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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

O déficit gêmeo

A piora das contas externas resulta do estímulo ao consumo

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 19 set 2025, 16h46 - Publicado em 19 set 2025, 06h00

Não temos prestado a atenção devida às contas externas brasileiras, talvez até por bons motivos. Os riscos de crise de balanço de pagamentos, comuns no passado, são baixos, seja porque o real flutua com relação às demais moedas, evitando portanto episódios de sobrevalorização, que encarecem nossas exportações, seja porque o BC acumulou reservas que nos ajudam a enfrentar as intempéries.

A ausência de crises, contudo, não elimina o aspecto informativo das transações internacionais do país. O déficit externo, que ao final de 2023 alcançara 28 bilhões de dólares, equivalente a 1,3% do PIB, atingiu 75 bilhões nos doze meses encerrados em julho deste ano, ou 3,5% do PIB, patamar que não visitávamos desde o final de 2015. Nesse período, a elevação do déficit foi a maior desde 2010.

Isso resultou principalmente da piora de desempenho da balança comercial, cujo saldo encolheu de 99 bilhões de dólares para 63 bilhões. O notável no caso é que as exportações não saíram do lugar; foi o crescimento das importações o responsável pelo acontecido. Mais informativo, tal processo se originou basicamente do aumento das importações de produtos manufaturados. Por que tal padrão?

Não é possível botar a culpa no suspeito de sempre, um dólar presumivelmente muito barato. Ajustado aos preços de hoje, o dólar custava 5,38 reais na média de 2023; nos doze meses até julho, o dólar custou em média 5,76 reais, desenvolvimento que deveria elevar a competitividade da indústria nacional.

A origem do fenômeno está ligada ao esgotamento da capacidade ociosa da indústria. A utilização de capacidade, que oscilava em torno de 80% ao longo de 2023, hoje se encontra pouco abaixo de 85%, similar aos patamares observados entre 2010 e 2014, quando o déficit externo também era bem elevado, superando 90 bilhões de dólares/ano em média.

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“O crescimento não é limitado por falta de demanda, mas por investimento baixo e falta de produtividade”

A política de estímulo à demanda, principalmente pelo aumento da transferência de renda a famílias (Previdência, Bolsa Família, BPC etc.), elevou o consumo mais rapidamente do que a capacidade produtiva em geral, mas da indústria em particular.

Como serviços em geral não podem ser importados, a expansão do consumo requer aumento da produção local. Já no que se refere à indústria, parcela do consumo pode ser satisfeita pelo aumento de importações, como observado, principalmente se — como é o caso no Brasil — a disponibilidade de mão de obra se reduz.

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Nessas circunstâncias, esperaríamos aumento do emprego mais forte no segmento de serviços, cujo produto precisa crescer, do que na indústria, onde importações podem suprir a demanda interna. E é precisamente isso que observamos, seja em termos absolutos (cerca de quatro vezes mais postos criados no setor de serviços), seja em termos proporcionais.

Dito de outra forma, a expansão do déficit externo reflete principalmente o crescimento da demanda interna à frente da expansão da capacidade produtiva em geral e da indústria em particular. O mesmo processo que levou à aceleração da inflação também se manifesta nas contas externas.

Isso não significa que enfrentaremos uma crise do balanço de pagamentos, mas indica que o limite ao crescimento econômico não vem da falta de demanda, mas sim do baixo investimento e do inexistente aumento da produtividade.

Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962

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