaria a retirar votos que hoje são de Bolsonaro. Todos sabem que muitos já tentaram este caminho sem sucesso.

É esse menosprezo que faz com que as pessoas não entendam porque na recente pesquisa do Datafolha apenas 8% dos brasileiros consideram Bolsonaro o principal culpado pelas mortes por Covid. Ele sabe representar a mentalidade fatalista do brasileiro. A grande maioria de nossa população acha que Deus controla parte do futuro, por outro lado, é pequena a proporção de quem acha que não há destino algum nas mãos de Deus. Vemos a predominância desta mentalidade toda vez que alguém comenta a morte de um amigo ou conhecido que já havia escapado de uma situação perigosa: “morreu porque tinha chegado a hora dele”.

Quando o Presidente afirmou que todos iriam morrer mesmo, ele nada mais fez do que representar a mentalidade fatalista do Brasil, ele representou o povo. Nós, pessoas com superior completo e razoavelmente céticas quanto ao destino nas mãos de Deus, achamos que a ação individual humana pode deter a escalada de mortes causadas por um vírus. Porém, vale registar o raciocínio de alguém que tem a visão oposta à nossa, ela pensa mais ou menos assim: “doenças e vírus irão surgir de tempos em tempos, e muitas pessoas acabam morrendo por causa disso. Se elas morrem, é porque chegou a hora ou porque não se cuidaram, ou simplesmente deram azar”. Ainda poderia ser adicionado nesta forma de pensar o vírus como punição divina pelo desregramento social.

Bolsonaro empolgou e foi eleito em 2018 não apenas por causa de um fator negativo, o antipetismo, mas certamente por conta de elementos positivos que o tornam próximo do povo. Bolsonaro conhece intuitivamente o seu país, e o representa – ao menos uma fatia considerável dele – quando age e fala da maneira que já conhecemos. Tudo isso continua nos escandalizando, porém, seria adequado que não mais alimentasse nosso menosprezo em relação a sua força eleitoral. Foi porque deixou de menosprezar Trump que o Partido Democrata o derrotou em 2020.

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