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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

Erros que se repetem

A fala de Haddad sugere que a meta de inflação é mais alta

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 21 fev 2025, 11h36 - Publicado em 21 fev 2025, 06h00

Segundo o ministro Fernando Haddad, a inflação de 4% a 5% está “relativamente” dentro da normalidade para o Plano Real. A afirmação, como de hábito, está entre o capcioso e o equivocado e sinaliza problemas para a inflação futura, em particular para a já machucada credibilidade do Banco Central.

De fato, a inflação média de 1995 a 2024 atingiu 6,7% ao ano (ou 6,4%, contando apenas o período em que vigora o regime de metas), o que faria parecer que a inflação entre 4% e 5% seria “normal”. A afirmativa, contudo, omite que a meta de inflação hoje (definida, aliás, pelo Conselho Monetário Nacional, presidido pelo próprio ministro da Fazenda) é de 3%, menos da metade das médias acima. A definição desse patamar e sua redução paulatina desde 2018 revelam o desconforto do país com o nível de 4,5%, que vigorou de 2005 a 2018. Antes, portanto, de a inflação superar o teto do intervalo de tolerância da meta, o próprio governo sinalizava buscar níveis mais baixos. Depois do fiasco, claro, as uvas ficaram verdes.

Ao mesmo tempo, ao normalizar a inflação ao redor do limite superior de tolerância, o ministro sinaliza ao público que o governo não leva a meta a sério. A mesma postura, diga-se, transparece em pronunciamento do ministro Wellington Dias: “Se a meta era 4,5% e fechamos em 4,8%, ficamos praticamente na meta, né?”. A resposta, a propósito, é: “Não, ministro. Ficamos 1,8 ponto percentual acima dela”. À medida que cresce a percepção (correta) de que o teto é na verdade a meta (repetindo a experiência fracassada de Alexandre Tombini), passa a ser natural que as pessoas esperem, no mínimo, 4,5% e, mais provavelmente, algo acima disso. Não deve, então, nos surpreender que as expectativas da pesquisa Focus para 2025 superem 5,5% e que para os demais anos sejam revistas para cima.

“Agentes públicos repisam as velhas teses toda vez que suas políticas econômicas saem dos trilhos”

Todavia, quanto mais elevada for a inflação esperada, tanto maior tende a ser a inflação. Se o próprio governo parece satisfeito com inflação de 4,5%, por que razão mesmo empresas e trabalhadores se contentariam com reajustes inferiores? Pelo mesmo motivo, o repasse do dólar tende a aumentar. Nesse contexto, a desaceleração da atividade requerida para trazer a inflação de volta à meta torna-se ainda mais severa, ou seja, é necessário elevar mais a taxa de juros do que seria o caso se as expectativas estivessem em torno dela.

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Aliás, é também por isso que a proposta de aumentar a meta, que reaparece sempre que o governo tem dificuldades nessa frente, tem tudo para dar com os burros n’água. Com uma agravante: ao renegar publicamente seu compromisso com determinada taxa de inflação, o governo aumentaria também a incerteza acerca de sua nova promessa.

Ao cabo de tudo, tenho que confessar que não é a primeira vez que escrevo este artigo. As palavras podem ser algo diferentes, mas os argumentos são os mesmos que tenho usado mais vezes do que gostaria de lembrar. Quero acreditar que não se trata de falta de originalidade, mas de diferentes agentes públicos que, com irritante previsibilidade, repisam as mesmas velhas teses toda vez que suas políticas econômicas saem dos trilhos, por seus próprios deméritos.

Eu bem que gostaria de apontar erros novos, mas, no Brasil, temos que nos contentar com os antigos.

Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932

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