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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

Abominável mundo novo

A onda generalizada de receios associada às ações do trumpismo

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 21 mar 2025, 13h13 - Publicado em 21 mar 2025, 06h00

As últimas semanas testemunharam mudanças dramáticas no mercado financeiro. Enquanto escrevo, o índice acionário S&P 500 acumula queda de 8%, o Nasdaq — que segue mais de perto as ações de tecnologia —, nada menos do que 11%. O dólar, que chegara próximo à paridade com o euro, perdeu cerca de 6% de seu valor ante a moeda europeia.

São reflexos de receios associados aos efeitos da nova política econômica americana sobre a atividade e a inflação, especialmente a definição de tarifas sobre importações. Já era sabido que sua elevação teria efeitos negativos sobre os preços, não apenas dos produtos importados pelos Estados Unidos, mas também daqueles produzidos localmente, pois as empresas passariam a ter a oportunidade de cobrar mais caro dos clientes. Aqui, “clientes” refere-se tanto a consumidores de produtos finais, como àqueles que compram insumos importados (por exemplo, aço ou alumínio) necessários ao processo produtivo, fenômeno familiar no Brasil, mas notavelmente ausente dos EUA durante décadas. O resultado é aceleração da inflação e perda da competitividade das empresas que usam insumos importados, mas o problema consegue ser, na verdade, ainda mais grave.

As idas e vindas de Trump sobre tarifas, assim como a falta de clareza quanto ao que pretende acerca de variáveis cruciais (dólar forte para seguir como moeda de reserva, ou fraco para melhorar os resultados da balança comercial?), implicaram forte aumento da incerteza, que alcança muito além dos mercados financeiros. Como deverão ser organizadas as cadeias produtivas, que hoje se espalham mundo afora? Como ficam as decisões de investimento à luz da interferência governamental que presumivelmente estimulará algumas atividades em detrimento de outras?

“As instituições que guiaram o mundo no pós-guerra ameaçam ruir e, com elas, nosso poder de previsão”

A incerteza não se limita à política econômica; ela afeta também a geopolítica, devido ao retraimento americano na esfera global, bem como o seu posicionamento indefensável face a aliados históricos, como exemplificado pelo caso do Canadá. As consequências serão severas. Do ponto de vista econômico, aumentou em muito o risco de recessão, ou, pelo menos, o de forte desaceleração do crescimento sem, porém, alívio no que se refere à inflação.

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Não temos ainda, é bom que se diga, dados mais sólidos sobre os efeitos dessas políticas. Acabaram de ser adotadas e não houve tempo ainda para que possamos observá-los em números como emprego ou produto. Indicadores de confiança, todavia, seja de consumidores, seja de empresas, já caíram fortemente em fevereiro e março, enquanto expectativas de inflação começaram a subir, conforme capturado recentemente pela Universidade de Michigan.

O mercado de renda fixa, também sensível às mudanças de humor, que há cerca de um mês apostava em apenas uma queda da taxa básica de juros em 2025 (em julho), agora prevê de duas a três, com início em junho, fenômeno que ajuda a entender a desvalorização inesperada do dólar.

As instituições que guiaram o mundo no pós-guerra ameaçam ruir e, com elas, muito da nossa capacidade de entendimento e previsão sobre o que nos espera. É, sem dúvida, um mundo novo, mas os mares nunca dantes navegados escondem mais riscos do que conseguimos compreender.

Publicado em VEJA de 21 de março de 2025, edição nº 2936

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