Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Alberto Carlos Almeida

Por Alberto Carlos Almeida Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Opinião política baseada em fatos

Impeachment de Bolsonaro: uma questão recorrente

Retirar Bolsonaro sem o devido e necessário desgaste abriria o risco de seu retorno triunfal

Por Alberto Carlos Almeida 17 dez 2020, 15h54

De tempos em tempos há discussões em todas as mídias acerca do impeachment de Bolsonaro. Quanto a isso, é sempre importante separar o desejável do viável. Ainda que seja – para alguns grupos políticos – desejável a deposição do atual Presidente, ela está muito longe de ser viável. Não se entorta ferro nem se faz impeachment a frio, é preciso de quentura, muita quentura. No caso de um afastamento isto significa aprovação ótimo/bom de 10%. Dilma só sofreu o impeachment depois de 12 meses com a avaliação neste patamar, combinado com manifestações de rua e perda de apoio parlamentar. No Brasil de hoje nenhuma dessas condições existem.

A propósito, desde que tomou posse Bolsonaro nunca teve uma base parlamentar tão ampla como a de agora. Ademais, os políticos que a formam têm nas mãos a situação dos sonhos: um governo fraco e sem agenda. Ou seja, não há da parte deles o menor interesse em depor o Presidente. Encerra-se aqui o argumento acerca da viabilidade do afastamento de Bolsonaro.

De uma perspectiva partidária e até mesmo individual é fácil explicar a desejabilidade do impeachment: aqueles que não se sentem nem um pouco representados por Bolsonaro gostariam que ele saísse antes da eleição de 2022. Argumentos não faltam: ele é um genocida, não tem nenhuma proposta para o país, ignora os principais problemas da população, não segue a liturgia do cargo, mente deslavadamente, é um desagregador, está devastando o meio-ambiente, nutre péssimas relações internacionais, etc. Confesso que concordo com todos estes argumentos e admito que fico perto de, ao pensar neles, cair na tentação de também defender o impeachment. Não o faço por considerar os motivos contrários.

O primeiro deles é o respeito ao voto. Desde a eleição de Collor tivemos cinco presidentes eleitos e oito mandatos contando com Bolsonaro, destes, dois presidentes tiveram seus mandatos abortados. É fácil respeitar os resultados das urnas quando tudo vai bem, o grande desafio é aceitar e tolerar os governos ruins ou péssimos. Quanto a isso, Fernando Henrique conheceu por um breve período avaliação de 10% de ótimo/bom, no mandato do não-eleito Temer a regra foi este baixo nível de aprovação. O Brasil já demonstrou, portanto, que é capaz de conviver com governos muito ruins. Eleição é coisa séria. Desrespeitar o resultado das urnas implica em cair no círculo vicioso de deslegitimação do voto. Quem tem ativos de longo prazo depositados no Brasil, como família e filhos, não quer isso.

O segundo argumento contrário diz respeito ao aprendizado democrático. Realizar impeachments sucessivos seria sinônimo de cassar o direito que a maioria do eleitorado tem de errar e, eventualmente, corrigir seus equívocos. Empresas, universidades, partidos, instituições e sociedades aprendem por meio da tentativa e erro. Afastar presidentes sofríveis é o mesmo que tutelar o povo. É como se fosse possível para um grupo partidarizado da sociedade, contrário ao governo de plantão, afirmar que chegou a hora de seu fim. Aceitar a democracia é admitir que sua instituição central é o voto, e para que ele se aperfeiçoe as pessoas precisam ter a chance de manter ou retirar aquele que venceu a eleição anterior.

Continua após a publicidade

Por fim, um impeachment só é realizado de maneira sustentável a quente, jamais a frio. Para que o presidente deposto não corra o risco de voltar pelos braços do povo ele precisa ser figurativamente escorraçado de seu cargo. Isso só é possível após um longo e profundo desgaste. Collor demorou muito tempo para voltar ao Senado, Dilma foi rejeitada pelo eleitorado de Minas Gerais em 2018. Retirar Bolsonaro sem o devido e necessário desgaste abriria o risco de seu retorno triunfal, misturando ao seu autoritarismo e despreparo já conhecidos, um ressentimento tão grande quanto perigoso.

O fumante troca pequenos prazeres no curto prazo por um provável grande desprazer no longo prazo: o risco de doenças graves que o torne debilitado ou mesmo abreviem sua vida. O impeachment de Bolsonaro seria assim: um prazer no curto prazo em troca de prováveis grandes problemas políticos no longo prazo. Nunca fumei e não será hoje com começarei a fazê-lo.

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.