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Opinião política baseada em fatos

Bolsonaro e Moro, jogadores de damas, contra os enxadristas do Centrão

Os profissionais da política deixaram Bolsonaro cair em uma armadilha chamada presidencialismo de coalizão. Demorou, mas ocorreu

Por Alberto Carlos Almeida 23 abr 2020, 15h07

Bolsonaro e Sérgio Moro foram socializados na crença de que o indivíduo enfrenta e derrota as instituições. Isso até pode acontecer, mas não é a regra. É possível que Sérgio Moro até hoje acredite que foi ele quem condenou e prendeu Lula, e que isso foi possível sem a decisiva colaboração de nossas instituições judiciárias inquisitoriais. Ledo engano de Moro. Bolsonaro tem todos os motivos para crer que ele venceu a eleição presidencial de 2018 sem o auxilio do sistema político, que permissivamente possibilitou sua candidatura, não servindo de filtro de qualidade do que é ofertado ao eleitorado nas corridas presidenciais. Sem essa decisiva colaboração das instituições não teríamos Bolsonaro como presidente.

Uma vez empossado Bolsonaro acreditou ser possível enfrentar e derrotar o presidencialismo de coalizão, esta instituição brasileira que permite ao presidente governar sim, desde que faça alianças e ceda ao Poder Legislativo. Quando seu super-ministro Sérgio Moro aceitou o desafio de chefiar a pasta da justiça, muitos externaram a visão de que ele seria duro em relação à corrupção política. Para efeito de apoio da opinião pública e de imagem, Sérgio Moro sempre foi útil a Bolsonaro. Porém, agora entraram em conflito a busca por uma imagem de “nova política”, com a necessidade de ceder ao Centrão para que o risco de impeachment fosse afastado de uma vez por todas.

Sérgio Moro vem sendo útil para Bolsonaro desde a campanha eleitoral até agora. Pode ser, todavia, que daqui para frente, diante da crise política deflagrada pela insistência de Bolsonaro em ir contra os protocolos de combate ao coronavírus, o Centrão se torne muito mais útil do que Sérgio Moro. Política exige paciência e bons jogadores de xadrez sabem a hora de fazer os principais movimentos. O Centrão esperou quase um ano e meio para que Bolsonaro fosse engolido pelo presidencialismo de coalizão. Não sei que peça do tabuleiro é Sérgio Moro, se um bispo ou um cavalo, mas o fato é que está exposto e pode ser comido a qualquer momento.

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